terça-feira, 31 de março de 2015

Inspiração e Vida

Não vou usar o clichê de dizer que "são a razão da minha vida". Não são! Até porque não acho que a tal "razão" seja lá grande coisa...
Com eles aprimorei meu egoísmo (entre todos os "ismos" o que mais me agrada)! E não no sentido raso e liberal do termo. Não enxergo possibilidade de existência humana alheia ao egoísmo. Até o altruísmo, na medida em que faz bem, tem finalidade egoísta! Tudo o que se pretende coletivista remete à diluição e morte do indivíduo em favor de causas mortas, vazias, alheias a vida...
Mas voltando a reflexão, com eles aprendi a aproveitar cada segundo e viver na urgência de não poder mais amanhã. A doença que assombra e provoca piedade sob uma perspectiva pessimista, é a mesma que em nós impulsiona ao deslumbramento e a intensa vontade (força) de viver!
De minha parte, quero entregar meus dias na tentativa insana de prolongar sua existência comigo! Quero mostrá-los que, embora a luta deles seja só deles, estou pronto pra ficar sempre perto e, se necessário, sacrificar minhas maiores vontades em favor de suas necessidades...
Por que isso se sou egoísta?
O meu egoísmo é assim... Minha luta pra vislumbrar o impossível é o que me inspira! Por isso adapto o clichê:
Eles são a inspiração da minha vida!
Hoje é dia de comemoração simultânea! Há exatos 9 anos convivo com o curinga Luiz Miguel. Em um mesmo 31/03, há 4 anos, chegou a pequena jocker Clara!
Bicicletas e muita alegria neste aniversário! Que venham mais dias de luta! Estou preparado!

"O meu egoísmo é tão egoísta
Que o auge do meu egoísmo é querer ajudar.
Não sei porque nasci
Pra querer ajudar
A querer consertar
O que não pode ser.
Não sei pois nasci para isso
E aquilo e o inguiço de tanto querer.
Carpinteiro do universo inteiro eu sou assim!
No final, carpinteiro de mim." (Raul Seixas).

sábado, 21 de março de 2015

Luz e Sombra

Claro e escuro
Outono e verão lado a lado
De um lado no rosto a barba
Um lado do rosto pelado

Dia e noite
Sem sol, chuva e corpo molhado
Conservo a alegria da vida
E um peito tristonho apertado

Bem e mal
Pro bem todos dizem dotados
Verdades com ódio gritadas
O mal sempre está do outro lado

E eu que não sou minha barba
Nem o nome por que sou chamado
Não sou o meu tipo sanguíneo
Nem o sangue por mim derramado
Não sou um perfil de internet
Nem um texto por mim editado
Não sou os trabalhos que faço
Nem o lado do rosto pelado

Sou da esquerda a mão que escrevo
Da direita o pé que chuta em gol
Não sou da Gironda ou San Jacques
Calado poeta não sou...

Sou caos, sou rural, sou cidade
Não sou só mais um, sou milhares!
Onde posso evitar os altares
Maniqueus desta sociedade?

terça-feira, 10 de março de 2015

O Impossível e os Sonhos

Por “motivo de força maior” não comecei o ano fazendo aquilo que estudei muito pra fazer...E não é que eu tenha “esticado as férias”, como maldosamente sugeriram alguns. Vivi dias de tensão e sem dinheiro algum no bolso... Acompanhei eventos espetaculares promovidos por colegas de profissão, escrevi e participei da gravação de marchinhas de carnaval bem peculiares, além de atuar como “Bike Bloc” em uma manifestação de rua:


Não tive coragem (cara-de-pau) de fazer uma selfie minha bloqueando o transito na última manifestação, mas, todo de preto, ajudando ao professor (esquerda da foto) e a outros ciclistas, me tornei um “bike bloc”.

Depois de dias tensos iniciei o ano nos meus locais de trabalho. Ano passado eu precisava sair de casa às 6:15 pra começar a trabalhar às 7:45. Um lugar excelente. Mas distante... Hoje saí de casa com a minha bicicleta às 7:51 e cheguei às 7:58 no colégio onde realizaria a preparação pra volta as aulas na próxima quinta...
À tarde a pedalada para um outro colégio teve mais que sete minutos: Foram dez. Uma boa e estranha sensação de voltar pro colégio em que fui aluno durante os quatro anos finais do ensino fundamental e todo o ensino médio...
Agora ali será meu local de trabalho.
Não recusei o “tour” proposto aos professores novos. Meu olhar não era o de quem conhece, mas de quem relembra muitas coisas a cada passo... Descrever tudo o que senti e pensei a cada passo demandaria tempo e paciência pra tentar traduzir coisas intraduzíveis. Mas olhei com carinho pra sala onde fiz o terceirão. Também segurei um livro bem velho de série vaga-lume que li na adolescência. Era o mesmo livro? Sendo a mesma biblioteca, bem provável que sim...
Mas a lembrança mais gostosa de lembrar foi de Jessica sentada na beira da quadra de basquete. A quadra não existe mais, é agora um jardim com bancos... Mas o “meio-fio” de onde eu olhava Jessica sentada estava lá...
Os acontecimentos de hoje reuniram condições de tentar resolver um desafio urgente proposto por um amigo que é sempre gentilmente aberto a responder perguntas, mas desta vez perguntou. Apenas uma:

“Como seria, pra ti, querer algo que não pode ter nessa e nem em outra vida?”

Acho que todos nós temos “querências” de coisas que nunca poderíamos ter. Foi assim com a Jéssica. Ela “descolada”, membra atuante do “grêmio estudantil” e da oitava série... Eu da sétima, quieto, tímido...
Ela falou comigo uma vez toda sorridente. Estava em campanha. Sua chapa “saudações a quem tem coragem” pretendia controlar o grêmio. Eu, bobo, não vi a militante, mas a garota linda que dirigia a mim a palavra... Suor frio e coração acelerado como nunca antes...
Sempre fui meio “nerd”, apesar de sentar sempre no “fundão” da sala. Nunca tirei nota vermelha, mas Jessica foi responsável direta por eu nunca ter entendido logaritmo. Quase manchei de vermelho meu boletim... O fato de eu ter tirado nota azul (ainda que no limite), faz pensar que talvez eu nem estivesse tão apaixonado como a minha memória acha que eu estava... Mas lembro que escrevi uma carta. Uma folha de caderno em frente e verso com algumas palavras e o restante preenchido com a frase “Estou apaixonado por você”. Era moda ver no “Show de Xuxa” cartas quilométricas com “Eu te Amo” repetido milhares de vezes. Mas, já naquela época, eu achava “eu te amo” muito forte pra ser dito assim ao vento, sem o devido cuidado e sentimento...
Minhas primas (as gêmeas) e meu irmão acharam a carta e riram, leram em voz alta, debocharam... Fiquei irado e “fugi de casa”. Parei abandonado em frente a uma igreja pentecostal, bem próxima do colégio Willie Davids (local da minha primeira pedalada de hoje). Lá ouvi um sermão onde o pastor afirmava que somente aqueles que professavam a fé que ele pregava estavam escolhidos para habitar o reino dos céus. Eu ali, com raiva e sentado no meio-fio, do lado de fora da fé, pensava: “Estou fora do Reino de Deus...”.
Mas nem era tão ruim... Se o tal reino teria aquele cara falando aos berros daquele jeito, era melhor mesmo estar fora. O que eu queria mesmo era entrar no coração de Jéssica... Minha fuga durou menos de uma hora e, recuperada a carta, dei um jeito de enfiá-la na caixinha de correio dela... Não sei se ela foi transferida ou passou a fugir de mim, mas não tenho mais nenhuma lembrança dela além daquela à beira da quadra...
Outras paixões vieram, algumas velozes/agradáveis/fugazes, outras longas/sofridas/prazerosas. A maioria, como sugere a palavra, tem caráter passageiro... Mas existe uma espécie rara de paixão que parece não ter cura:

"...está aí uma coisa misteriosa. Existem bilhões de pessoas neste planeta. Mas a gente acaba se apaixonando por uma pessoa determinada e não quer trocá-la por nenhuma outra." (O Dia do Curinga – Dama de Espadas – Jostein Gaarder)

O fato é que, depois da frustração com a Jéssica, consegui realizar muitas coisas que muitos julgavam impossível. Eu e meu irmão, criados na rua - e sob tutela da vó Mafalda - éramos cotados pra ocupar uma “vaga” nos presídios do país. No entanto, frequentamos universidade e nos formamos! Como professor, sempre quis voltar pro colégio onde passei toda a minha adolescência e o início da juventude! Hoje voltei...
Algumas vontades passam. Outras seguem como impossibilidades. Outras a gente sacia. Algumas, depois de saciadas, voltam a condição de vontades... Pras impossíveis, acredito que vale a pena preservá-las. Quem sabe o impossível não seja mesmo só questão de opinião, como disse um chorão...
Sigo sonhando voar. É bom guardar esta impossibilidade! Talvez um dia alcance o céu e as estrelas. Mesmo sendo mais provável que a gravidade um dia me vença definitivamente, esmagando meus ossos inertes junto à terra, ainda assim vale a pena olhar pro céu com desejo...
Sei que não solucionei a pergunta. Não é o meu forte achar respostas! Gosto de perguntar... Mas espero ao menos ter colorido o urgente questionamento do amigo citado...
Pra fechar as emoções do dia de hoje, uma lembrança que impulsionou uma vitória pro agora: O Luiz Miguel ganhou uma bicicleta ao completar cinco anos. Depois de ter sido diagnosticado com doença rara no ano seguinte, precisou ser preservado de qualquer atividade de risco, pois sangramentos pra ele podem ter graves consequências. Agora, perto de completar nove anos e, graças à confiança dada por um equipamento de segurança, ele pôde finalmente dar as primeiras pedaladas sem rodinhas...
Um dia de muita alegria...
Se ele queria muito pedalar, vontade realizada. Entre outros desejos que ele também tem, quer muito um dia poder jogar bola (atividade não recomendada na situação dele). Quem sou eu pra desestimulá-lo? Ele sempre me diz que será “o melhor jogador de futebol do mundo!” E atuando com a camisa do Londrina!!!
O futuro não me interessa agora. Hoje, na quadra onde já fiz gol no filho do ídolo/goleiro Nenéca (a mesma onde meu pai jogava futsal na juventude) meu filho se tornou “o melhor ciclista do mundo”!
Quem sou eu pra duvidar de sonhos?
“Sonhar é acordar-se pra dentro.”

(Mário Quintana)