segunda-feira, 27 de abril de 2015

Inútil Compaixão

Queria escrever o mais belo poema do mundo
Sem rima nenhuma, deixar meu recado
Queria saber que, só de te saber assim,
só de escrever... te salvei do afogamento!
Mas embora saiba da água que te oprime,
da correnteza implacável que poderá aproximar
ou afastar a maré da altura de tuas narinas...
Meu deus, que aflição!
De mãos atadas pela distância, escrevo.
De mãos livres, aqui, escrevo 
um conforto, um apoio, uma oração...
Mas não entendo de oração, gramática, compaixão...
Nas rimas que perdi outrora
No verso que retorna agora
Me coloco ao seu lado,
distante, a esperar
[Esperar com quem 
sempre espera comigo]
Esperar é o que posso
até tudo passar...

"...seu corpo exige atenção
E nessas horas nada mais importa.
Nem oração, nem poemas
Nem música, nem televisão..."
(Leoni)



sábado, 4 de abril de 2015

iPoem

Poeta parado na fila
Na fila que eu não vou parar
Num bloco de notas moderno
Poemas me ponho a criar.

Poeta parado na fila?
Poeta parado não há!
Na fila haverá poesia
Só basta ao poeta encontrar.

Poeta vivendo na fila
E nada o fará desligar
Se então acabar bateria
Fará poesia no olhar.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Sexta da Paixão

Do alto da cruz, todo lambuzado de um líquido vermelho que não era meu sangue,
Vi um povo piedoso fingindo acreditar que eu sangrava.
A minha voz repetia frases repetidas por mais de dois mil anos
em igrejas, lares, bares e outros teatros como aquele...
Do alto da cruz eu, muito vivo, fingia morrer!
E as pessoas que fingiam crer na minha morte,
queriam me ver vivo novamente.
Então eu, morto de cansaço,
dolorido pelos parafusos que agarrei com os dedos na cruz,
ferido pelas pancadas que levei
quando os que deveriam fingir me bater me bateram de verdade...
Assim eu, morto, fingia estar vivo...
Todo de branco, braços erguidos e uma mensagem de fé e paz...
Todos me vendo, não me viam!
Alegres voltavam pra casa pensando ter visto,
mesmo sem ver, toda a paixão de Cristo...
E se de devoção não sou assim tão adepto,
ao menos de paixão eu sou...
E assim, apaixonado, entregava minha pesquisa,
minhas escolhas no roteiro,
meus acréscimos interpretaríeis em uma história clássica...
E com ajuda de muitos em cena,
o ciclo por várias vezes se repetiu:
vivo fingindo estar morto e morto fingindo estar vivo...
Por mais de três vezes morri!
Nas mortes, a parte tudo que perdi, sempre eu ressuscitei!
Agora a minha voz, que antes imitava as palavras de deus,

é ela própria a voz de um deus...