sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Vida, Promessa e Loucura.

Tudo isso por causa de um time de futebol?
Perdeu o juízo?
Sabia que você pode morrer no caminho?
Isso é loucura!!!
Mas deixe eu te contar um segredo, os loucos são as melhores pessoas!
Escrever aqui não é uma forma de me justificar, pois tudo está muito claro pra mim. Mas tentar traduzir todos os sentimentos que me trouxeram ate aqui, pode ser uma maneira de incentivar a mim mesmo na guerra particular que vivo em cada batalha de 24 horas e uns quebradinhos a bordo deste planetinha errante e ilhado em meio a um imenso e absurdo espaço vazio...
Pra entender o porquê de eu estar partindo pra Bauru de bicicleta às 3:33 da madrugada vindoura, seria preciso contar toda uma história de mais de 10 mil anos, mas voltemos apenas quatro, ao ano de 2011.
Era meu aniversário, o que, no meu calendário particular, chamo de “dia do Curinga”. Já estavam armadas as comemorações. Havia sido um ano mágico. Eu tinha cumprido todos os créditos do mestrado em história social e só me restaria escrever uma dissertação inovadora – um texto que citava músicas em mp3, sem as letras. A primeira dissertação da UEL que seria entregue em formato digital. Além do mestrado, a inspiração extravasava. Criei este blog pra canalizar os pensamentos e sentimentos em poesia e prosa...
Mas nem tudo foram flores naquele ano tão primaveril. O meu filho Luiz Miguel, com seis anos incompletos, estava com uma gripe forte e incessante havia uma semana. Fomos ao hospital pela manhã e, o final do dia, que seria em um churrasco, acabou na UTI do hospital evangélico. Depois de viver dias dramáticos e cheios de suspeitas (primeiro de gripe, depois de dengue hemorrágica, e por ultimo leucemia), ele foi diagnosticado com uma doença genética rara – Anemia de Fanconi. A Medula Óssea estava em processo de falência e seria necessário encontrar um doador compatível para que ele fizesse um transplante em Curitiba.
Em meio ao caos e a angustia, minha vida quase paralisou em 2012. Só consegui escrever minha dissertação de mestrado graças a compreensão e apoio do meu orientador e amigo Gabriel Giannattasio. Mas um projeto foi colocado em prática. O Luiz Miguel foi comigo em quase todos os jogos do Londrina na divisão de acesso do Paranaense no ano anterior. Com alguns amigos de uma velha banda, tínhamos a intensão de gravar o Hino do LEC em versão de Rock, comemorando o acesso. Já que não tínhamos um doador compatível pro Luiz Miguel e ele era totalmente compatível com a paixão pelo Londrina e o Rock and Roll, criamos a banda Medula Óssea (esta 100% compatível com ele).
Mas aquele ano foi duro. Íamos a Curitiba a cada dois meses. A imunidade dele estava tão baixa que foi proibido de frequentar a escola e qualquer lugar fechado. Ficaria quase que um prisioneiro em casa. Era preciso encontrar uma motivação. O Estádio do Café, enorme e (felizmente neste caso específico) com pouco público, era um local que ele podia frequentar. Bastava ocupar um local onde não houvesse pessoas ao redor. Pra diminuir a tensão em ter que ir tomar agulhadas em Curitiba, mostrei pra ele que o Estádio do nosso rival Coritiba era vizinho do hospital, e o nosso time, vez ou outra, também tinha que encarar difíceis jogos ali, “fora de casa”.
Assim as coisas foram se encaixando... O time era metáfora para a vida. Não fomos tão bem em 2012, mas estávamos de volta! E qual não foi a alegria do Luiz Miguel (e minha) quando ouviu a Medula Óssea dele tocando no som do estádio? Mas aquele ano conturbado me fez perder as estribeiras no difícil dia do meu aniversário. Saí pedalando igual a um louco embaixo de uma tempestade, sem preparo e ferramentas em direção à casa de meu pai, em Bauru. Desisti em Sertanopolis, quando o corpo percebeu que seria impossível percorrer os 300 km...
Em 2013 as coisas seriam bem melhores! O Luiz Miguel teve uma melhora nos exames e, mesmo sem doador ainda, poderia voltar a conviver com os amiguinhos na escola. O nosso time fazia grandes jogos no estadual e, as vésperas do jogo que definiria o “campeão do primeiro turno”, diante do Coritiba aqui, “em casa”, meu irmão (baterista da Medula Óssea) encontrou o Técnico Claudio Tencati e pediu pro Luiz Miguel entrar em campo com seu jogador preferido, o goleiro Danilo. O Bruno Maffi, que trabalha na TV Tarobá, presenciou o pedido e a receptividade e boa vontade do nosso querido treinador. Assim conseguiram armar uma surpresa pro Luiz Miguel, o goleiro Danilo apareceria em um ensaio da banda Medula Óssea, daria uma camisa pra ele e ele entraria em campo com seu ídolo. Que dia feliz!



Mas o Londrina perdeu. A arbitragem jogou contra a gente. Mas a grande lição veio da torcida – 30 mil pessoas gritando “É Tubarão”, mesmo depois da derrota. A vida é assim, Luiz Miguel – não podemos desanimar com as derrotas. Aquele ano guardaria uma outra derrota amarga, em Caxias do Sul, pela série D do brasileirão.
No final do ano gravamos uma outra versão de hino do Londrina, desta vez um Blues pra “Bandeira do Meu Coração”. O Luiz Miguel foi o mascote-torcedor no clipe que gravamos no litoral norte de São Paulo:


O nosso time continuava sendo motivo de inspiração pro pequeno garoto. Mas vencer um campeonato estadual, depois de 22 anos, contra times da capital que tem muito mais dinheiro e estrutura era uma missão quase impossível. Mas o nosso hino já diz que o clube, pra nós, é maior que títulos “o que importa é o ideal de vitória, pois para nós tu serás sempre campeão”. Mas esta coisa do ideal era complicado quando se pensava na doença dele. Um “ideal de cura” não o devolverá a possibilidade de poder jogar bola e fazer educação física normalmente na escola. E por isso torci... O Londrina ser campeão, seria a motivação que estamparia a máxima da música do Charlie Brow Jr. Que diz que “o impossível é só questão de opinião. E disso os loucos sabem, só os loucos sabem...”! Na verdade, antes mesmo do título, no jogo dos 4 a 1 contra o Atlético-PR, o impossível já se oferecia para nós...
Um pouco de loucura, muito de determinação e um grito que explodia em Maringá. Ele viu da TV, pois era um espaço muito perigoso pra ele. Mas nos fomos, empurramos e levamos a bandeira da “Medula Óssea”.


Este ano começou difícil. Em Curitiba os médicos, que testavam (até hoje) uma medicação alternativa para poder adiar o transplante, diziam que não haveria um doador pra ele. O transplante deveria ser feito com uma medula metade compatível com a dele, a minha...
Caraca! Agora era eu o portador do liquido que poderá salvar sua vida. Ainda que seja um tratamento bem mais difícil do que seria com um doador 100% compatível, era um caminho, uma hipótese para a cura. Decidi que iria me cuidar. Passei a pedalar todos os dias. Os aplicativos de bicicleta pra celular me faziam sempre desafiar a mim mesmo. Foi em um tour de bike até o pedágio de Jataizinho com os amigos Juliano Casonatto e Márcio Silveira que, ainda em abril, fiz a promessa: “Se o Londrina subir pra série B do brasileirão, eu vou pra Bauru de bike”.
Os loucos sabem... Os loucos me entenderão... Quando Luizão (um Luiz – quem diria?), camisa 3, fez o gol do acesso, a minha viagem estava marcada. As pessoas ao meu redor, sobretudo o Luiz Miguel, ao fim daquele memorável jogo contra o Confiança-SE gritavam “Vai pra Bauru... Vai pra Bauru...”.
Amem!
 (foto/reprodução - RPC TV)

Decidi que partiria logo depois de completar 33 anos (foi ontem). Em um ano que superamos a terceira divisão nacional, um ano em que voltei aos blogs e à poesia em um “clã de 3 pessoas”, um ano de 3 mil motivos pra lembrar que a vida é curta e que, “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”... São tantos “3”, que decidi partir às 3:33 desta madrugada...
Não vou pensando nos riscos. Vou porque estou vivo! Vou porque quero superar a mim mesmo! Vou pra agradecer pelo time de futebol da nossa cidade, do nosso bairro, que vive nos dando motivos pra nunca desistir, vive nos mostrando que, pra nós, os loucos, não existe o impossível!
Obrigado Londrina Esporte Clube!
Obrigado Luiz Miguel e Clara (a irmã que canta todas as musicas da Falange Azul), vocês são a maior lição de vida e alegria que eu poderia ter!



Obrigado a todos vocês que chegaram ao fim deste longo texto e agora torcem por nós também!
Quanto a promessa, não garanto que eu a conclua (como sempre diz o Tencati, não dá pra prometer vitória, mas sim vontade) neste fim de semana. Mas será a primeira tentativa! Até o início da série B 2016, certamente conseguirei! Mas estou confiante... O universo (e até a grama do VGD) parece conspirar a favor...
Vamos pra Cima Tubarão!!!