segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Amor à Sofia

Qual foi a cor herdada pelo céu depois da tempestade? Baunilha... Que cor é essa?
Aquele céu cor de baunilha não é o mesmo que se vê do décimo terceiro andar? 
O décimo terceiro andar não é o mesmo de onde se alimentam os cabos de energia da Matrix?
Matrix não mostra alguém que quer descer até o fundo no buraco do coelho pra conhecer o mundo real?
O buraco do coelho não é o mesmo por onde desceu Alice?
Alice não era uma garotinha curiosa como Sofia?
Sofia não queria subir até a ponta dos finos pelos do coelho para olhar nos olhos de um chapeleiro maluco que a tirava da cartola?
Esse maluco não era o náufrago solitário que deu vida a cartas de baralho que habitavam sua cabeça?
Entre estas cartas de baralho, não havia um curinga que anunciava a todas as outras cartas que deveria haver um criador?
Este criador não teria tido a sua morte [vinda pelas mãos de suas próprias criaturas] anunciada pelo curinga?
A morte de deus não foi anunciada pelo martelo de uma trágica filosofia?
Filosofia não vem do grego philos (φίλος) e sophia (σοφία)?
Filo a Sabedoria, Amor à Sofia...

  
Onde está Sofia?
Talvez esteja ouvindo um rock nos campos de morango, onde nada é real...
Vale a pena amar Sofia? Pergunta difícil...
Troco: Tem como não amar Sofia?
Acho que não! Mesmo se percebesse que ela é irreal... Que está morta [ainda que viva em mim]... 
Meu erro, às vezes, é esquecer que vale muito mais o amor que a fria realidade da sabedoria... 

"Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal..." (Nietzsche)

No país das maravilhas tem um gato! Tem também um prédio de 13 andares em meio aos campos de morango. De lá se pode observar o povoado. De lá se pode pular, livrando-se do medo da Matrix e das palavras do curinga...

Saia da Matrix... 

Abra os olhos!

De curinga pra curinga.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Início do Fim de 2012


Inicia-se agora o último dia do ano mais difícil da minha estrada.
A pergunta que fica no início do fim de 2012: "Meus bons amigos, onde estão?"
A falta de alguns de tão perto, e a surpresa da presença de uns tão distantes é incapaz de alterar a importância de qualquer um deles.
Afinal, cada um desses meus bons amigos nem tem a medida do "bem que fez pra mim assim, e assim me fez feliz, assim..."
Cada um, a sua maneira, acaba ficando...

"Existe um lugar onde ninguém pode tirar você de mim. Este lugar chama-se Pensamento...e nele, você me pertence!!" (Charles Chaplin)

Pertencimento sem posse...
Pertencemos um ao outro como a rosa ao princepezinho.
Se o amor é infinito, então ele nunca se basta e é incompleto.
Mas a distancia traz consigo o medo de que esse amor se feche, tornando-se assim imperfeito... Que seja!
Pouco importa a perfeição...
Amizades assim são completas (e porque não dizer perfeitas?) em cada segundo vivido
Pouco importa se aquele ultimo “tchau”, despretensioso, torne-se, de repente e definitivamente um adeus... "Nada vai conseguir mudar o que ficou..." (Legião Urbana)

Sem falsas promessas pra 2013, quero só desejar alegria a meus amigos! Mesmo que seja em meio à dor... Mesmo que se expulse todo o amor: "Tornar o amor real é expulsá-lo de você para que ele possa ser de alguém..." (Nando Reis)

Tragicamente falando, desejo com muito amor e carinho que cada um destes meus bons amigos, malditos ou inocentes, tenha força pra perseguir e alcançar os objetivos que trazem alegria ao seu coração... Mesmo que pra isso, o amor infinito que nos une torne-se completo e imperfeito...

Amor Fati a todos... Sem medo...

...ou não...


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Sonho – Fuga e Estrada

Na madrugada do dia em que completaria 30 anos, sonhei que eu ia embora de casa.
Uma troca de roupa, um pouco de dinheiro, lanche... Tudo dentro de sacolas plásticas antes de entrar na mochila. As sacolinhas impediriam a destruição do pequeno kit em meio à pesada chuva que caia.
Peguei minha bicicleta e mergulhei na fria chuva às 6 da manhã em direção à qualquer lugar... Saí sem dizer palavra a ninguém. Guardar segredos sempre foi meu forte, até que, dividir segredos para além de mim, não me trouxe boas experiências. No sonho eu voltava a ter um segredo só comigo mesmo!
A cabeça estava confusa e não sabia por que pedalava, nem pra onde iria, nem o que pretendia com a estranha fuga de casa. Talvez eu só quisesse seguir o conselho de Mário Quintana quando fala da verdadeira arte de viajar:

“A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo...”

Naquela viagem onírica, a subida em direção à saída dos limites da cidade, traçava o caminho que me levaria, tal qual criança pequena e amedrontada, aos braços de meu pai... As lágrimas nos olhos se misturavam às incessantes águas da chuva que me davam a impressão de estar molhado até os ossos... Antes de sair definitivamente de cidade, andei quase 500 metros em busca de um atalho, mas desisti e voltei à estrada principal... Quase um quilômetro a mais de pedalada! Não tinha importância, pois a principal viagem era através de mim mesmo.
A tristeza amargurante, que nem o [aero] porto mais alegre conseguiu despistar, poderia talvez ficar ali naquela estrada... A cada metro pedalado, debaixo daquela chuva, lágrimas e sorrisos se alternavam num percurso trágico em busca de [re]construir a mim mesmo...
Num portal turístico que nada tem de especial além da cobertura, me escondi da chuva por uns minutos e comi uma banana...
O que fazer?
Eu poderia voltar e fingir que nada tinha acontecido, ou podia seguir...
Segui.
Mas seguir pra onde?
A chuva só aumentava e eu pouco enxergava... Raios e trovões em meio à colinas me davam um cenário totalmente rústico e desprotegido, sem para-raios, entregue a todos os riscos do tempo e da estrada...
Um caminhão urrou tal qual um dinossauro atrás de mim... Olhar pra traz seria perda de tempo em meio a tanta água que caia. Só senti quando fui arrastado, paralisando todos os meus nervos...
Passado tudo, pude olhar para o chão e ver o corpo em pedaços na pista...
Visão terrível...
Depois de  quase ser levado pelo vento da carreta que descia em alta velocidade, ver aquele tatu em pedaços não foi a melhor das imagens pra se somar ao meu susto...
O mau tempo persistia, mas às vezes a chuva dava pequenas tréguas...
Pensava em me livrar de todas as recordações ruins pedalando até não suportar mais a dor e o cansaço... Ora, não disse no último poema que o fim do mundo é quando acaba a dor? A melhor maneira de acabar com a dor é leva-la ao seu limite máximo!
Mas pôr fim à dor, seria uma adesão aos caminhos decadentes do niilismo...
Não!
Poderia chegar perto do limite físico e, ao atravessar a divisa para o outro estado, descansar na primeira cidade, pra continuar no outro dia o caminho que levava ao abraço de meu pai no final da estrada...
Às dez da manhã completei quarenta e um quilômetros de pedalada. Exatamente metade do percurso que ia até a primeira cidade após a divisa da ponte sobre rio.

De repente, esqueci que era um filho carente e assustado. Me lembrei que era pai também. A vontade de dar um abraço no meu pai se converteu em vontade de abraçar meu filho, que, exatamente um ano antes, perdia aos poucos sua frágil vida no meu colo em uma fila de hospital.
Meu filho está vivo!
Os médicos o levaram à UTI naquele dia 17 de dezembro passado, e, logo depois do natal, ele voltou pra casa...
Eu precisava vê-lo! Me certificar de que, neste ano, ele não sofreria tanto quanto o ano anterior.
Voltei sem pressa.
Substituí as pedaladas por caminhadas empurrando a bicicleta em longas ladeiras...
Ao meio-dia, perto do portal turístico que me devolveria aos limites de minha cidade, parei pra comer todo o lanche da mochila...
A volta foi pesada! Se eu completasse os 82 (quase 83 com o desvio) quilômetros, teria completado também a viagem até o outro estado, caso tivesse seguido em frente... Uma imagem interessante... Se chegasse em casa, bateria meu recorde de distancia percorrida em um só dia , sem uso de combustíveis inflamáveis.
Às longas caminhadas rendiam aos poucos dores na região do incessante encontro entre as duas pernas quando se movem. O céu, vez por outra, apresentava seu infinito azul entre as nuvens de chuva que, aos poucos, ficavam cada vez menos densas. Embora ainda houvessem nuvens, o mormaço ia queimando a pele desprotegida a medida que a tarde ia avançando... A cada passo a dor... No fim de tudo o amor...
Aquela dolorosa e pesada caminhada, carregando meu veículo, valia a pena, afinal, “Somente os pensamentos que temos caminhando valem alguma coisa...” (Nietzsche).
Chegar, antes de garantir o abraço ao meu filho, que era o que eu mais queria, me demandaria explicações de coisas, sentimentos que eu nunca soube explicar... Eu simplesmente não sei...
Não consigo separar em minha mente sonho e realidade. Acho que, no fim das contas, tento transpor todos os meus sonhos pra realidade, pra ver se no meu  mundo a realidade possa ficar mais palpável. Mas quem poderia entender isso?
Há tempos que perdi a paciência com a razão, a moderação, o comprometimento... Há tempos que não entendo como as pessoas conseguem programar seus sentimentos e explica-los um a um dentro de limitados padrões de comportamento. Acho que, no fundo, as pessoas não sentem mais nada... 
talvez seja eu o único a ter enlouquecido mesmo...
Talvez ainda me falte a lucidez necessária pra retirar todos os átomos de alegria possíveis desta loucura e chutar pra longe a tristeza...
Mas tudo foi apenas um sonho...
Eu que nasci em 82, quase 83, se tivesse pedalado 82, quase 83 quilômetros num só dia, deixaria marcas de sol no meu rosto. Algum, entre meus amigos que vieram me cumprimentar pelo meu aniversário, certamente teria notado. Tivesse eu cometido a loucura de pedalar mais de 80 quilômetros sem qualquer plano, aviso e preparo físico, teria dado pouca atenção aos meus amigos e teria ido dormir com meu filho na hora que eles estivessem ainda aqui em casa...
Que bom que foi só um sonho... Tivesse eu feito esta viagem onírica, estaria sentindo até hoje valiosas dores no meu joelho esquerdo...


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Qual é o fim do mundo?

Talvez o fim do mundo seja o amor
Amor que se constrói junto à dor
Dor... Pode ser boa e trazer prazer
Ou então, terrível sensação de não poder
Na dor que vem e vai fica o amor
Prazer que vem e vai deixa o sabor
Mas o que é este amor que não se explica?
Eu não sei! Só sei que fica! Sempre fica...

Ouvi falar a voz de um sonho que ficou pra traz:
"Vai agora! Senão não te deixo ir embora nunca mais..."

Qual será o fim do mundo?
Bom pensar que seja o amor
Quando é o fim do mundo?
Logo que cessar a dor...





sábado, 8 de dezembro de 2012

Oito de Dezembro

Às vezes, o universo conspira, e a gente passa a viver um dia especial
Às vezes, o universo te pira, e tu tens que inventar sozinho o momento tal
Tem dias que lembranças das mais importantes tornam-se indiferentes
Tem vezes que um dia festivo veste-se de tristezas e rostos sorridentes

E o dia oito de dezembro como fica na memória?
Entre mortes e nascimentos se fez uma história:

Dia que interpretei erroneamente, não entendendo e matando as palavras
Dia em que tiraram a vida de John Lennon em covarde disparo de arma
Dia em que o Grêmio de Foot Ball Porto Alegrense mudou-se pra nova casa
Dia em que a Dalva nasceu, trazendo alegria pra todos onde ela habitava

As palavras mal ditas, nem ligo mais pra elas, morreram e foram tarde
A morte de John Lennon jamais matará sua música, viva na eternidade
O nascimento da Arena matará o Olímpico que ficará vivo na saudade
Os verdes olhos de Dalva se fecharam e eu contava doze anos de idade

Longe das mortes, nascimentos, palavras mal interpretadas... Longe de todo início e fim de caminhos, hoje eu caminhei com meu filho. Ele segurou na minha mão e não pediu mais nada em troca... Tá aí... dia especial... Sem piras nem conspirações:
A vida é assim: Partida, chegada, abraços de boas-vindas e de despedidas... Abro espaço pra mais uma ocasião especial a acontecer hoje: Mais uma vez vou me despedir de alguém de quem já me despedi outras vezes... Desta vez, sem melancolia... Este espírito itinerante, nunca destruiu nossa amizade e convivência, ao contrário, até nos aproximou mais... 
[Alô Curitiba! Tem sinal da Tim aí?]

Oito de Dezembro:

Nascimento da minha vó materna;
Morte de John Lennon;
Palavras mal entendidas;
[Hoje]
Inauguração da Arena do Grêmio;
Celebração de uma grande amizade...

sábado, 24 de novembro de 2012

Chuvoso

Do calor de cada centímetro do meu corpo
Formaram-se nuvens de chuva na cabeça
Um temporal então me escorreu pelos olhos
Minha alma, liquefeita, deparou-se com o frio
A dor forjada na brasa que, do nada, se esfriou
De repente, congelado, já não era mais eu
Já passou...
Mas não passou...
Sigo chuvoso!
O verão continua invencível só na mente
Minha mente que [trágica] mente o calor
Mas que importância tem tudo isso?
Tanto calor! 
Tanto frio! 
Nada demais...


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Ana Cecília

Minha prima quero chamar de Ana
Disse meu filho maluco
Santa Cecília a rua em que nasceu
Cecília protetora dos músicos

Ana Cecília vai chegar amanhã
Junto com Sagitário
Dia de Santa Cecília amanhã
Ultimo ano do calendário

Se os Maias acertarem, já vai valer
Por ter Ana Cecília entre nós
Um mês menos um dia já vão bastar
Pra ter dias alegres a sorrir...

Dia dos músicos vai ser amanhã
O baterista vai ficar agitado
Vai se empolgar fazer papel do cantor
E vai chorar a tia do rosário

Medula Óssea logo vai se encaixar
Sangue novo, rock nos ossos
Luiz Miguel, a Clara e o Caio a brincar
Com a mais nova que vem chegando

Ana Cecília seu tio vai ver
Seu pai tendo o amor que eu senti
Mamãe te segurando junto ao coração
Teu choro fará a gente sorrir



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Consciência Humana

Sou descendente e membro de uma raça que foi escravizada por pares seus
Sou descendente e membro de uma raça que amou e matou em nome de Deus
Sou descendente e membro de uma raça que dizimou todas as raças semelhantes
Sou descendente e membro de uma raça de alguns sedentários e outros viajantes
Sou descendente e membro de uma raça que se adaptou aos climas pelo mundo
Sou descendente e membro de uma raça com puros guerreiros e santos imundos
Sou descendente e membro de uma raça com escravos eslavos e tiranos africanos
Sou descendente e membro de uma raça que se entende "judeu", "índio", "italiano"...
Sou descendente e membro de uma raça que viveu no Congo, na China, na Inglaterra...
Sou descendente e membro da única raça de hominídeos que ainda vive na face da terra

Não sou como os cachorros que convivem pacificamente com os pares seus
Meu povo massacrou todas as raças que se assemelhavam e não conviveu
Agora que não tem mais a quem atacar, inventaram que não somos uma só raça
Mas eu que cultivo uma consciência humana, começo a entender o que se passa
Querem aproveitar nossas adaptações climáticas pra nos dividir por cores
Mas eu jamais vou cair nessa, sei muito bem o que querem esses senhores
“Senhores” da minha raça, que querem manter seu poder, seu "Estado"!
Sou da mesma e única RAÇA HUMANA, e ainda querem me ver dominado...

Esquerda: Amarante de souza Brandão, Raça Humana, filho de um agricultor português com uma filha de descendentes de africanos que foram escravizados na Bahia desde o século XVI. 
Direita: Mafalda Sperandio Brandão, Raça Humana, filha de um casal de imigrantes italianos que vieram para trabalhar em lavouras de café no interior de São Paulo no início do século XX.
Juntos tiveram três filhos, sendo o caçula meu pai.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Alegria, Avião e Infância

Quais são os ingredientes para uma tarde recheada de alegria?
Ontem, depois de um churrasco agradável com velhos amigos, veio a ideia de irmos até a praça que fica na cabeceira da pista do aeroporto. Estacionamos os carros em uma sombra na grama, jogamos a toalha e colocamos as guloseimas e bebidas... Poucos minutos passados aterrissou um avião dos grandes na pista. O pássaro metálico passa pouquíssimos metros acima de nós pra chegar na pista logo a frente. O Luiz Miguel, a criança no nosso meio, já ficou feliz instantaneamente... Claro, ele é criança e se impressiona com aviões. Nós - marmanjos - jamais pularíamos, ou acenaríamos pra aeronave, Certo? 
Errado! Ficávamos todos alegres a cada avião que chegava. Depois subimos num banco da praça (um doido subiu numa árvore) bem em frente ao local onde o avião faz a curva pra ligar as turbinas e pegar velocidade pro voo... O som aumenta, o avião entra em movimento e é possível ver a grama no barranco próximo a pista se agitar. Logo a força do vento agitado pelas turbinas chega até nós... Fantástico... Quando eu nasci, meus pais moravam ali no jardim Califórnia. Passei minha infância por ali, nos arredores do aeroporto de Londrina. Assim, a cada avião que pousava, pude sentir os sabores sentidos na minha infância novamente.

-Tchau avião!

Era o que eu e meu irmão dizíamos entre pulos e acenos do quintal da casa em que morávamos.  Foi a frase que repeti ontem mais de vinte anos depois... De casa víamos e ouvíamos os aviões que pareciam quase se chocar com as casas a cada pouso, além de sempre provocar protestos dos mais velhos que assistiam o programa Silvio Santos aos domingos. 
Não desprezo grandes eventos (como o Show do Paul McCartney que assisti em 2010 em São Paulo) como fonte pra sentir alegria. Mas devo admitir que, de coisas pequenas e simples, pode-se tirar grandiosos proveitos.
Mas o nosso domingo ia se acabando aos poucos. Apesar da incurável melancolia do Pôr-do-sol, lembrei que é possível amar, tal qual o Pequeno Príncipe, este momento mágico do dia.

A Lígia e o por-do-sol.

O sol foi timidamente se escondendo no seu horizonte, pintando pouco a pouco a noite no céu. O passar do tempo não tira a alegria vivida naquela tarde junto com pessoas que, além dos avós, tios e alguns outros poucos amigos, estiveram presentes na vida do Luiz Miguel nos momentos em que ele e nós mais precisamos.
Estas pessoas conseguiram driblar todo o grave problema de saúde do menino e fazer deste o mais legal dos anos de sua frágil vida. Se o Luiz Miguel não está na foto abaixo é porque ele, com seus olhinhos alegres, fotografou as pessoas que fazem parte do mágico mundo em que ele vive. 

Fotógrafo Luiz Miguel em ação


Estas pessoas conferem a ele um tesouro que nem todas as pessoas saudáveis tem... O tesouro da amizade, de quem se coloca a disposição sempre que é preciso, abrindo mão de suas preocupações afim de empenhar tempo e criatividade para vê-lo sorrir...
No fim daquela mesma noite, antes de dormir, a mágica tarde não pode escapar da memória do pequeno:
-Pai, desenha um avião pra mim?
Não lembra algum trecho do Pequeno Príncipe? Por sorte não precisei desenhar uma caixa pra ele ver um avião lá dentro... Desenhar um avião é muito complexo! Com a ajuda do “google imagens” e da impressora, fez-se o avião pra ele pintar:



Ele ainda não terminou, mas antes de dormir fez esta "baianada". hahaha.
Os rabiscos são por conta da Clara, mas ele disse que não tem problema...

"[...]
- Ah! disse eu ao principezinho, são bem bonitas as tuas lembranças, mas eu não consertei ainda meu avião, não tenho mais nada para beber, e eu seria feliz, também, se pudesse ir caminhando passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte! [...]
- O que torna belo o deserto, disse o principezinho, é que ele esconde um poço nalgum lugar. [...]
- Tenho sede dessa água, disse o principezinho. Dá-me de beber ...
E eu compreendi o que ele havia buscado!
Levantei-lhe o balde até a boca. Ele bebeu, de olhos fechados. Era doce como uma festa. Essa água era muito mais que um alimento. Nascera da caminhada sob as estrelas, do canto da roldana, do esforço do meu braço. Era boa para o coração, como um presente. [...]
- Os homens do teu planeta, disse o principezinho, cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim... e não encontram o que procuram ...
- Não encontram, respondi...
E no entanto o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa, ou num pouquinho d'água..." (Antoine de Saint-Exupéry - O Pequeno Príncipe)

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Coletânea Sorriso e Alma

OPERAÇÃO ALMA (Mário Quintana)

Há os que fazem materializações...
Grande coisa! Eu faço desmaterializações.
Subjetivação de objetos.
Inclusive sorrisos,
Como aquele que tu me deste um dia com o mais puro azul de teus olhos
E nunca mais nos vimos (Na verdade a gente nunca mais se vê...)
No entanto,
Há muito que ele faz parte de certos estados do céu,
De certos instantes de serena, inexplicável alegria,
Assim como um vôo sozinho põe um gesto de adeus na paisagem,
Como uma curva de caminho,
Anônima,
Torna-se às vezes a maior recordação de toda uma volta ao mundo!


SORRISO DA CLARA

QUEM ALÉM DE VOCÊ? (Leoni)

DO GRANDE ANSEIO (trecho)
“Ó minha alma, eu Compreendo o sorriso de tua melancolia: tua própria opulência estende agora mãos que anseiam!
Tua abundância lança o olhar sobre mares que estrondeiam, e busca espera; anseio da superabundância olha desde o Céu de teus olhos sorridentes!
E, em verdade, ó minha alma, quem veria teu sorriso e não se desfaria em lagrimas? Os próprios anjos se desfazem em lagrimas ante a superbondade do teu sorriso.
É tua bondade ou superbondade que não quer lamentar e Chorar: e, Contudo, ó minha alma, teu sorriso anseia por lagrimas, e tua boca trêmula, por soluções.
‘Todo Choro não é um lamento? E todo lamento não é uma acusação?’ Assim falas Contigo mesma, e por isso, ó minha alma, queres antes sorrir do que desafogar teu sofrimento. [...]” (Friedrich Nietzsche – Assim Falou Zaratustra, Terceira parte, pg. 146)

SORRISOS: LUIZ MIGUEL e RAUL SEIXAS


Viva e deixe morrer...

Eu que acredito ver tudo em constante mudança
Já não me incomodam palavras da voz da lembrança
Os meus “eu te amo” voltaram pro seu lado escuro
Dos teus não interpreto e nem julgo de cima do muro

Só guardo os sentidos de alguém que já foi muito amado
Escolheste ir embora e negar quem me foi no passado
Não te incomodes que aqui viva sempre ao meu lado
Aquela menina que foste e que em mim tem ficado...

Saudades do tempo em que a gente se harmonizava
Quando “amor”, “fogo” e “chão” só a gente rimava
Amor e amizade cresceram palavra em palavra

O tempo nos faz esperar por quem se cativou
Mas aquela voz impiedosa o que foi que falou?
Deixe morrer a menina que tu tanto amou...

Rafael Smith



sábado, 10 de novembro de 2012

10.11.12


Conta até dez, respira que a raiva passa!
Pensou a menina canhoteira
Não deu certo! Preciso contar até duzentos!
Então eu disse
Conte apenas mais dois!
Veja: A data de hoje é um sinal: 10.11.12
Há um ano era véspera do estático 11.11.11
Agora tem movimento!
Pena que me escapou o momento exato!
Passou despercebido o instante do infinito progresso mensurável:
10.11.12 13’14”15segundos16centésimos17milésimos...
Mais rápido que um piscar de olhos, foi-se o instante
A dízima periódica existiu em um período muito curto
Instante insuficiente para proferir uma única sílaba...
Mas... E aí? Passou?
A raiva?
Se não, pelo menos podes senti-la contra estas palavras
Mudar o foco da raiva talvez a enfraqueça...
Será melhor se tu conseguir sanar esta raiva garota canhoteira!
Amanhã tu completas outra volta ao redor do sol a bordo da terra!
Opa! Já passa da meia noite! Adentramos em 11.11.12...
Certo é que não serei o único canhoteiro a querer te ver desenhar no rosto o melhor dos seus sorrisos hoje...

Verão Verão?!

Silenciar nem sempre é atributo de mentes vazias
No silêncio do poeta se guardou palavras do dia-a-dia
Dias que não trouxeram nada de belo pra ser congelado
Às vezes no silêncio há espera pelo inacabado

Por mais que o poeta se cale, seus fantasmas berram
E assim evitando o verso triste as palavras esperam
Quantas rimas ocultas na mente que mente sua dor?
Quantos espinhos guardados num verso solto de amor?

O amor, a cor, a dor e o anuncio primo de que logo é verão
E o fim do mundo escrito grita e dita o que os olhos verão
Verão verão os olhos?
Verão verão os vivos!

Quem sobreviver ao fim do mundo verá
Assim que chegar ao fim toda primavera
Que deveras viram os vivos a vida em Vera

Ah, linda prima-vera que esconde em si o verão
Outono e inverno o mantém dentro do coração
A chama que chama a poesia não se apaga não...

“E no meio de um inverno eu finalmente aprendi que havia dentro de mim um verão invencível.” Albert Camus

P.S. Poema em resposta ao 4'33" da minha querida amiga Tim Gonçales, que, atendendo a um pedido meu, salvou um afogado...
P.P.S. Nossa discussão em torno do silêncio poético foi inspirada pelo texto "
Af(*)rça d(*) silênci(*) - 72" de Humberto Gessinger.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Torquato Neto há 40 Anos

"Terra, mar e atenção. O futuro é hoje, cabe na palma da mão..."

Há momentos em que a beleza e fascínio pela vida parecem tão evidentes, ficam tão a-flor-da-pele que o suicida parece ser o maior de todos os criminosos.
De repente, quando toda a rede de significação que nos mantém conectados às outras pessoas e ao mundo se desmancha feito algodão doce na boca, o suicida parece ser o mais sensato entre os homens.

Escolher a hora da partida, colocando um ponto final na própria vida no momento em que desejar, parece ser o maior entre todos os atos de coragem... Ao mesmo tempo, mudando só um pouquinho o ponto de vista, tragicamente observando, tal gesto pode parecer uma baita covardia... Seja qual for o ângulo, não deixa de ser um gesto sublime...

Há exatamente 40 anos, depois de comemorar seu vigésimo oitavo aniversário, o poeta Torquato Neto, o suicida exemplar (segundo Cesar Augusto de Carvalho), embarcava num disco pra bem longe do asterisco onde vivemos... Mas antes, um último poema:
"Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar".
O Thiago, único herdeiro do homem que sobrevoava e saboreava o universo a bordo de sua poesia, hoje tem 42 anos e é piloto de avião...


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Canção silenciosa

Quantos momentos divididos entre nós
Instantes de vida, fortuna que ousamos repartir
Frases, cores, ações e orações
Tudo junto em uma única canção

Lado a lado alguns momentos mais distantes
Tão distantes beijos frios em sol ardente
Frases, coisas que deixamos de fazer
São só pausas: do silêncio sai canção

Corações despreparados não entendem
As cabeças já formadas não toleram
Só os tolos poderão compreender

Minha história é verdadeira: sem verdades
Sou rebelde e sigo regres de soneto
Do silêncio sai canções que nunca esqueço


Rafael Smith - 02/04/2005

sábado, 27 de outubro de 2012

terApia

Onde é que foi parar toda a minha poesia?
Vasculhei armários gavetas e até debaixo da pia
Parei e ouvi o coração, que insanamente batia
Batendo aumentava a dor que fica aqui todo dia

Muitas vozes disseram: Precisas de terapia!
Ter a pia cheia de louças, ou ter a pia vazia?
A pia cheia é vestígio da refeição de alegria
Pelo ralo sujo escutei a voz frágil da poesia

A vó foi comprar balcão, pra construir outra pia
E eu querendo destruir aquela onde ouvi melodia
A pia em cacos se fez, na força do amor que sentia

Entre os mármores me sorriu, ferida minha poesia
Peguei-a nos braços, beijei, na dor escutei alegria
Agora entendi pra valer, o sentido de terApia!!!


               Raul Seixas embaixo da pia.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

As Estações

Fiquei frustrado hoje ao ouvir a rádio que eu costumava ouvir na minha adolescência nos anos 90... Conferi se estava ouvindo a radio certa, afinal a música sertaneja tocava em outra frequência, numa estação que eu só escutava pra conferir a hora em tempos que nem relógio tínhamos em casa. Eu que estava carente de minhas canções preferidas, fiquei por uns minutos refém daquela estação.
Mas quero falar de outra estação... Hoje é o dia da Árvore! Ao chegar na frente da casa da minha tia, onde minha mãe passaria o dia com meu filho e nossos primos, havia uma arvore enorme derrubada pelos ventos e a chuva da madrugada!
Pobre destino daquela árvore! Veio a óbito no seu dia! Ela que já preparava suas flores amarelas pra chegada da primavera caiu na véspera da chegada da nova estação.
Numa outra estação, no ultimo ano do século (milênio) passado, conheci duas pessoas que se tornaram especiais nesta minha jornada pelos trilhos da vida. Num dia 21 de Setembro, como hoje, lembro que fiz com minhas próprias mãos (e receita da vó Mafalda), um bolo para os dois naquele mesmo ano. Hoje aproveitei uma mesma mensagem no Facebook pra felicitar ambos.
Que importância tem o rádio com suas músicas ruins? Que importância tem a arvore morta na véspera da primavera? Pouca, ou nenhuma, diante da lembrança que tenho dos amigos que estão completando hoje mais uma volta ao redor do sol!
Espero que a alegria seja presença carimbada por quaisquer estações por onde os dois venham a passar, sintonizar, enxergar, sentir...

Deixo o colorido da arvore morta, que em sua ultima e nobre missão, serviu de moldura para a alegria das crianças neste dia especial.

Luiz Miguel, Luiz Gustavo e João Pedro

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Onze e Suas Variações


Onze como hoje em algum lugar no tempo
Onze titulares brigando por grande alento
Torres tão gêmeas quando os 1s do 11
Onze adversários querendo levar a copa
Há onze anos um atentado aos terroristas
Onze anos um mês e uns dias atrás, o título
Há um ano, dois mil e onze, uma década depois
A glória do ultimo grande título do imortal
Terror do massacre na guerra internacional
Versos pares pra história da copa do tricolor
Versos impares pros fatos do dia do tal terror

Mas que importam os impares e pares agora?
Doze anos de década, dividido por um par é seis!
Onde eu estava há seis anos onze meses e onze dias?
Era o mês dez se iniciando em dois mil e cinco...

...excelentes recordações...
Recordações valem mais que os números...
Valem menos do que o agora, que, por vezes, recorda...
Afinal se agora são vinte e três e onze pra nós
Na nação das torres destruídas
A mesma hora seria onze e onze pm...
Quais são os números corretos?
Pouco importa...
O importante é a minha própria história!
Futebol, guerras, números e afins
São apenas planos de fundo...

P.S. Terrorismo mesmo é esta vinheta do plantão da globo: