terça-feira, 22 de novembro de 2011

Curinga Sagitário


Sagitário vem no horário

Interage-se ao baralho

Apresenta-se mutável

Mostra o homem e o cavalo


Uma carta é o que valho

Ela é fogo no orvalho

Dia e noite é incendiário


Nada, tudo e seu contrário

Aproveita o enxovalho

Se promove quando otário


Desfazendo o itinerário

Ao curinga sagitário

Este jogo imaginário





segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Perto Demais

Às vezes nos tornamos reféns de uma imagem humana que se desenha em nossos olhos, e fica ali impressa. Quando temos sorte e coragem, vamos chegando perto e de repente, num momento mágico aqueles outros olhos miram os nossos, fazendo nascer assim a mais doce das ilusões.

Alimentamos a crença de ter encontrado a parte que faltava em nós... Somos religiosamente convencidos de que todo o sentido antes ausente em nossas vidas se materializa ali, no interior daquele inevitável e hipnotizante par de olhos.

Quando chegamos perto... Perto demais... Vamos aos poucos esquecendo os primeiros olhares e percebemos, não sem dor, que nosso universo é único, e a realidade árida e solitária. Procuramos novamente o sentido...

Ficamos com medo de perder o outro. Mas nem nos damos conta que só se pode perder àquilo que nos pertence. Assim começamos a desfazer a ilusão. O que era parte de nós passa a ser nossa propriedade. Como podemos construir o absurdo pensamento de que podemos ser donos de alguém?

Queremos a qualquer custo fazer aquele sentimento bom de cumplicidade voltar a brotar em nós. Mas o olhar não é mais suficiente. Pedimos palavras, gestos e imagens que confirmem o sentimento que outrora havia, e que por nossas juras de eternidade, acreditamos estar ali mesmo quando já estamos cansados. Insensíveis a tudo ao nosso redor. Não admitimos que nossas duvidas em relação ao outro, vem de nós mesmos.

Se para milagrosamente juntar duas pessoas em um único universo bastava apenas um olhar, depois de um tempo é preciso “verdade”, “sinceridade”, “honestidade”. Assim nosso coração ressecado, fica “em paz”, quando tentamos procurar nesses artifícios o sentido agora ausente.

Assim esquecemos a brisa que um dia tocou nossas peles apaixonadas. O beijo testemunhado por todo o universo conspirante e paralisado ao nosso redor. Tudo o que era tão natural, agora precisa de provas. Que importa afinal se ela se chamava ou não Alice? O que importa se ela mentiu ou disse a verdade? Quando estamos magicamente conectados ao outro, as palavras parecem ser tão irrelevantes. Mentira, verdade e confiança chegam a ser categorias ainda mais ilusórias que a crença inicial de ter encontrado a parte ausente de nós no outro.

Então é assim, nos esquecemos da brisa, do céu, do frio e do calor... Era tudo tão natural como o nascer do dia... As pupilas parecem ter sido desmentidas pela necessidade de descrevermos as nossas sensações, nossos pensamentos, nossas impressões em relação a outros seres humanos, outras rosas e raposas... Assim nossos mundos soam desafinados aos ouvidos...

No roteiro de um filme, nos exemplos que me cercam, e também comigo, tais dramas de vidas a dois parecem ter uma ligação. Sei que pareço ter hesitado e até desafinei a voz ao jurar que a amaria pra sempre... Sei que não consigo mais fazer com que ela veja o meu amor... Mas mantenho ainda minhas doces ilusões. Tento todos os dias mentir que não sou sozinho. Não vou perder meus dias olhando com piedade as “injustiças” do mundo. Como disse o poeta Pessoa, “haver injustiça é (tão natural) como haver a morte”. No meu universo, uma paixão nunca é desfeita, apenas se transforma... Quase sempre nas mais belas e sinceras mentiras...

Por mais que eu tente, eu não consigo parar de olhar pra você. Não me importa seu nome, nem a verdade, a mentira, ou minha pretensa solidão. Importa apenas que te amo...

*Texto baseado no filme “Closer – Perto Demais” de 2004.


sábado, 12 de novembro de 2011

Enfoca

Faca Forca
Faça Força
A cedilha troca a ideia

Faça Forca?
Faca Força?
A cedilha muda o foco

Foca nada
Nada a Foca
Na palavra que EnFoca

Suja manga
Manga espada
Não me corta como faca

Cota corta
Cata carta
Um "r" em meio a foca

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

11/11/11 às 11hs11'11"

O numero "1" repetido por doze vezes em um único segundo.
Claro que seriam infinitos ums se fracionássemos mais o segundo...
Mas todo ano vivemos o minuto em que o "1" se repete 8 vezes (11/11 às 11:11hs)


Se pensarmos só na data, livre dos horários, que variam pelos fusos do mundo,
Temos hoje 6 repetições do "1", mas até 2019, serão apenas 5, depois 4...
A próxima repetição de 6 "1" na data ocorrerá em 11/11/2101.
Dez anos depois, serão incríveis 7 repetições do 1.
Sem superar os 8 medievais de 11/11/1111.

Sabe o que isso significa?
Nada!

Mas a simetria quase poética da data, me fez querer tornar esse dia especial.
A 1:11 de 11/11/11, lembrei por sete vezes que a solidão me é inevitável...
Embora criemos mascaras pra sermos mais, nunca somos mais do que 1.

Levantei-me às 6:08, e fui ver o dia nascer com o sol, que raiou atrás de uma nuvem.
Acordei a garota mãe pra trabalhar, e lembrei que minha solidão é muito bem acompanhada.
Meus dois pequenos herdeiros dormiam...
A voz trágica me dizia que eu era um cara de sorte.
Senti a dor e o prazer do trágico numa nobre batalha de opostos, e fui ter comigo mesmo.

Do alto do meu refugio preferido, sem ser visto, observei o movimento na rodovia abaixo de mim.
A ultima vez que olhei no relógio, depois de fotografar com o celular parte do que eu via, era 11:09.
Que diferença faria eu saber o minuto exato das 8 repetições do "1"?

Me entreguei ao tempo, e o sorriso acompanhado de um brilho nos olhos foi inevitável...
Estava sozinho comigo mesmo, mas não estava triste. Eu sou eu e a soma daqueles que amo...
Estavam todos ali comigo. Cada um deles...
nem todos os números "1" possíveis de ser pensados Seriam capazes de me tirar a alegria de
pensar na possibilidade de reencontrar os meus...

Pra fechar o dia especial, tomei um leve banho de chuva com meu filho, uma taça do meu vinho do porto preferido, e chimarrão com a erva nobre que guardo pra ocasiões especiais...

Todos os dias podem ser especiais se a gente quiser...
Simples assim.

Que os números não me escravizem em padrões pré-estabelecidos.
Que eles possam ser poesia pra mim...
Assim poderei ser o que mais gosto de ser: Poeta...


Nunca vou embora
Seja noite ou dia
Vê que sou agora
Poeta e poesia...