segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Amor à Sofia

Qual foi a cor herdada pelo céu depois da tempestade? Baunilha... Que cor é essa?
Aquele céu cor de baunilha não é o mesmo que se vê do décimo terceiro andar? 
O décimo terceiro andar não é o mesmo de onde se alimentam os cabos de energia da Matrix?
Matrix não mostra alguém que quer descer até o fundo no buraco do coelho pra conhecer o mundo real?
O buraco do coelho não é o mesmo por onde desceu Alice?
Alice não era uma garotinha curiosa como Sofia?
Sofia não queria subir até a ponta dos finos pelos do coelho para olhar nos olhos de um chapeleiro maluco que a tirava da cartola?
Esse maluco não era o náufrago solitário que deu vida a cartas de baralho que habitavam sua cabeça?
Entre estas cartas de baralho, não havia um curinga que anunciava a todas as outras cartas que deveria haver um criador?
Este criador não teria tido a sua morte [vinda pelas mãos de suas próprias criaturas] anunciada pelo curinga?
A morte de deus não foi anunciada pelo martelo de uma trágica filosofia?
Filosofia não vem do grego philos (φίλος) e sophia (σοφία)?
Filo a Sabedoria, Amor à Sofia...

  
Onde está Sofia?
Talvez esteja ouvindo um rock nos campos de morango, onde nada é real...
Vale a pena amar Sofia? Pergunta difícil...
Troco: Tem como não amar Sofia?
Acho que não! Mesmo se percebesse que ela é irreal... Que está morta [ainda que viva em mim]... 
Meu erro, às vezes, é esquecer que vale muito mais o amor que a fria realidade da sabedoria... 

"Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal..." (Nietzsche)

No país das maravilhas tem um gato! Tem também um prédio de 13 andares em meio aos campos de morango. De lá se pode observar o povoado. De lá se pode pular, livrando-se do medo da Matrix e das palavras do curinga...

Saia da Matrix... 

Abra os olhos!

De curinga pra curinga.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Início do Fim de 2012


Inicia-se agora o último dia do ano mais difícil da minha estrada.
A pergunta que fica no início do fim de 2012: "Meus bons amigos, onde estão?"
A falta de alguns de tão perto, e a surpresa da presença de uns tão distantes é incapaz de alterar a importância de qualquer um deles.
Afinal, cada um desses meus bons amigos nem tem a medida do "bem que fez pra mim assim, e assim me fez feliz, assim..."
Cada um, a sua maneira, acaba ficando...

"Existe um lugar onde ninguém pode tirar você de mim. Este lugar chama-se Pensamento...e nele, você me pertence!!" (Charles Chaplin)

Pertencimento sem posse...
Pertencemos um ao outro como a rosa ao princepezinho.
Se o amor é infinito, então ele nunca se basta e é incompleto.
Mas a distancia traz consigo o medo de que esse amor se feche, tornando-se assim imperfeito... Que seja!
Pouco importa a perfeição...
Amizades assim são completas (e porque não dizer perfeitas?) em cada segundo vivido
Pouco importa se aquele ultimo “tchau”, despretensioso, torne-se, de repente e definitivamente um adeus... "Nada vai conseguir mudar o que ficou..." (Legião Urbana)

Sem falsas promessas pra 2013, quero só desejar alegria a meus amigos! Mesmo que seja em meio à dor... Mesmo que se expulse todo o amor: "Tornar o amor real é expulsá-lo de você para que ele possa ser de alguém..." (Nando Reis)

Tragicamente falando, desejo com muito amor e carinho que cada um destes meus bons amigos, malditos ou inocentes, tenha força pra perseguir e alcançar os objetivos que trazem alegria ao seu coração... Mesmo que pra isso, o amor infinito que nos une torne-se completo e imperfeito...

Amor Fati a todos... Sem medo...

...ou não...


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Sonho – Fuga e Estrada

Na madrugada do dia em que completaria 30 anos, sonhei que eu ia embora de casa.
Uma troca de roupa, um pouco de dinheiro, lanche... Tudo dentro de sacolas plásticas antes de entrar na mochila. As sacolinhas impediriam a destruição do pequeno kit em meio à pesada chuva que caia.
Peguei minha bicicleta e mergulhei na fria chuva às 6 da manhã em direção à qualquer lugar... Saí sem dizer palavra a ninguém. Guardar segredos sempre foi meu forte, até que, dividir segredos para além de mim, não me trouxe boas experiências. No sonho eu voltava a ter um segredo só comigo mesmo!
A cabeça estava confusa e não sabia por que pedalava, nem pra onde iria, nem o que pretendia com a estranha fuga de casa. Talvez eu só quisesse seguir o conselho de Mário Quintana quando fala da verdadeira arte de viajar:

“A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo...”

Naquela viagem onírica, a subida em direção à saída dos limites da cidade, traçava o caminho que me levaria, tal qual criança pequena e amedrontada, aos braços de meu pai... As lágrimas nos olhos se misturavam às incessantes águas da chuva que me davam a impressão de estar molhado até os ossos... Antes de sair definitivamente de cidade, andei quase 500 metros em busca de um atalho, mas desisti e voltei à estrada principal... Quase um quilômetro a mais de pedalada! Não tinha importância, pois a principal viagem era através de mim mesmo.
A tristeza amargurante, que nem o [aero] porto mais alegre conseguiu despistar, poderia talvez ficar ali naquela estrada... A cada metro pedalado, debaixo daquela chuva, lágrimas e sorrisos se alternavam num percurso trágico em busca de [re]construir a mim mesmo...
Num portal turístico que nada tem de especial além da cobertura, me escondi da chuva por uns minutos e comi uma banana...
O que fazer?
Eu poderia voltar e fingir que nada tinha acontecido, ou podia seguir...
Segui.
Mas seguir pra onde?
A chuva só aumentava e eu pouco enxergava... Raios e trovões em meio à colinas me davam um cenário totalmente rústico e desprotegido, sem para-raios, entregue a todos os riscos do tempo e da estrada...
Um caminhão urrou tal qual um dinossauro atrás de mim... Olhar pra traz seria perda de tempo em meio a tanta água que caia. Só senti quando fui arrastado, paralisando todos os meus nervos...
Passado tudo, pude olhar para o chão e ver o corpo em pedaços na pista...
Visão terrível...
Depois de  quase ser levado pelo vento da carreta que descia em alta velocidade, ver aquele tatu em pedaços não foi a melhor das imagens pra se somar ao meu susto...
O mau tempo persistia, mas às vezes a chuva dava pequenas tréguas...
Pensava em me livrar de todas as recordações ruins pedalando até não suportar mais a dor e o cansaço... Ora, não disse no último poema que o fim do mundo é quando acaba a dor? A melhor maneira de acabar com a dor é leva-la ao seu limite máximo!
Mas pôr fim à dor, seria uma adesão aos caminhos decadentes do niilismo...
Não!
Poderia chegar perto do limite físico e, ao atravessar a divisa para o outro estado, descansar na primeira cidade, pra continuar no outro dia o caminho que levava ao abraço de meu pai no final da estrada...
Às dez da manhã completei quarenta e um quilômetros de pedalada. Exatamente metade do percurso que ia até a primeira cidade após a divisa da ponte sobre rio.

De repente, esqueci que era um filho carente e assustado. Me lembrei que era pai também. A vontade de dar um abraço no meu pai se converteu em vontade de abraçar meu filho, que, exatamente um ano antes, perdia aos poucos sua frágil vida no meu colo em uma fila de hospital.
Meu filho está vivo!
Os médicos o levaram à UTI naquele dia 17 de dezembro passado, e, logo depois do natal, ele voltou pra casa...
Eu precisava vê-lo! Me certificar de que, neste ano, ele não sofreria tanto quanto o ano anterior.
Voltei sem pressa.
Substituí as pedaladas por caminhadas empurrando a bicicleta em longas ladeiras...
Ao meio-dia, perto do portal turístico que me devolveria aos limites de minha cidade, parei pra comer todo o lanche da mochila...
A volta foi pesada! Se eu completasse os 82 (quase 83 com o desvio) quilômetros, teria completado também a viagem até o outro estado, caso tivesse seguido em frente... Uma imagem interessante... Se chegasse em casa, bateria meu recorde de distancia percorrida em um só dia , sem uso de combustíveis inflamáveis.
Às longas caminhadas rendiam aos poucos dores na região do incessante encontro entre as duas pernas quando se movem. O céu, vez por outra, apresentava seu infinito azul entre as nuvens de chuva que, aos poucos, ficavam cada vez menos densas. Embora ainda houvessem nuvens, o mormaço ia queimando a pele desprotegida a medida que a tarde ia avançando... A cada passo a dor... No fim de tudo o amor...
Aquela dolorosa e pesada caminhada, carregando meu veículo, valia a pena, afinal, “Somente os pensamentos que temos caminhando valem alguma coisa...” (Nietzsche).
Chegar, antes de garantir o abraço ao meu filho, que era o que eu mais queria, me demandaria explicações de coisas, sentimentos que eu nunca soube explicar... Eu simplesmente não sei...
Não consigo separar em minha mente sonho e realidade. Acho que, no fim das contas, tento transpor todos os meus sonhos pra realidade, pra ver se no meu  mundo a realidade possa ficar mais palpável. Mas quem poderia entender isso?
Há tempos que perdi a paciência com a razão, a moderação, o comprometimento... Há tempos que não entendo como as pessoas conseguem programar seus sentimentos e explica-los um a um dentro de limitados padrões de comportamento. Acho que, no fundo, as pessoas não sentem mais nada... 
talvez seja eu o único a ter enlouquecido mesmo...
Talvez ainda me falte a lucidez necessária pra retirar todos os átomos de alegria possíveis desta loucura e chutar pra longe a tristeza...
Mas tudo foi apenas um sonho...
Eu que nasci em 82, quase 83, se tivesse pedalado 82, quase 83 quilômetros num só dia, deixaria marcas de sol no meu rosto. Algum, entre meus amigos que vieram me cumprimentar pelo meu aniversário, certamente teria notado. Tivesse eu cometido a loucura de pedalar mais de 80 quilômetros sem qualquer plano, aviso e preparo físico, teria dado pouca atenção aos meus amigos e teria ido dormir com meu filho na hora que eles estivessem ainda aqui em casa...
Que bom que foi só um sonho... Tivesse eu feito esta viagem onírica, estaria sentindo até hoje valiosas dores no meu joelho esquerdo...


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Qual é o fim do mundo?

Talvez o fim do mundo seja o amor
Amor que se constrói junto à dor
Dor... Pode ser boa e trazer prazer
Ou então, terrível sensação de não poder
Na dor que vem e vai fica o amor
Prazer que vem e vai deixa o sabor
Mas o que é este amor que não se explica?
Eu não sei! Só sei que fica! Sempre fica...

Ouvi falar a voz de um sonho que ficou pra traz:
"Vai agora! Senão não te deixo ir embora nunca mais..."

Qual será o fim do mundo?
Bom pensar que seja o amor
Quando é o fim do mundo?
Logo que cessar a dor...





sábado, 8 de dezembro de 2012

Oito de Dezembro

Às vezes, o universo conspira, e a gente passa a viver um dia especial
Às vezes, o universo te pira, e tu tens que inventar sozinho o momento tal
Tem dias que lembranças das mais importantes tornam-se indiferentes
Tem vezes que um dia festivo veste-se de tristezas e rostos sorridentes

E o dia oito de dezembro como fica na memória?
Entre mortes e nascimentos se fez uma história:

Dia que interpretei erroneamente, não entendendo e matando as palavras
Dia em que tiraram a vida de John Lennon em covarde disparo de arma
Dia em que o Grêmio de Foot Ball Porto Alegrense mudou-se pra nova casa
Dia em que a Dalva nasceu, trazendo alegria pra todos onde ela habitava

As palavras mal ditas, nem ligo mais pra elas, morreram e foram tarde
A morte de John Lennon jamais matará sua música, viva na eternidade
O nascimento da Arena matará o Olímpico que ficará vivo na saudade
Os verdes olhos de Dalva se fecharam e eu contava doze anos de idade

Longe das mortes, nascimentos, palavras mal interpretadas... Longe de todo início e fim de caminhos, hoje eu caminhei com meu filho. Ele segurou na minha mão e não pediu mais nada em troca... Tá aí... dia especial... Sem piras nem conspirações:
A vida é assim: Partida, chegada, abraços de boas-vindas e de despedidas... Abro espaço pra mais uma ocasião especial a acontecer hoje: Mais uma vez vou me despedir de alguém de quem já me despedi outras vezes... Desta vez, sem melancolia... Este espírito itinerante, nunca destruiu nossa amizade e convivência, ao contrário, até nos aproximou mais... 
[Alô Curitiba! Tem sinal da Tim aí?]

Oito de Dezembro:

Nascimento da minha vó materna;
Morte de John Lennon;
Palavras mal entendidas;
[Hoje]
Inauguração da Arena do Grêmio;
Celebração de uma grande amizade...