Madrugada fria, cama quente um resfriado intenso pra me incomodar
O que incomoda é a grande arma contra tudo o que acomoda
Mas dessa vez não foi a gripe o incomodo que me vomitou da cama
Quais são as melhores coisas do mundo?
Não pretendo chegar naquele ponto essencial na filosofia de Camus
Mas já posso ao menos aceitar essa ideia como uma saída válida
O bigodudo alemão me diz que não é a saída mais inteligente
Mas ainda assim, uma saída. De emergência?
Sim, sempre há um tom dramático em minhas palavras
Talvez eu nem seja o poeta que projeto em mim mesmo
Mas ao menos posso me sentir ator...
Minha trágica mente silenciando, é sintoma de uma dor sem fim
Minha trágica mente conceituando idéias de segunda categoria,
Só uma tentativa de remediar a dor...
Chega uma hora que a morfina não faz mais efeito ante a um câncer
Assim também sucedeu com meus conceitos.
Me entregar a dor não foi uma questão filosófica
Foi total falta de opção finda a eficácia dos remédios.
Migalhas pra um estômago faminto...
Assim me pareceram os remédios quando a dor se agravou
Mas quando o fim parecia iminente e a inércia era o único caminho possível
A própria dor, tal qual uma quimioterapia intelectual
Começou a atenuar a si mesma...
Dor e tumor foram deixando de rimar aqui dentro de mim
Ela atacando, ele sumindo e numa harmonia de fim de música sem final
Foram diminuindo a intensidade até silenciar...
Pausa
É aqui que estou no grande disco compacto da vida...
O que vem agora?
Talvez eu possa até escolher uma faixa.
Apertar a tecla de embaralhar...
Mas o fato é que estou preso ao meu próprio disco...
Quantas músicas ainda existem?
Não vou embaralhar!
Quero a próxima canção como uma carta ordenada numa paciência
Sou curinga, olho do alto e entendo sozinho o jogo todo
Quero o caos em meio a ordem que eu ditar
Olhos abertos
Morte
Dor
Remédio
Câncer
Música
Ordem
Caos
Faz sentido?
Pouco importa. Sobrevivi, e estou mais forte
Encarei e zombei da morte
Vês? acima e abaixo rimando...
Só uma trágica mente falando...
Espaço destinado ao "Sim"... Ao "devir", ao riso e a entrega total ao tempo... Venha a dor, venha o prazer, venha a vida em sua plenitude... Tudo que é podre e morto, não será bem-vindo. Afastem-se, pois é só para vivos, só para loucos...
sexta-feira, 25 de maio de 2012
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Conceitos de Segunda #14 (Final)
“Perdido
seja para nós aquele dia em que não se dançou nem uma vez! E falsa seja para
nós toda a verdade que não tenha sido acompanhada por uma gargalhada!” (Friedrich
Nietzsche)
Mais
uma vez levei o meu filho Luiz Miguel ao Show do Teatro Mágico lá no teatro
Marista, no feriado do ultimo dia primeiro. Tivemos (eu a Ligia e o LM) o
prazer das companhias do Mateus e depois da Cinthia.
Esse ano era diferente. A motivação para ir ao show era, sobretudo, pra acompanhar o pequeno fã incansável da trupe. Acho que nas pancadas da vida surgidas nos últimos meses, deixei meu constante estado de encantamento com o mundo e sua magia, se esvair... Fato é que eu não ansiava pelo show, como nas outras vezes.
Esse ano era diferente. A motivação para ir ao show era, sobretudo, pra acompanhar o pequeno fã incansável da trupe. Acho que nas pancadas da vida surgidas nos últimos meses, deixei meu constante estado de encantamento com o mundo e sua magia, se esvair... Fato é que eu não ansiava pelo show, como nas outras vezes.
Um desencontro
de informações e a grosseria do pessoal na bilheteria por conta de multas decorrentes do Kg de alimento (não informado no ingresso) geraram certo mal estar. O
Luiz Miguel ficou assustado de ver sua mãe barrada na bilheteria, sendo
obrigada a ir pra outra fila pagar uma multa pra poder entrar. Não quero entrar
no mérito da crítica aos responsáveis locais pelo evento, mas esse incidente
diminuiu mais ainda meu animo para ver o espetáculo.
Logo,
entretanto, na primeira música, deixei de lado o baixo astral, e passei a
curtir aquela oportunidade rara que se desenrolava ante aos meus olhos. Aquele
espetáculo, “desculpa pra celebrar a vida” (não um show, segundo o Fernando),
que estava com a trupe incompleta, trazia, no entanto, novidades incríveis no
repertório, e nos próprios músicos. O novo baixista (claro que eu iria reparar
muito no baixo) me agradou muito mais que o anterior. Mesmo sem a percussão do
Willians Marques neste show, a banda me pareceu muito mais entrosada e versátil
do que nas ultimas apresentações aqui em Londrina.
Mas o
que mais me chamou a atenção no palco, foi a graciosidade de movimentos e
expressão mágica da Déinha nas vezes que ela aparecia. Impossível não pensar na
divindade dançante do Zaratustra de Nietzsche. O Toicinho deu um show à parte
também. Credito ao palhaço e a bailarina o elo de coesão que liga o caos da “Sociedade
do Espetáculo” a magia da “Entrada para Raros”. Impossível não lembrar de
Hermann Hesse e seu “Teatro mágico só para iniciados, só para loucos”. Num mundo
(sobretudo no meu contexto particular) onde tudo parece se diluir instantaneamente
diante dos olhos, cheguei a pensar que também “O Teatro Mágico” não tinha mais
a velha essência de fazer as pessoas se saberem raras. Cheguei a pensar que até
a trupe do mundo mágico de “OZasco” tinha se diluído em meio as padronizações
da indústria cultural, que move a nossa pobre e doente sociedade do espetáculo.
Me enganei! As gravatas que ornamentam a cintura do bufão, longe de enforcá-lo
no pescoço, dançam a cada movimento seu, mantendo vivo o espírito transgressor,
experimental, rebelde, que reza a máxima de “não acomodar com o que incomoda”.
Sabendo
da ansiedade do Luiz Miguel por tirar (mais) uma foto com o Fernando Anitelli,
pensei em fazer um pequeno sensacionalismo pelas redes sociais, a respeito do
problema de saúde dele, pra conseguir mais facilmente a foto, que é sempre
muito batalhada. Como isso não combina nada comigo, mesmo achando justo,
abandonei a ideia. Confiei que o Fernando, mais uma vez, apareceria pra atender
os fãs. Nem sei se ele apareceu depois, mas o fato é que infelizmente não podíamos
esperar mais, afinal o Luiz Miguel só pode ir ao show porque o médico
autorizou, mas havia alguns cuidados e restrições a serem observadas. Estava frio,
então, desistimos de esperar pela aparição “Palhaço Mágico”, e fomos embora.
Mas
mesmo assim, aquela noite foi mágica, e é claro que trouxemos uma foto. O Luiz
Miguel quis vê-la de perto. A estrela dançante do espetáculo, responsável por transmitir
uma energia espetacular aos privilegiados ali presentes, com muito carinho
atendia e conversava com todos. Ela foi além daquilo que víamos no palco. Ela não
sabia, mas depois de usar os braços em números incríveis, numa demonstração de
força, técnica e intensidade, usou-os para segurar no seu colo uma criança frágil,
porém com criatividade/inteligência muito fortes. O garoto especial que a vida
me confiou. O menino de saúde frágil por conta da rara “Anemia de Fanconi”, que
espera por um transplante de Medula Óssea pra recuperar parte de sua força,
ganhou uma força a mais pra manter suas forças e garantir sua sobrevivência
nesse momento difícil.
Obrigado
a toda trupe do Teatro Mágico. Apresentação com referencias literárias,
poéticas, filosóficas, cheia de elementos de circo teatro e dança, é coisa rara!
Em um país que consome hoje, em larga escala, um lixo musical totalmente
desprovido de referências é um imenso privilégio tê-los todo ano aqui na
Londrina dos universitários sertanejos. Sua musica dá esperanças de que
poderemos sair dessa lama que emporcalha nossa cultura e forma uma geração
estúpida, fraca e indiferente a tudo o que os rodeia.
Deixo
um agradecimento especial a Déinha Lamego, a encantadora garota da foto abaixo
com o Luiz Miguel:
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