sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Pedalada Engarrafada.

Gostaria de poder colocar cada centímetro pedalado ao seu lado em uma garrafa de vinho.
Esquecer que as vezes corro pra longe de ti por não suportar odores que pra ti são aromas essenciais.
Lembrar, no entanto, de todos os motivos que tinha pra fugir da nuvem de cigarro no lugar que eu estudava e respirar o ar puro do teu local de estudos.
Ah... Que estou eu a dizer? Esquecer... Lembrar...
Somando tudo e colocando na balança dos momentos que valem a pena ser vividos, sobram motivos pra agradecer.
Então coloco na garrafa de vinho o meu pneu de pista e o seu pneu de trilha.
Meu baixo viola e sua guitarra strato...
Nossos bons momentos em jogos de futebol e shows que curtimos juntos, e também aqueles que curtimos longe.
Coloco na garrafa o encantamento com certas ideias filosóficas, os impasses, os debates e a satisfação de chegar a bons argumentos temperados com o nosso salgado (e sagrado) suor.
Coloco na garrafa amoras e pitangas, um rio, um pedágio, uma usina histórica que já não existe, um outdoor, uma passarela e uma autoestrada federal onde pudemos deitar por alguns minutos...
Coloco as histórias que ouvi, e as histórias que contei...
Algumas histórias servem pra entreter, suportar os trajetos, as subidas.
Outras histórias são graves, fruto de muita imaginação em torno de um enredo que soa como ideia fixa.
Como foi bom verbalizar a ideia fixa!
Ver aquela frágil semente despontar pela primeira vez em palavras faladas.
Passo inicial pra uma história escrita, ou não...
Não sei que odores eu tenho exalado em minha sede de ar puro.
Mas sei reconhecer quando os teus sentidos silenciam em busca de ares diferentes dos meus.
Não sei se haverá ocasião em que andaremos novamente em busca dos mesmos odores, pistas, estradas ou melodias...
Amanhã? Depois? Talvez a frase do poeta (que não é nenhum de nós) peça um "tanto faz" ou "nunca mais"...
Mas "tanto faz" não seria opção pra mim...
Prefiro a imagem da garrafa de vinho. 
Possibilidade de sorver cada momento novamente.
Mesmo que a vida condene a um eterno suor solitário.
Poder agradecer pelo que passou e pelo muito que ficou disso tudo.
Me abstenho no entanto de projetar... 
Criar expectativa para além de mim seria uma forma de tirania.
Então não espero. 
Mas celebro como quem viveu momentos que nenhum sábio, rico, milionário, ou santo viveu. 
Momentos únicos e irrepetíveis. 
Momentos que eu gostaria que tivessem durado um pouco mais...
Momentos que ajudam a afirmar uma vida que vale a pena ser vivida...
Ao último ser humano que me suportou por mais de duas horas, 
Deixo um grande abraço e pedaladas engarrafadas neste dia especial!