sábado, 3 de outubro de 2020

A Semana mais quente da História (Londrina*)

 

Levantei-me tomado de uma inspiração matinal e pus-me a afrontar a poderosa estrela que garante toda a vida nesse pedaço de rocha esférica que chamamos de “Terra”:

— O que seria de ti, imponente estrela, se não fossem aqueles que iluminas? Tens tanto poder mas não podes nem mesmo nomear-se, pois és mudo! Eu, na minha pequenez, chamo-lhe Sol e, alimentando-me de sua energia, sou capaz de pensar e de falar! Mas tu não pensas e não falas. Não tens consciência, criatividade, voz...

Eu passaria o dia jogando na cara do astro o quando ele perde para mim em razão, mas fui surpreendido quando uma voz aguda e aquecida invadiu a minha mente. E a estrela simplesmente repetia-se em uma mesma frase:

— QUEIMEM, DESGRAÇADOS!

 

Bom dia, Sol!

* Londrina viveu o dia mais quente já registrado oficialmente. Segundo o Simepar foi registrado 39,5ºC no meio da tarde de ontem, sexta-feira 02/10/2020. Quarta feira tivemos 39,3ºC. O recorde histórico anterior a essa semana havia sido registrado em novembro de 1985, 39,2ºC. 

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Linhas Profundas

(a Alexandre Casonatto)

 

“Profissional de Saúde”

Para mim tem rosto, nome

E longas linhas de história

Ao meu lado

 

Dia desses ele abriu uma janela

Por onde enxerguei a linha

A tão falada “linha-de-frente”

 

Me sobraram então silêncios

Amplificados pela imagem

A imagem da linha...

 

Linha funda no rosto

E a tentação de sacralizar,

Dotar de heroísmo,

Agradecer, aplaudir...

 

Mas isso é tão irrisório

Quando aquela linha funda

Traduz pelos olhos: “Medo”.

 

Humanizar a linha

Tirar dali a imagem de peão

Em tabuleiro de xadrez.

Não vou romantizar!

 

Ali há um pai,

Um filho

Um irmão,

Um aniversariante...

 

Que tem medo.

Não tem superpoderes

E sente o peso.

Do traje e da circunstância.

 

Não posso sacralizá-lo.

Divinizar aquela linha

Seria banalizar a humanidade.

 

Quisera agora apenas ser poema

Ou um único verso de alívio.

Uma inspiração compassiva,

Que, tendo também linhas profundas,

Sofra junto...

 

Me atenho àquele olhar exausto

Ainda cheio de vida e vontade

Que em meio à tanta falta de ar,

 

Em meio a tantas mortes ao redor,

Por intermináveis dias de privação,

Resiste!

 

A este olhar

Este poema torto

Se dirige.

A este olhar de vida

 

Que hoje, mais uma vez

Completa e reinicia

Uma nova jornada

Ao redor do sol.

 


Não Essencial

 (a Daniel Vitor)

 

Nunca escrevi um verso essencial

Pois essa minha natureza de poeta

É inútil, a nada serve e é maioral

Sem servir, há liberdade, nunca meta

 

Interromper um soneto rimado na primeira estrofe

Já́ não é novidade em meus poemas experimentais

Deixar o verso livre e prosear, tal qual Caeiro, é sublime

E é inútil, insisto, e não essencial...

 

Mas por que escrever um poema que não serve para nada?

Serve em si mesmo, por isso é soberano e livre

Traduz a poesia das horas que nunca me abandona,

Me devolve ao vômito de versos de que abdiquei para...

 

Por que mesmo abdiquei de meus poemas?

Não sei...

Para que dedicar os instantes finais de um domingo,

Em meio a uma pandemia, para traduzir-me em poema?

 

Estou aqui tecendo esses versos soltos por causa de um amigo

Que me lembrou que sou poeta, como um enfermo dos olhos

Que teima em ver o mundo/poesia sabendo-se inútil e não essencial,

Tendo nessas premissas a justificativa de todo o seu universo

 

Este poema inútil e não essencial se encerra

Tornando à rima como volta a primavera

Olhando versos meus em outra terra

Novos agora após longa espera.

domingo, 31 de maio de 2020

Atalho para a Rua de Cima

            Se você está lendo este conto em uma rede social, talvez não saiba que ele é parte de uma coletânea inspirada no álbum “As Meninas da Rua de Cima”, do meu amigo e mestre Tonho Costa. Talvez você tenha em mãos um leitor de livros digitais, ou uma cópia impressa do livro que este projeto pretende tornar-se um dia. Nesse segundo caso, este conto estrategicamente está no meio do livro, e você já entendeu o espírito da coisa. Mas essa metade do caminho é também um marco inicial de inspiração, por isso narro em primeira pessoa, e não há nenhum problema em partir daqui!
            Estou na primeira década do século XXI, sou um estudante de cursinho pré-vestibular e estou deitado no chão do quarto que divido com meu irmão lendo “O Mundo de Sofia” e pensando seriamente em estudar a graduação em Filosofia. Se bem que Letras seria legal também. Em meio aos pensamentos perco o foco do que estava lendo e fecho o livro. “O Romance da História da Filosofia” é o subtítulo. A palavra “romance” me remete ao curso de Letras. Mas entre a primeira e a última palavra há um caminho do meio “História”. Seria muito bobo dizer que escolhi minha profissão através da capa de um livro norueguês infanto-juvenil? Pois foi...
            Saí de casa empolgado, já tentando olhar o mundo com olhos de historiador. Qual é a construção mais antiga da Vila da Fraternidade? Saio da minha rua, a Santa Apolônia e subo a Santa Madalena. A minha direita o posto de saúde, que, ouvi dizer, fora a primeira casa de alvenaria do bairro. A minha esquerda vejo a Igreja Católica, que embora tenha um prédio mais recente, ainda mantem em pé a primeira capelinha do bairro, logo na esquina com a Santa Cecília. Perdido em meus pensamentos sou surpreendido pela menina mais linda do bairro!
— Você é inteligente, né? Deve saber tudo de Química! Eu e ela (apresenta a amiga) vamos prestar Biologia ano que vem e precisamos de ajuda para estudar!
            Olho para ela e a amiga e sinto que cada segundo passa como se fosse uma eternidade. Mas não é uma eternidade que me ajuda a formular as melhores palavras a serem ditas. Se pudesse falar o que o coração queria, sem qualquer filtro moral, diria simplesmente “Se você me namora, posso entender até de Física Quântica...”. Então o medo do ridículo supera a paralisia e digo:
— Nem sou tão inteligente assim. Mas entendo um pouco de química sim! Se quiserem, podemos marcar um dia para estudarmos.
            Elas gritam como um time de voleibol comemorando um ponto, me agradecem e se afastam. Como pude ser tão dissimulado? Embora tenha uma facilidade natural para as ciências humanas, Química não me entra na cabeça! Menti! Descaradamente, menti! Agora eu deveria parar de ler meu romance tão interessante para estudar uma maldita tabela periódica...
Valia a pena?
Ah, se valia... Bastava pensar naquele par de olhos verdes, aquele sorriso largo e aquela voz profunda e hipnotizante. E dentro da minha consciência uma meta afim de alcançar a um desejo: “se você me namora, eu me adestro em seu assunto...”. Fui a biblioteca pública e estudei química por dois dias seguidos. À noite, no cursinho, esperava mais pela professora de Química do que pelo professor de História. No terceiro dia, quando achei que já tinha conhecimento para desenrolar pelo menos uma aula, fui até a rua de cima, a Santa Cecília, onde ela morava. Gritei no portão e a irmã mais nova dela saiu e falou:
— Asãmnhãunhizuammgusimank
— QUE???
— ASÃMNHÃUNHIZUAMMGUSIMANK!!!
            Eu não entendia o que a menininha falava, e como nenhum adulto apareceu para falar comigo, segui o único gesto que entendi, quando a menina apontou o dedo para o lado direito. Caminhei pela Santa Cecília olhando dentro de cada quintal para ver se encontrava a minha pretensa aluna de Química. Funcionou! Lá estava ela, atrás de um balcão, sentada em uma mesa com um computador ligado à sua frente.
— Oiiiii!!!
            Ela me recebeu com tanto entusiasmo que não pude conter nenhum dos movimentos possíveis que meu rosto pode dar ao sorrir. Ela nem me deixou falar e perguntou:
— Como você me achou aqui?
— A sua irmã me falou!
            Eu não podia dizer que a achei por pura sorte, já que a irmã dela falava num dialeto indecifrável. Havia muita coisa a perder se eu, por acaso, crio um mal estar criticando a comunicação da irmãzinha dela. Então fui direto ao ponto:
— E então, quando vamos estudar Química?
— Eu bem que precisava mesmo, mas arrumei esse trabalho de secretária substituta por um mês, então vai ter que ser depois, tudo bem?
— Claro!!!
            Quase não consegui esconder o alívio por me libertar da urgência em aprender Química! Ela passava horas ali sozinha, já que a secretária titular estava em férias e, por isso tinha deixado todo o trabalho mais difícil adiado ou adiantado. Aí passei a acompanha-la em seu ofício em boa parte do tempo naquele mês. Por fim, ela desistiu de estudar Biologia e nem prestou o vestibular naquele ano. Eu passei em História e, no ano seguinte, ela foi estudar no mesmo Centro Universitário que o meu, no curso de Letras. As idas ao escritório na rua de cima, depois de um mês viraram idas à casa dela, na mesma rua de cima.
            Tudo em minha casa tinha ficado mais intenso. Os livros que eu lia eram empolgantes. O clima londrinense, o melhor do mundo naquele outono. O céu tinha um azul profundo e todos os passarinhos, mesmo a mais trivial das pombas, eram verdes. Quando algum amigo, daqueles que ficavam horas ali em casa, me chamava no portão, eu nunca podia fingir que não estava, pois minha mãe dizia que era pecado mentir. Eu precisava escapar de meus amigos sem mentir. Então notei que a casa aos fundos da minha era a de uma tia-avó, que morava na rua de cima. Construí uma escada com madeiras velhas e escorei-a no muro alto dos fundos. Do lado de lá havia um barranco e uma pequena plantação de bananeiras. Pulei, ajeitei ali alguns tijolos para facilitar uma eventual volta no escuro e atravessei o quintal da tia idosa até alcançar o portão que me colocava quase na frente do meu alvo, a casa mais importante! O lar da Menina da Rua de Cima.
            Então, depois de pouco tempo, ela me namorou, e aquele atalho me foi útil por dois anos. Claro que com o tempo meus amigos descobriram a tática, e passaram a vir me chamar aqui.
Como?
Eu disse aqui?
Sim!
Dois anos depois me mudei para a Rua de Cima. Os quartos que eram dela e da irmã, agora são dos nossos dois filhos. O quarto que era o de seus pais, agora é o nosso. Hoje comemoramos o aniversário dela, e as Ruas de Cima da vida me parecem ser bem mais especiais que o Monte Olimpo, da mitologia grega. As Ruas de Cima existem, com suas meninas e seus encantos. Com gente gentil e gente grosseira. E apesar de todos os problemas que existem no mundo real, beber dessa dose outrora ideal e agora palpável de “Rua de Cima” vale a vida.

*Este conto tem como plano de fundo a música "Se Você me Namora", de Tonho Costa, disponível no Spotfy, Apple Music e YouTube.


sábado, 22 de fevereiro de 2020

O Estranho Cigarro Fino de Malena

         Certamente você já viu Malena por aí! E não é que ela goste muito de aparecer, mas, não obstante seu recato, é impossível que ela passe despercebida. A sua beleza tem um brilho tão intenso, que, por vezes, quase me esqueço que não estou olhando para a tela de uma televisão de altíssima qualidade em dia de transmissão do tapete vermelho do Óscar.  É tanta luz emanando daquela pessoa, que quase me esqueço que ela é uma senhora do lar a caminho da feira para comprar verduras frescas a serem usadas no almoço.
Não se engane, Malena não cozinha, embora tenha habilidade neste ofício. Seu marido mantém uma empregada doméstica, responsável pelos cuidados de sua enorme casa e das refeições da família. Mas Malena, a gentil Malena, faz questão de escolher pessoalmente os ingredientes para o almoço. E ela leva muito à sério, quase eleva ao nível de sacralidade a arte de escolher verduras. É ali que se manifesta todo o esplendor daquela mulher que, para justificar seu papel no mundo, tem que ser sempre, bela, do lar e recatada.
Malena acena para os conhecidos na feira, conversa com o seu Kinjon Humos sobre a qualidade das folhas disponíveis naquele dia. Para na banca do pastel, onde suas amigas Lourdes e Augusta já estão lhe esperando para botar a tradicional conversa da feira em dia:
— Menina, você viu o Fernandinho, filho da Katia?
— Que dó, não é? Apareceu todo pintado de tatuagem na igreja no domingo!
— Se a Katia não botar um limite nesse rapaz, logo ele estará fumando droga por aí...
Então as três concordam:
— “Deus o livre...”.
Como agradecimento por sua atenção até aqui, vou lhe poupar dos outros assuntos, tão desinteressantes quanto as tatuagens do filho da Katia. Espero que não tenhas herdado desta narrativa antipatia de nenhuma espécie pela minha musa, Malena. Embora essa conversa que estou omitindo seja, de fato, extremamente maçante, gostaria de colar aqui com precisão cirúrgica a personagem poética que é Malena em cada um dos seus movimentos. Apesar de, às vezes, ficar falando mal dos outros, ela preserva essa luz radiante. E eu, pobre mortal de luz opaca, contentei-me por anos com o benefício de vislumbrar esta luz. Mas então tornei-me adulto no dia em que ela virou toda sua luz na minha direção e percebeu-se observada! Sorriu, piscou os olhos e fez um biquinho como quem me mandasse um beijo. Esfreguei os olhos, olhei ao redor para ver se não era o marido dela ou outra pessoa perto de mim quem recebia aqueles gestos sublimes. Não havia ninguém ao meu redor. Mas quando olhei em sua direção, lá estava ela com a Lourdes e a Augusta colocando a fofoca em dia. 
        Foi um delírio. Sim, eu tinha certeza que era um delírio. Enquanto tratava de me acertar com as minhas alucinações, uma voz atrás de mim falou:
— Tem fogo, Kaderbeck?
Ela sabia meu nome! ELA SABE MEU NOME!!! Não, meu nome não é “Kaderbeck”. Nem Malena se chama Malena, são nomes fictícios, embora as pessoas por trás dos nomes, garanto serem reais. Mas preciso proteger Malena. O que vem a seguir é um segredo que, estou convencido, não pretendo colar na límpida imagem por traz desta beldade que, aqui, chamo de Malena. Ela então prosseguiu:
— Você fuma, não é? Sempre vejo seu pai fumando aí na frente, você deve fumar também, não é? E aí, tem fogo?
— Claro!!! Preciso pegar ali em casa.
Eu morava na rua da feira. E era da calçada ao lado de casa que passei a observar aquela distinta moradora da rua de cima. Ela “Morava na esquina, ao lado do portão de entrada do parque da quadra” onde eu jogava bola com meus amigos. Mas eu gostava mesmo é de observa-la descer a rua para a feira do meu quintal. O seu Kimjon Humos tinha um acordo com meu pai para estacionar a sua Kombi de verduras bem ali, em cima da nossa calçada. Naquele dia, as suas caixas de madeira empilhadas me roubaram toda a visão da feira. Mas agora Malena me pedia fogo e, sem ser convidada, me seguiu por traz da Kombi e das caixas até a minha casa. Meus pais trabalhavam, então, peguei o isqueiro do meu pai e, fingindo que era meu, enfiei seu maço de cigarro paraguaio no bolso.
— Aqui o fogo! Soltou algum fio da roupa, dona Malena? Precisa cauterizar o tecido?
— Dona Malena, piá? Me poupe! Preciso do seu fogo para me acender!
Ela pronunciou isso de maneira tão sensual, que voltei a questionar se estava delirando. A coroa dos meus sonhos estava ali, na sala de minha casa, sozinha comigo.
— O fogo é pra me acender esse cigarro!
Tirou da bolsa um pedaço de papel alumínio, de onde desembrulhou um tipo de cigarro bem mais fino que os do meu pai. Então ela me deu e falou:
— Acende! Dá o primeiro trago!
Nem de cigarro eu gostava. Sempre fugi da fumaça fedorenta que meu pai produz. Mas não podia negar. Eu suportaria todo o odor do mundo em homenagem ao brilho daquela mulher. É claro que eu ascendi o seu estranho cigarro e dei o primeiro trago. Tossi um pouco. Ela riu. Para a minha enorme surpresa, aquela fumaça não era tão desagradável quanto a do meu pai! Seria algum tipo de cigarro importado de um lugar muito distante do Paraguai? Então ela pegou o cigarro e, na cena mais improvável que poderia imaginar, tragou profundamente, com estilo e habilidade de quem faz isso há muito tempo. Tive uma vontade incontrolável de rir. O corpo de Malena parecia agora envolto por uma onda, como uma miragem. Sua camisa social branca com um laço de fita preto parecia se desabotoar. Ri compulsivamente ao ver a saia longa marrom de Malena ir ao chão. Diante dos meus olhos um corpo escultural completamente nu se materializou. Mas, naquela altura, eu já tinha certeza que era delírio. Até as paredes da sala oscilavam. E eu ria de uma alegria que não sabia de onde vinha. Estaria ficando doente ou louco? Malena pediu para eu segurar seu cigarro e puxou minha camiseta. Aproveitei para dar outro trago. Então ela desabotoou minha calça e eu, já certo de que se tratava de um sonho, deixei o sonho conduzir-se por si só a partir de então...
Poupo-os agora dos detalhes deste momento delirante. Só para equilibrar a história, já que eu tinha lhe poupado de um trecho extremamente chato, agora deixo por conta de vossa imaginação o ápice desse enredo.
Naquele dia não realizei nenhuma das tarefas diárias delegadas por meus pais. Quando meu pai chegou, me viu dormindo nu no sofá com seu isqueiro e maço de cigarros no chão. Enquanto ele tentava em vão me interrogar e esbravejava por ter visto aquela “visão do capeta”, palavras dele, eu pensava se minha mente era tão criativa a ponto de ter construído todo esse cenário sozinha. Conclui que sim, que tinha vivido uma manhã de loucura, por conta da devoção de toda uma adolescência pela figura de Malena.
Na outra semana reiniciei a observação da feira a espera de Malena. Ela nem me viu, como sempre. Encontrou-se com Lourdes e Augusta, como sempre. Despediu-se delas e, quando parecia se dirigir para sua casa, na rua de cima, virou-se para o meu lado, caminhou decidida e sensual até parar diante de mim e perguntar:
— E aí? Ainda tem fogo?


*Este conto é uma livre interpretação minha da música "Malena", de Tonho Costa, disponível no Spotfy, Apple Music e YouTube.