sábado, 24 de novembro de 2012

Chuvoso

Do calor de cada centímetro do meu corpo
Formaram-se nuvens de chuva na cabeça
Um temporal então me escorreu pelos olhos
Minha alma, liquefeita, deparou-se com o frio
A dor forjada na brasa que, do nada, se esfriou
De repente, congelado, já não era mais eu
Já passou...
Mas não passou...
Sigo chuvoso!
O verão continua invencível só na mente
Minha mente que [trágica] mente o calor
Mas que importância tem tudo isso?
Tanto calor! 
Tanto frio! 
Nada demais...


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Ana Cecília

Minha prima quero chamar de Ana
Disse meu filho maluco
Santa Cecília a rua em que nasceu
Cecília protetora dos músicos

Ana Cecília vai chegar amanhã
Junto com Sagitário
Dia de Santa Cecília amanhã
Ultimo ano do calendário

Se os Maias acertarem, já vai valer
Por ter Ana Cecília entre nós
Um mês menos um dia já vão bastar
Pra ter dias alegres a sorrir...

Dia dos músicos vai ser amanhã
O baterista vai ficar agitado
Vai se empolgar fazer papel do cantor
E vai chorar a tia do rosário

Medula Óssea logo vai se encaixar
Sangue novo, rock nos ossos
Luiz Miguel, a Clara e o Caio a brincar
Com a mais nova que vem chegando

Ana Cecília seu tio vai ver
Seu pai tendo o amor que eu senti
Mamãe te segurando junto ao coração
Teu choro fará a gente sorrir



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Consciência Humana

Sou descendente e membro de uma raça que foi escravizada por pares seus
Sou descendente e membro de uma raça que amou e matou em nome de Deus
Sou descendente e membro de uma raça que dizimou todas as raças semelhantes
Sou descendente e membro de uma raça de alguns sedentários e outros viajantes
Sou descendente e membro de uma raça que se adaptou aos climas pelo mundo
Sou descendente e membro de uma raça com puros guerreiros e santos imundos
Sou descendente e membro de uma raça com escravos eslavos e tiranos africanos
Sou descendente e membro de uma raça que se entende "judeu", "índio", "italiano"...
Sou descendente e membro de uma raça que viveu no Congo, na China, na Inglaterra...
Sou descendente e membro da única raça de hominídeos que ainda vive na face da terra

Não sou como os cachorros que convivem pacificamente com os pares seus
Meu povo massacrou todas as raças que se assemelhavam e não conviveu
Agora que não tem mais a quem atacar, inventaram que não somos uma só raça
Mas eu que cultivo uma consciência humana, começo a entender o que se passa
Querem aproveitar nossas adaptações climáticas pra nos dividir por cores
Mas eu jamais vou cair nessa, sei muito bem o que querem esses senhores
“Senhores” da minha raça, que querem manter seu poder, seu "Estado"!
Sou da mesma e única RAÇA HUMANA, e ainda querem me ver dominado...

Esquerda: Amarante de souza Brandão, Raça Humana, filho de um agricultor português com uma filha de descendentes de africanos que foram escravizados na Bahia desde o século XVI. 
Direita: Mafalda Sperandio Brandão, Raça Humana, filha de um casal de imigrantes italianos que vieram para trabalhar em lavouras de café no interior de São Paulo no início do século XX.
Juntos tiveram três filhos, sendo o caçula meu pai.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Alegria, Avião e Infância

Quais são os ingredientes para uma tarde recheada de alegria?
Ontem, depois de um churrasco agradável com velhos amigos, veio a ideia de irmos até a praça que fica na cabeceira da pista do aeroporto. Estacionamos os carros em uma sombra na grama, jogamos a toalha e colocamos as guloseimas e bebidas... Poucos minutos passados aterrissou um avião dos grandes na pista. O pássaro metálico passa pouquíssimos metros acima de nós pra chegar na pista logo a frente. O Luiz Miguel, a criança no nosso meio, já ficou feliz instantaneamente... Claro, ele é criança e se impressiona com aviões. Nós - marmanjos - jamais pularíamos, ou acenaríamos pra aeronave, Certo? 
Errado! Ficávamos todos alegres a cada avião que chegava. Depois subimos num banco da praça (um doido subiu numa árvore) bem em frente ao local onde o avião faz a curva pra ligar as turbinas e pegar velocidade pro voo... O som aumenta, o avião entra em movimento e é possível ver a grama no barranco próximo a pista se agitar. Logo a força do vento agitado pelas turbinas chega até nós... Fantástico... Quando eu nasci, meus pais moravam ali no jardim Califórnia. Passei minha infância por ali, nos arredores do aeroporto de Londrina. Assim, a cada avião que pousava, pude sentir os sabores sentidos na minha infância novamente.

-Tchau avião!

Era o que eu e meu irmão dizíamos entre pulos e acenos do quintal da casa em que morávamos.  Foi a frase que repeti ontem mais de vinte anos depois... De casa víamos e ouvíamos os aviões que pareciam quase se chocar com as casas a cada pouso, além de sempre provocar protestos dos mais velhos que assistiam o programa Silvio Santos aos domingos. 
Não desprezo grandes eventos (como o Show do Paul McCartney que assisti em 2010 em São Paulo) como fonte pra sentir alegria. Mas devo admitir que, de coisas pequenas e simples, pode-se tirar grandiosos proveitos.
Mas o nosso domingo ia se acabando aos poucos. Apesar da incurável melancolia do Pôr-do-sol, lembrei que é possível amar, tal qual o Pequeno Príncipe, este momento mágico do dia.

A Lígia e o por-do-sol.

O sol foi timidamente se escondendo no seu horizonte, pintando pouco a pouco a noite no céu. O passar do tempo não tira a alegria vivida naquela tarde junto com pessoas que, além dos avós, tios e alguns outros poucos amigos, estiveram presentes na vida do Luiz Miguel nos momentos em que ele e nós mais precisamos.
Estas pessoas conseguiram driblar todo o grave problema de saúde do menino e fazer deste o mais legal dos anos de sua frágil vida. Se o Luiz Miguel não está na foto abaixo é porque ele, com seus olhinhos alegres, fotografou as pessoas que fazem parte do mágico mundo em que ele vive. 

Fotógrafo Luiz Miguel em ação


Estas pessoas conferem a ele um tesouro que nem todas as pessoas saudáveis tem... O tesouro da amizade, de quem se coloca a disposição sempre que é preciso, abrindo mão de suas preocupações afim de empenhar tempo e criatividade para vê-lo sorrir...
No fim daquela mesma noite, antes de dormir, a mágica tarde não pode escapar da memória do pequeno:
-Pai, desenha um avião pra mim?
Não lembra algum trecho do Pequeno Príncipe? Por sorte não precisei desenhar uma caixa pra ele ver um avião lá dentro... Desenhar um avião é muito complexo! Com a ajuda do “google imagens” e da impressora, fez-se o avião pra ele pintar:



Ele ainda não terminou, mas antes de dormir fez esta "baianada". hahaha.
Os rabiscos são por conta da Clara, mas ele disse que não tem problema...

"[...]
- Ah! disse eu ao principezinho, são bem bonitas as tuas lembranças, mas eu não consertei ainda meu avião, não tenho mais nada para beber, e eu seria feliz, também, se pudesse ir caminhando passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte! [...]
- O que torna belo o deserto, disse o principezinho, é que ele esconde um poço nalgum lugar. [...]
- Tenho sede dessa água, disse o principezinho. Dá-me de beber ...
E eu compreendi o que ele havia buscado!
Levantei-lhe o balde até a boca. Ele bebeu, de olhos fechados. Era doce como uma festa. Essa água era muito mais que um alimento. Nascera da caminhada sob as estrelas, do canto da roldana, do esforço do meu braço. Era boa para o coração, como um presente. [...]
- Os homens do teu planeta, disse o principezinho, cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim... e não encontram o que procuram ...
- Não encontram, respondi...
E no entanto o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa, ou num pouquinho d'água..." (Antoine de Saint-Exupéry - O Pequeno Príncipe)

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Coletânea Sorriso e Alma

OPERAÇÃO ALMA (Mário Quintana)

Há os que fazem materializações...
Grande coisa! Eu faço desmaterializações.
Subjetivação de objetos.
Inclusive sorrisos,
Como aquele que tu me deste um dia com o mais puro azul de teus olhos
E nunca mais nos vimos (Na verdade a gente nunca mais se vê...)
No entanto,
Há muito que ele faz parte de certos estados do céu,
De certos instantes de serena, inexplicável alegria,
Assim como um vôo sozinho põe um gesto de adeus na paisagem,
Como uma curva de caminho,
Anônima,
Torna-se às vezes a maior recordação de toda uma volta ao mundo!


SORRISO DA CLARA

QUEM ALÉM DE VOCÊ? (Leoni)

DO GRANDE ANSEIO (trecho)
“Ó minha alma, eu Compreendo o sorriso de tua melancolia: tua própria opulência estende agora mãos que anseiam!
Tua abundância lança o olhar sobre mares que estrondeiam, e busca espera; anseio da superabundância olha desde o Céu de teus olhos sorridentes!
E, em verdade, ó minha alma, quem veria teu sorriso e não se desfaria em lagrimas? Os próprios anjos se desfazem em lagrimas ante a superbondade do teu sorriso.
É tua bondade ou superbondade que não quer lamentar e Chorar: e, Contudo, ó minha alma, teu sorriso anseia por lagrimas, e tua boca trêmula, por soluções.
‘Todo Choro não é um lamento? E todo lamento não é uma acusação?’ Assim falas Contigo mesma, e por isso, ó minha alma, queres antes sorrir do que desafogar teu sofrimento. [...]” (Friedrich Nietzsche – Assim Falou Zaratustra, Terceira parte, pg. 146)

SORRISOS: LUIZ MIGUEL e RAUL SEIXAS


Viva e deixe morrer...

Eu que acredito ver tudo em constante mudança
Já não me incomodam palavras da voz da lembrança
Os meus “eu te amo” voltaram pro seu lado escuro
Dos teus não interpreto e nem julgo de cima do muro

Só guardo os sentidos de alguém que já foi muito amado
Escolheste ir embora e negar quem me foi no passado
Não te incomodes que aqui viva sempre ao meu lado
Aquela menina que foste e que em mim tem ficado...

Saudades do tempo em que a gente se harmonizava
Quando “amor”, “fogo” e “chão” só a gente rimava
Amor e amizade cresceram palavra em palavra

O tempo nos faz esperar por quem se cativou
Mas aquela voz impiedosa o que foi que falou?
Deixe morrer a menina que tu tanto amou...

Rafael Smith



sábado, 10 de novembro de 2012

10.11.12


Conta até dez, respira que a raiva passa!
Pensou a menina canhoteira
Não deu certo! Preciso contar até duzentos!
Então eu disse
Conte apenas mais dois!
Veja: A data de hoje é um sinal: 10.11.12
Há um ano era véspera do estático 11.11.11
Agora tem movimento!
Pena que me escapou o momento exato!
Passou despercebido o instante do infinito progresso mensurável:
10.11.12 13’14”15segundos16centésimos17milésimos...
Mais rápido que um piscar de olhos, foi-se o instante
A dízima periódica existiu em um período muito curto
Instante insuficiente para proferir uma única sílaba...
Mas... E aí? Passou?
A raiva?
Se não, pelo menos podes senti-la contra estas palavras
Mudar o foco da raiva talvez a enfraqueça...
Será melhor se tu conseguir sanar esta raiva garota canhoteira!
Amanhã tu completas outra volta ao redor do sol a bordo da terra!
Opa! Já passa da meia noite! Adentramos em 11.11.12...
Certo é que não serei o único canhoteiro a querer te ver desenhar no rosto o melhor dos seus sorrisos hoje...

Verão Verão?!

Silenciar nem sempre é atributo de mentes vazias
No silêncio do poeta se guardou palavras do dia-a-dia
Dias que não trouxeram nada de belo pra ser congelado
Às vezes no silêncio há espera pelo inacabado

Por mais que o poeta se cale, seus fantasmas berram
E assim evitando o verso triste as palavras esperam
Quantas rimas ocultas na mente que mente sua dor?
Quantos espinhos guardados num verso solto de amor?

O amor, a cor, a dor e o anuncio primo de que logo é verão
E o fim do mundo escrito grita e dita o que os olhos verão
Verão verão os olhos?
Verão verão os vivos!

Quem sobreviver ao fim do mundo verá
Assim que chegar ao fim toda primavera
Que deveras viram os vivos a vida em Vera

Ah, linda prima-vera que esconde em si o verão
Outono e inverno o mantém dentro do coração
A chama que chama a poesia não se apaga não...

“E no meio de um inverno eu finalmente aprendi que havia dentro de mim um verão invencível.” Albert Camus

P.S. Poema em resposta ao 4'33" da minha querida amiga Tim Gonçales, que, atendendo a um pedido meu, salvou um afogado...
P.P.S. Nossa discussão em torno do silêncio poético foi inspirada pelo texto "
Af(*)rça d(*) silênci(*) - 72" de Humberto Gessinger.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Torquato Neto há 40 Anos

"Terra, mar e atenção. O futuro é hoje, cabe na palma da mão..."

Há momentos em que a beleza e fascínio pela vida parecem tão evidentes, ficam tão a-flor-da-pele que o suicida parece ser o maior de todos os criminosos.
De repente, quando toda a rede de significação que nos mantém conectados às outras pessoas e ao mundo se desmancha feito algodão doce na boca, o suicida parece ser o mais sensato entre os homens.

Escolher a hora da partida, colocando um ponto final na própria vida no momento em que desejar, parece ser o maior entre todos os atos de coragem... Ao mesmo tempo, mudando só um pouquinho o ponto de vista, tragicamente observando, tal gesto pode parecer uma baita covardia... Seja qual for o ângulo, não deixa de ser um gesto sublime...

Há exatamente 40 anos, depois de comemorar seu vigésimo oitavo aniversário, o poeta Torquato Neto, o suicida exemplar (segundo Cesar Augusto de Carvalho), embarcava num disco pra bem longe do asterisco onde vivemos... Mas antes, um último poema:
"Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar".
O Thiago, único herdeiro do homem que sobrevoava e saboreava o universo a bordo de sua poesia, hoje tem 42 anos e é piloto de avião...


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Canção silenciosa

Quantos momentos divididos entre nós
Instantes de vida, fortuna que ousamos repartir
Frases, cores, ações e orações
Tudo junto em uma única canção

Lado a lado alguns momentos mais distantes
Tão distantes beijos frios em sol ardente
Frases, coisas que deixamos de fazer
São só pausas: do silêncio sai canção

Corações despreparados não entendem
As cabeças já formadas não toleram
Só os tolos poderão compreender

Minha história é verdadeira: sem verdades
Sou rebelde e sigo regres de soneto
Do silêncio sai canções que nunca esqueço


Rafael Smith - 02/04/2005