sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Vida, Promessa e Loucura.

Tudo isso por causa de um time de futebol?
Perdeu o juízo?
Sabia que você pode morrer no caminho?
Isso é loucura!!!
Mas deixe eu te contar um segredo, os loucos são as melhores pessoas!
Escrever aqui não é uma forma de me justificar, pois tudo está muito claro pra mim. Mas tentar traduzir todos os sentimentos que me trouxeram ate aqui, pode ser uma maneira de incentivar a mim mesmo na guerra particular que vivo em cada batalha de 24 horas e uns quebradinhos a bordo deste planetinha errante e ilhado em meio a um imenso e absurdo espaço vazio...
Pra entender o porquê de eu estar partindo pra Bauru de bicicleta às 3:33 da madrugada vindoura, seria preciso contar toda uma história de mais de 10 mil anos, mas voltemos apenas quatro, ao ano de 2011.
Era meu aniversário, o que, no meu calendário particular, chamo de “dia do Curinga”. Já estavam armadas as comemorações. Havia sido um ano mágico. Eu tinha cumprido todos os créditos do mestrado em história social e só me restaria escrever uma dissertação inovadora – um texto que citava músicas em mp3, sem as letras. A primeira dissertação da UEL que seria entregue em formato digital. Além do mestrado, a inspiração extravasava. Criei este blog pra canalizar os pensamentos e sentimentos em poesia e prosa...
Mas nem tudo foram flores naquele ano tão primaveril. O meu filho Luiz Miguel, com seis anos incompletos, estava com uma gripe forte e incessante havia uma semana. Fomos ao hospital pela manhã e, o final do dia, que seria em um churrasco, acabou na UTI do hospital evangélico. Depois de viver dias dramáticos e cheios de suspeitas (primeiro de gripe, depois de dengue hemorrágica, e por ultimo leucemia), ele foi diagnosticado com uma doença genética rara – Anemia de Fanconi. A Medula Óssea estava em processo de falência e seria necessário encontrar um doador compatível para que ele fizesse um transplante em Curitiba.
Em meio ao caos e a angustia, minha vida quase paralisou em 2012. Só consegui escrever minha dissertação de mestrado graças a compreensão e apoio do meu orientador e amigo Gabriel Giannattasio. Mas um projeto foi colocado em prática. O Luiz Miguel foi comigo em quase todos os jogos do Londrina na divisão de acesso do Paranaense no ano anterior. Com alguns amigos de uma velha banda, tínhamos a intensão de gravar o Hino do LEC em versão de Rock, comemorando o acesso. Já que não tínhamos um doador compatível pro Luiz Miguel e ele era totalmente compatível com a paixão pelo Londrina e o Rock and Roll, criamos a banda Medula Óssea (esta 100% compatível com ele).
Mas aquele ano foi duro. Íamos a Curitiba a cada dois meses. A imunidade dele estava tão baixa que foi proibido de frequentar a escola e qualquer lugar fechado. Ficaria quase que um prisioneiro em casa. Era preciso encontrar uma motivação. O Estádio do Café, enorme e (felizmente neste caso específico) com pouco público, era um local que ele podia frequentar. Bastava ocupar um local onde não houvesse pessoas ao redor. Pra diminuir a tensão em ter que ir tomar agulhadas em Curitiba, mostrei pra ele que o Estádio do nosso rival Coritiba era vizinho do hospital, e o nosso time, vez ou outra, também tinha que encarar difíceis jogos ali, “fora de casa”.
Assim as coisas foram se encaixando... O time era metáfora para a vida. Não fomos tão bem em 2012, mas estávamos de volta! E qual não foi a alegria do Luiz Miguel (e minha) quando ouviu a Medula Óssea dele tocando no som do estádio? Mas aquele ano conturbado me fez perder as estribeiras no difícil dia do meu aniversário. Saí pedalando igual a um louco embaixo de uma tempestade, sem preparo e ferramentas em direção à casa de meu pai, em Bauru. Desisti em Sertanopolis, quando o corpo percebeu que seria impossível percorrer os 300 km...
Em 2013 as coisas seriam bem melhores! O Luiz Miguel teve uma melhora nos exames e, mesmo sem doador ainda, poderia voltar a conviver com os amiguinhos na escola. O nosso time fazia grandes jogos no estadual e, as vésperas do jogo que definiria o “campeão do primeiro turno”, diante do Coritiba aqui, “em casa”, meu irmão (baterista da Medula Óssea) encontrou o Técnico Claudio Tencati e pediu pro Luiz Miguel entrar em campo com seu jogador preferido, o goleiro Danilo. O Bruno Maffi, que trabalha na TV Tarobá, presenciou o pedido e a receptividade e boa vontade do nosso querido treinador. Assim conseguiram armar uma surpresa pro Luiz Miguel, o goleiro Danilo apareceria em um ensaio da banda Medula Óssea, daria uma camisa pra ele e ele entraria em campo com seu ídolo. Que dia feliz!



Mas o Londrina perdeu. A arbitragem jogou contra a gente. Mas a grande lição veio da torcida – 30 mil pessoas gritando “É Tubarão”, mesmo depois da derrota. A vida é assim, Luiz Miguel – não podemos desanimar com as derrotas. Aquele ano guardaria uma outra derrota amarga, em Caxias do Sul, pela série D do brasileirão.
No final do ano gravamos uma outra versão de hino do Londrina, desta vez um Blues pra “Bandeira do Meu Coração”. O Luiz Miguel foi o mascote-torcedor no clipe que gravamos no litoral norte de São Paulo:


O nosso time continuava sendo motivo de inspiração pro pequeno garoto. Mas vencer um campeonato estadual, depois de 22 anos, contra times da capital que tem muito mais dinheiro e estrutura era uma missão quase impossível. Mas o nosso hino já diz que o clube, pra nós, é maior que títulos “o que importa é o ideal de vitória, pois para nós tu serás sempre campeão”. Mas esta coisa do ideal era complicado quando se pensava na doença dele. Um “ideal de cura” não o devolverá a possibilidade de poder jogar bola e fazer educação física normalmente na escola. E por isso torci... O Londrina ser campeão, seria a motivação que estamparia a máxima da música do Charlie Brow Jr. Que diz que “o impossível é só questão de opinião. E disso os loucos sabem, só os loucos sabem...”! Na verdade, antes mesmo do título, no jogo dos 4 a 1 contra o Atlético-PR, o impossível já se oferecia para nós...
Um pouco de loucura, muito de determinação e um grito que explodia em Maringá. Ele viu da TV, pois era um espaço muito perigoso pra ele. Mas nos fomos, empurramos e levamos a bandeira da “Medula Óssea”.


Este ano começou difícil. Em Curitiba os médicos, que testavam (até hoje) uma medicação alternativa para poder adiar o transplante, diziam que não haveria um doador pra ele. O transplante deveria ser feito com uma medula metade compatível com a dele, a minha...
Caraca! Agora era eu o portador do liquido que poderá salvar sua vida. Ainda que seja um tratamento bem mais difícil do que seria com um doador 100% compatível, era um caminho, uma hipótese para a cura. Decidi que iria me cuidar. Passei a pedalar todos os dias. Os aplicativos de bicicleta pra celular me faziam sempre desafiar a mim mesmo. Foi em um tour de bike até o pedágio de Jataizinho com os amigos Juliano Casonatto e Márcio Silveira que, ainda em abril, fiz a promessa: “Se o Londrina subir pra série B do brasileirão, eu vou pra Bauru de bike”.
Os loucos sabem... Os loucos me entenderão... Quando Luizão (um Luiz – quem diria?), camisa 3, fez o gol do acesso, a minha viagem estava marcada. As pessoas ao meu redor, sobretudo o Luiz Miguel, ao fim daquele memorável jogo contra o Confiança-SE gritavam “Vai pra Bauru... Vai pra Bauru...”.
Amem!
 (foto/reprodução - RPC TV)

Decidi que partiria logo depois de completar 33 anos (foi ontem). Em um ano que superamos a terceira divisão nacional, um ano em que voltei aos blogs e à poesia em um “clã de 3 pessoas”, um ano de 3 mil motivos pra lembrar que a vida é curta e que, “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”... São tantos “3”, que decidi partir às 3:33 desta madrugada...
Não vou pensando nos riscos. Vou porque estou vivo! Vou porque quero superar a mim mesmo! Vou pra agradecer pelo time de futebol da nossa cidade, do nosso bairro, que vive nos dando motivos pra nunca desistir, vive nos mostrando que, pra nós, os loucos, não existe o impossível!
Obrigado Londrina Esporte Clube!
Obrigado Luiz Miguel e Clara (a irmã que canta todas as musicas da Falange Azul), vocês são a maior lição de vida e alegria que eu poderia ter!



Obrigado a todos vocês que chegaram ao fim deste longo texto e agora torcem por nós também!
Quanto a promessa, não garanto que eu a conclua (como sempre diz o Tencati, não dá pra prometer vitória, mas sim vontade) neste fim de semana. Mas será a primeira tentativa! Até o início da série B 2016, certamente conseguirei! Mas estou confiante... O universo (e até a grama do VGD) parece conspirar a favor...
Vamos pra Cima Tubarão!!!

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Primavera Interior

Quando o inverno apresentava todos os sinais de seu derradeiro fim,
Preparei-me para a conversão que traria alívio imediato de minha dor
Alegrei-me timidamente, mas já preparando a euforia que viria com os ventos da mudança.
Chegou a primavera?
Olhei pra direita e pra esquerda. Nada.
Olhei de minha cama as sombras de folhas que me acompanharam nas noites de insônia no inverno.
Nada.
As mesmas folhas, os mesmos movimentos, a mesma dor.
Pensei então que a primavera começaria de fato com o raiar do dia.
Esperei o sol.
O dia veio, lindo, em cores alegres, como toda primavera.
Mas havia espessa nuvem diante de meus olhos.
Uma nuvem rosada e leve, mas que escondia toda a beleza da estação que me traria de volta a alegria.
Raios!
Tudo parecia desesperadamente igual!
Alberto Caeiro, com sua sinceridade cortante me consolava com a ideia de que a primavera não podia ser uma pessoa e nem era uma coisa.
Viriam novas flores coloridas e novas folhas verdes.
Nada igual.
Mas pra mim, tudo parecia igual. Não igual à imagem da primavera passada, mas igual ao dia anterior, onde o inverno ainda dava seus últimos suspiros.
Suspirei.
Será que o inverno seguiria me assombrando pelos dias de primavera?
A primavera viria no verão ou viriam quentes dias de inverno em janeiro?
O Inverno sobreviveria pra sempre em mim?
Mas estes questionamentos só me vieram por conta da expectativa que criei. Esperava alívio imediato, mas talvez fosse preciso esperar.
Depois de um giro de 180 graus, a nuvem rosada se dissipou.
Um fio de esperança surgiu diante dos meus olhos.
A nuvem rosada agora se resumia a tonalidades de rosa, misturada com tonalidades de azul.
Toda a natureza me apareceu ali, recheada de beleza e vida.
Love, love, love...
Como na canção dos Beatles, as nuvens pareciam lembrar que tudo o que preciso é de amor.
180 graus que a terra deu em torno de si e a primavera, com meio dia de atraso, começou!

Agora meu coração já sente o frescor acalorado de um clima primaveril.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Ruínas e Barra-do-dia.

O sol está perdendo a guerra contra a escuridão! 
Os dias são cada vez mais curtos!
Há quem tenha perdido as esperanças.
Há os que falam do fim dos tempos...
Mas qual é o fim?
Qual é a finalidade?
Não espero responder!
Mas guardo a impressão de que cada um dará seu próprio fim aos tempos, afinal, como disse um poeta, viver não é preciso!
O fim dos tempos não deve ser preciso...
Somos construtores de ruínas, mas mesmo assim o sol segue aparecendo de manhã.
Tem ficado menos tempo no céu, é verdade...
Mas já há profetas que falem de um evento grandioso - um tal de solstício! Dizem que este dia está próximo e que, a partir daí, os dias ficarão cada vez mais longos e o sol vencerá a escuridão...

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Inútil Compaixão

Queria escrever o mais belo poema do mundo
Sem rima nenhuma, deixar meu recado
Queria saber que, só de te saber assim,
só de escrever... te salvei do afogamento!
Mas embora saiba da água que te oprime,
da correnteza implacável que poderá aproximar
ou afastar a maré da altura de tuas narinas...
Meu deus, que aflição!
De mãos atadas pela distância, escrevo.
De mãos livres, aqui, escrevo 
um conforto, um apoio, uma oração...
Mas não entendo de oração, gramática, compaixão...
Nas rimas que perdi outrora
No verso que retorna agora
Me coloco ao seu lado,
distante, a esperar
[Esperar com quem 
sempre espera comigo]
Esperar é o que posso
até tudo passar...

"...seu corpo exige atenção
E nessas horas nada mais importa.
Nem oração, nem poemas
Nem música, nem televisão..."
(Leoni)



sábado, 4 de abril de 2015

iPoem

Poeta parado na fila
Na fila que eu não vou parar
Num bloco de notas moderno
Poemas me ponho a criar.

Poeta parado na fila?
Poeta parado não há!
Na fila haverá poesia
Só basta ao poeta encontrar.

Poeta vivendo na fila
E nada o fará desligar
Se então acabar bateria
Fará poesia no olhar.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Sexta da Paixão

Do alto da cruz, todo lambuzado de um líquido vermelho que não era meu sangue,
Vi um povo piedoso fingindo acreditar que eu sangrava.
A minha voz repetia frases repetidas por mais de dois mil anos
em igrejas, lares, bares e outros teatros como aquele...
Do alto da cruz eu, muito vivo, fingia morrer!
E as pessoas que fingiam crer na minha morte,
queriam me ver vivo novamente.
Então eu, morto de cansaço,
dolorido pelos parafusos que agarrei com os dedos na cruz,
ferido pelas pancadas que levei
quando os que deveriam fingir me bater me bateram de verdade...
Assim eu, morto, fingia estar vivo...
Todo de branco, braços erguidos e uma mensagem de fé e paz...
Todos me vendo, não me viam!
Alegres voltavam pra casa pensando ter visto,
mesmo sem ver, toda a paixão de Cristo...
E se de devoção não sou assim tão adepto,
ao menos de paixão eu sou...
E assim, apaixonado, entregava minha pesquisa,
minhas escolhas no roteiro,
meus acréscimos interpretaríeis em uma história clássica...
E com ajuda de muitos em cena,
o ciclo por várias vezes se repetiu:
vivo fingindo estar morto e morto fingindo estar vivo...
Por mais de três vezes morri!
Nas mortes, a parte tudo que perdi, sempre eu ressuscitei!
Agora a minha voz, que antes imitava as palavras de deus,

é ela própria a voz de um deus...

terça-feira, 31 de março de 2015

Inspiração e Vida

Não vou usar o clichê de dizer que "são a razão da minha vida". Não são! Até porque não acho que a tal "razão" seja lá grande coisa...
Com eles aprimorei meu egoísmo (entre todos os "ismos" o que mais me agrada)! E não no sentido raso e liberal do termo. Não enxergo possibilidade de existência humana alheia ao egoísmo. Até o altruísmo, na medida em que faz bem, tem finalidade egoísta! Tudo o que se pretende coletivista remete à diluição e morte do indivíduo em favor de causas mortas, vazias, alheias a vida...
Mas voltando a reflexão, com eles aprendi a aproveitar cada segundo e viver na urgência de não poder mais amanhã. A doença que assombra e provoca piedade sob uma perspectiva pessimista, é a mesma que em nós impulsiona ao deslumbramento e a intensa vontade (força) de viver!
De minha parte, quero entregar meus dias na tentativa insana de prolongar sua existência comigo! Quero mostrá-los que, embora a luta deles seja só deles, estou pronto pra ficar sempre perto e, se necessário, sacrificar minhas maiores vontades em favor de suas necessidades...
Por que isso se sou egoísta?
O meu egoísmo é assim... Minha luta pra vislumbrar o impossível é o que me inspira! Por isso adapto o clichê:
Eles são a inspiração da minha vida!
Hoje é dia de comemoração simultânea! Há exatos 9 anos convivo com o curinga Luiz Miguel. Em um mesmo 31/03, há 4 anos, chegou a pequena jocker Clara!
Bicicletas e muita alegria neste aniversário! Que venham mais dias de luta! Estou preparado!

"O meu egoísmo é tão egoísta
Que o auge do meu egoísmo é querer ajudar.
Não sei porque nasci
Pra querer ajudar
A querer consertar
O que não pode ser.
Não sei pois nasci para isso
E aquilo e o inguiço de tanto querer.
Carpinteiro do universo inteiro eu sou assim!
No final, carpinteiro de mim." (Raul Seixas).

sábado, 21 de março de 2015

Luz e Sombra

Claro e escuro
Outono e verão lado a lado
De um lado no rosto a barba
Um lado do rosto pelado

Dia e noite
Sem sol, chuva e corpo molhado
Conservo a alegria da vida
E um peito tristonho apertado

Bem e mal
Pro bem todos dizem dotados
Verdades com ódio gritadas
O mal sempre está do outro lado

E eu que não sou minha barba
Nem o nome por que sou chamado
Não sou o meu tipo sanguíneo
Nem o sangue por mim derramado
Não sou um perfil de internet
Nem um texto por mim editado
Não sou os trabalhos que faço
Nem o lado do rosto pelado

Sou da esquerda a mão que escrevo
Da direita o pé que chuta em gol
Não sou da Gironda ou San Jacques
Calado poeta não sou...

Sou caos, sou rural, sou cidade
Não sou só mais um, sou milhares!
Onde posso evitar os altares
Maniqueus desta sociedade?

terça-feira, 10 de março de 2015

O Impossível e os Sonhos

Por “motivo de força maior” não comecei o ano fazendo aquilo que estudei muito pra fazer...E não é que eu tenha “esticado as férias”, como maldosamente sugeriram alguns. Vivi dias de tensão e sem dinheiro algum no bolso... Acompanhei eventos espetaculares promovidos por colegas de profissão, escrevi e participei da gravação de marchinhas de carnaval bem peculiares, além de atuar como “Bike Bloc” em uma manifestação de rua:


Não tive coragem (cara-de-pau) de fazer uma selfie minha bloqueando o transito na última manifestação, mas, todo de preto, ajudando ao professor (esquerda da foto) e a outros ciclistas, me tornei um “bike bloc”.

Depois de dias tensos iniciei o ano nos meus locais de trabalho. Ano passado eu precisava sair de casa às 6:15 pra começar a trabalhar às 7:45. Um lugar excelente. Mas distante... Hoje saí de casa com a minha bicicleta às 7:51 e cheguei às 7:58 no colégio onde realizaria a preparação pra volta as aulas na próxima quinta...
À tarde a pedalada para um outro colégio teve mais que sete minutos: Foram dez. Uma boa e estranha sensação de voltar pro colégio em que fui aluno durante os quatro anos finais do ensino fundamental e todo o ensino médio...
Agora ali será meu local de trabalho.
Não recusei o “tour” proposto aos professores novos. Meu olhar não era o de quem conhece, mas de quem relembra muitas coisas a cada passo... Descrever tudo o que senti e pensei a cada passo demandaria tempo e paciência pra tentar traduzir coisas intraduzíveis. Mas olhei com carinho pra sala onde fiz o terceirão. Também segurei um livro bem velho de série vaga-lume que li na adolescência. Era o mesmo livro? Sendo a mesma biblioteca, bem provável que sim...
Mas a lembrança mais gostosa de lembrar foi de Jessica sentada na beira da quadra de basquete. A quadra não existe mais, é agora um jardim com bancos... Mas o “meio-fio” de onde eu olhava Jessica sentada estava lá...
Os acontecimentos de hoje reuniram condições de tentar resolver um desafio urgente proposto por um amigo que é sempre gentilmente aberto a responder perguntas, mas desta vez perguntou. Apenas uma:

“Como seria, pra ti, querer algo que não pode ter nessa e nem em outra vida?”

Acho que todos nós temos “querências” de coisas que nunca poderíamos ter. Foi assim com a Jéssica. Ela “descolada”, membra atuante do “grêmio estudantil” e da oitava série... Eu da sétima, quieto, tímido...
Ela falou comigo uma vez toda sorridente. Estava em campanha. Sua chapa “saudações a quem tem coragem” pretendia controlar o grêmio. Eu, bobo, não vi a militante, mas a garota linda que dirigia a mim a palavra... Suor frio e coração acelerado como nunca antes...
Sempre fui meio “nerd”, apesar de sentar sempre no “fundão” da sala. Nunca tirei nota vermelha, mas Jessica foi responsável direta por eu nunca ter entendido logaritmo. Quase manchei de vermelho meu boletim... O fato de eu ter tirado nota azul (ainda que no limite), faz pensar que talvez eu nem estivesse tão apaixonado como a minha memória acha que eu estava... Mas lembro que escrevi uma carta. Uma folha de caderno em frente e verso com algumas palavras e o restante preenchido com a frase “Estou apaixonado por você”. Era moda ver no “Show de Xuxa” cartas quilométricas com “Eu te Amo” repetido milhares de vezes. Mas, já naquela época, eu achava “eu te amo” muito forte pra ser dito assim ao vento, sem o devido cuidado e sentimento...
Minhas primas (as gêmeas) e meu irmão acharam a carta e riram, leram em voz alta, debocharam... Fiquei irado e “fugi de casa”. Parei abandonado em frente a uma igreja pentecostal, bem próxima do colégio Willie Davids (local da minha primeira pedalada de hoje). Lá ouvi um sermão onde o pastor afirmava que somente aqueles que professavam a fé que ele pregava estavam escolhidos para habitar o reino dos céus. Eu ali, com raiva e sentado no meio-fio, do lado de fora da fé, pensava: “Estou fora do Reino de Deus...”.
Mas nem era tão ruim... Se o tal reino teria aquele cara falando aos berros daquele jeito, era melhor mesmo estar fora. O que eu queria mesmo era entrar no coração de Jéssica... Minha fuga durou menos de uma hora e, recuperada a carta, dei um jeito de enfiá-la na caixinha de correio dela... Não sei se ela foi transferida ou passou a fugir de mim, mas não tenho mais nenhuma lembrança dela além daquela à beira da quadra...
Outras paixões vieram, algumas velozes/agradáveis/fugazes, outras longas/sofridas/prazerosas. A maioria, como sugere a palavra, tem caráter passageiro... Mas existe uma espécie rara de paixão que parece não ter cura:

"...está aí uma coisa misteriosa. Existem bilhões de pessoas neste planeta. Mas a gente acaba se apaixonando por uma pessoa determinada e não quer trocá-la por nenhuma outra." (O Dia do Curinga – Dama de Espadas – Jostein Gaarder)

O fato é que, depois da frustração com a Jéssica, consegui realizar muitas coisas que muitos julgavam impossível. Eu e meu irmão, criados na rua - e sob tutela da vó Mafalda - éramos cotados pra ocupar uma “vaga” nos presídios do país. No entanto, frequentamos universidade e nos formamos! Como professor, sempre quis voltar pro colégio onde passei toda a minha adolescência e o início da juventude! Hoje voltei...
Algumas vontades passam. Outras seguem como impossibilidades. Outras a gente sacia. Algumas, depois de saciadas, voltam a condição de vontades... Pras impossíveis, acredito que vale a pena preservá-las. Quem sabe o impossível não seja mesmo só questão de opinião, como disse um chorão...
Sigo sonhando voar. É bom guardar esta impossibilidade! Talvez um dia alcance o céu e as estrelas. Mesmo sendo mais provável que a gravidade um dia me vença definitivamente, esmagando meus ossos inertes junto à terra, ainda assim vale a pena olhar pro céu com desejo...
Sei que não solucionei a pergunta. Não é o meu forte achar respostas! Gosto de perguntar... Mas espero ao menos ter colorido o urgente questionamento do amigo citado...
Pra fechar as emoções do dia de hoje, uma lembrança que impulsionou uma vitória pro agora: O Luiz Miguel ganhou uma bicicleta ao completar cinco anos. Depois de ter sido diagnosticado com doença rara no ano seguinte, precisou ser preservado de qualquer atividade de risco, pois sangramentos pra ele podem ter graves consequências. Agora, perto de completar nove anos e, graças à confiança dada por um equipamento de segurança, ele pôde finalmente dar as primeiras pedaladas sem rodinhas...
Um dia de muita alegria...
Se ele queria muito pedalar, vontade realizada. Entre outros desejos que ele também tem, quer muito um dia poder jogar bola (atividade não recomendada na situação dele). Quem sou eu pra desestimulá-lo? Ele sempre me diz que será “o melhor jogador de futebol do mundo!” E atuando com a camisa do Londrina!!!
O futuro não me interessa agora. Hoje, na quadra onde já fiz gol no filho do ídolo/goleiro Nenéca (a mesma onde meu pai jogava futsal na juventude) meu filho se tornou “o melhor ciclista do mundo”!
Quem sou eu pra duvidar de sonhos?
“Sonhar é acordar-se pra dentro.”

(Mário Quintana)

domingo, 25 de janeiro de 2015

Mergulho Ascendente

Precede a Romeu todo amor
Tragédia que esmaga o viver
Chama que aumenta na dor

Julieta sentindo o impossível!
Impossível é não te querer
Unidos por força invencível!

Tragédia que faz perecer
Saudade - presença ficou
Morrendo pra sobreviver
Da vida outra morte brotou

Anseio a viagem no tempo
Passado previ no baralho
Mergulho subindo no vento
Fazendo soneto ao contrário