quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Londrinense Sem Sotaque!


Tem uma renca de londrinenses que pensam não teR [grifo pros nossos erres britânicos e/ou caipiras] sotaque! Afinal, somos uma cidade jovem, repleta de gente das mais diversas origens étnicas. Londrina tem uma séria crise de identidade: Não sabe se é a menor das cidades grandes ou a maior das pequenas. Mas nos sentimos multiétnicos. Somos o meio do caminho entre a maior capital do Sudeste e a maior do Sul. Nesta mistura de origens, eu, por exemplo, cresci ouvindo o italianesco vêneto no português falado por minha vó, Mafalda. Também estou habituado ao português amineirado do meu avô Miguel, além da fala de outros avôs e avós de amigos falando com português mais asiático, indígena, polonês...
Mas não é raro um londrinense desses vanguardistas dizer:
"Não temos sotaque! Falamos o português mais correto!"
E qual é o português mais correto, cara pálida?
"Aquele falado pelo William Bonner, oras..."
Uma pena eu não ter nem dez pila pra ir lá na cidade comprar uma sombrinha! Tá caindo o maior toró, e nem sair de casa eu posso, pois tem uma data vizinha aqui que é puro barro! E toda vez que cai um pé d'agua assim, o lamaçal vermelho chega até o meu meio fio... Mas, voltando ao raciocínio - se eu tivesse uns pilas a mais, iria de mala e cuia convidar o tal do Bonner pra um bate papo com a piazada daqui na cancha em frente de casa. Aposto que apareceria um lazarento oferecendo garapa do Marco Zero pro sujeito - que corria o risco de gorfar antes mesmo de provar dessa iguaria só de ouvir o nome. Acha que o caboclo sabe o que é garapa? Lá onde ele mora vendem biscoito globo e mate na praia. E o mate não é chimarrão não, é aquele chá tostado sem graça. Mas deve vender por que servem bem gelado, e lá lá faz um calor de rachar lajota! Detalhe que lá de onde ele vem, usam a palavra "biscoito" não só pros biscoitos (de polvilho), mas também pra todas as bolachas! Onde já se viu um negócio desses?
Tudo bem que aqui em Londrina também temos dias bem quentes, de ficar na varanda olhando o vento bater na quiçaça. Ainda mais quando cai a força e todos os aparelhos de ar condicionado deixam de funcionar...
Se o sujeito viesse mesmo, convidaria-o para posar aqui em casa. Já deixaria o banheiro limpinho. Vai que ele chega do Rio de Janeiro apurado? Capaz que vou deixar de lavar a patente com Qboa e colocar uma pedrinha sanitária ali pra receber visitas...
Quando ele pousar no aeroporto e vier pra cá pra posar, se preferir alugar um carro, terei que ensinar o caminho. Ele vem pela Santos Dumont e desce a JK. Mas não pode passar por cima do pontilhão, já tem que cair as direita pra pegar a Dez de Dezembro. Ali passam muitos bicicleteiros, vou falar pra ele podar eles com cuidado. Além do mais, tá cheio de pardal naquela avenida. Ir de manha no transito previne multas e, o mais importante, previne acidentes. Quando ele chegar no balão de Adão e Eva, já vai pirar vendo nosso "disco voador" de concreto e zinco - a rodoviária que o Niemeyer projetou, mas a prefeitura não teve culhão pra bancar o projeto original... Depois do balão acho melhor ele cair as direita, pra evitar o sinaleiro. Depois de passar pelo complexo Marco Zero e entrar na minha rua margeando a mata, aí é só parar antes do quebra-mola. Estarei ali, bem em frente a cancha! Não tem erro!
Precisarei alertá-lo que tem muito noiado aqui na vila, mas a maioria só anda trupicando ou morcegando nas esquinas. A turma passa por eles voltando do trampo e eles geralmente ficam de boa. Às vezes uns mais doidos fazem a gente rachar o bico quando levam um coco da molecada no futebol. Aí ficam putos gritando: "Tá me tirando, mano?". hahahaha
Tô olhando na folhinha aqui que dia é melhor ele vir pra cá. Vou até separar uma muda de roupa minha, pro caso de ele esquecer. A casa é de madeira, simples, mas bem pintadinha, não tem risco de pegar uma ferpa na mão quando se apoiar na parede. Talvez seja melhor colocá-lo lá na dependência da Vó Mafalda, que é de material. Ela adora preparar mistura diferente quando tem visitas. Só espero que ela não o assuste de noite com seu farolete, ao procurar alguma ramona de cabelo...
Mas vou parar de papo-furado! Tenho que lavar a louça e tirar o lixo antes que apareçam bigatos. Se isso acontecer minha mãe surta e me quebra na paulada! Sou meio jacu, mas não sou besta! Vou parar de ensebar aqui e correr pra pia. Se deixar meu serviço em ordem, talvez eu possa voltar e varar a madrugada trocando ideia com os piá...
Saudações londrinenses!




Compreender o Vento


Viver é esforço artístico de construção de si
E há um universo imenso dentro de cada um
Talvez a grande sacada seja compreender o vento
Observar, levantar as velas e seguir navegando
Com o coração atento, se saberá onde atirar a âncora
Mas sempre será necessário recomeçar.
E a vida segue o fluxo incessante do navegar/ancorar
Ambas decisões exigem coragem e perspicácia
Seja qual for o instante, é nele que a vida existe
Só no agora a vida acontece, então, sigamos!

"Quanta mudança alcança o nosso ser
Posso ser assim, daqui a pouco não"




segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Céu Suburbano


Os construtores me vieram sem aviso
E destruíram frutos, flores, folhas, troncos
Construtores de ruínas sem sentido
Moto-serras e o terror daquele ronco

Do trabalho regressei sem despedir-me
Das sombras que há tempos houve aqui
Olhos d'agua, coração aguente firme
Menos verde ao meu redor, então sofri...

Mas encontro um outro verde rastejante
No contraste com o azul que tão venero
Suburbano céu de azul exuberante

Traz de volta o verdazul que tanto quero
Do contraste mata e céu, como era antes.
Zona leste, não te tornem um cemitério.

"Penny Lane [Fraternidade]
is in my ears and in my eyes
There beneath the blue suburban skies
I sit and meanwhile back.."
(The Beatles)