Tudo isso por causa de um
time de futebol?
Perdeu o juízo?
Perdeu o juízo?
Sabia que você pode morrer no
caminho?
Isso é loucura!!!
Mas deixe eu te contar um
segredo, os loucos são as melhores pessoas!
Escrever aqui não é uma forma
de me justificar, pois tudo está muito claro pra mim. Mas tentar traduzir todos
os sentimentos que me trouxeram ate aqui, pode ser uma maneira de incentivar a
mim mesmo na guerra particular que vivo em cada batalha de 24 horas e uns
quebradinhos a bordo deste planetinha errante e ilhado em meio a um imenso e absurdo
espaço vazio...
Pra entender o porquê de eu
estar partindo pra Bauru de bicicleta às 3:33 da madrugada vindoura, seria
preciso contar toda uma história de mais de 10 mil anos, mas voltemos apenas
quatro, ao ano de 2011.
Era meu aniversário, o que,
no meu calendário particular, chamo de “dia do Curinga”. Já estavam armadas as
comemorações. Havia sido um ano mágico. Eu tinha cumprido todos os créditos do
mestrado em história social e só me restaria escrever uma dissertação inovadora
– um texto que citava músicas em mp3, sem as letras. A primeira dissertação da
UEL que seria entregue em formato digital. Além do mestrado, a inspiração extravasava.
Criei este blog pra canalizar os pensamentos e sentimentos em poesia e prosa...
Mas nem tudo foram flores
naquele ano tão primaveril. O meu filho Luiz Miguel, com seis anos incompletos,
estava com uma gripe forte e incessante havia uma semana. Fomos ao hospital
pela manhã e, o final do dia, que seria em um churrasco, acabou na UTI do
hospital evangélico. Depois de viver dias dramáticos e cheios de suspeitas (primeiro
de gripe, depois de dengue hemorrágica, e por ultimo leucemia), ele foi
diagnosticado com uma doença genética rara – Anemia de Fanconi. A Medula Óssea
estava em processo de falência e seria necessário encontrar um doador compatível
para que ele fizesse um transplante em Curitiba.
Em meio ao caos e a angustia,
minha vida quase paralisou em 2012. Só consegui escrever minha dissertação de
mestrado graças a compreensão e apoio do meu orientador e amigo Gabriel Giannattasio.
Mas um projeto foi colocado em prática. O Luiz Miguel foi comigo em quase todos
os jogos do Londrina na divisão de acesso do Paranaense no ano anterior. Com
alguns amigos de uma velha banda, tínhamos a intensão de gravar o Hino do LEC
em versão de Rock, comemorando o acesso. Já que não tínhamos um doador
compatível pro Luiz Miguel e ele era totalmente compatível com a paixão pelo
Londrina e o Rock and Roll, criamos a banda Medula Óssea (esta 100% compatível
com ele).
Mas aquele ano foi duro. Íamos
a Curitiba a cada dois meses. A imunidade dele estava tão baixa que foi
proibido de frequentar a escola e qualquer lugar fechado. Ficaria quase que um prisioneiro
em casa. Era preciso encontrar uma motivação. O Estádio do Café, enorme e
(felizmente neste caso específico) com pouco público, era um local que ele
podia frequentar. Bastava ocupar um local onde não houvesse pessoas ao redor. Pra
diminuir a tensão em ter que ir tomar agulhadas em Curitiba, mostrei pra ele
que o Estádio do nosso rival Coritiba era vizinho do hospital, e o nosso time,
vez ou outra, também tinha que encarar difíceis jogos ali, “fora de casa”.
Assim as coisas foram se
encaixando... O time era metáfora para a vida. Não fomos tão bem em 2012, mas
estávamos de volta! E qual não foi a alegria do Luiz Miguel (e minha) quando
ouviu a Medula Óssea dele tocando no som do estádio? Mas aquele ano conturbado
me fez perder as estribeiras no difícil dia do meu aniversário. Saí pedalando
igual a um louco embaixo de uma tempestade, sem preparo e ferramentas em
direção à casa de meu pai, em Bauru. Desisti em Sertanopolis, quando o corpo
percebeu que seria impossível percorrer os 300 km...
Em 2013 as coisas seriam bem
melhores! O Luiz Miguel teve uma melhora nos exames e, mesmo sem doador ainda,
poderia voltar a conviver com os amiguinhos na escola. O nosso time fazia
grandes jogos no estadual e, as vésperas do jogo que definiria o “campeão do
primeiro turno”, diante do Coritiba aqui, “em casa”, meu irmão (baterista da
Medula Óssea) encontrou o Técnico Claudio Tencati e pediu pro Luiz Miguel
entrar em campo com seu jogador preferido, o goleiro Danilo. O Bruno Maffi, que
trabalha na TV Tarobá, presenciou o pedido e a receptividade e boa vontade do
nosso querido treinador. Assim conseguiram armar uma surpresa pro Luiz Miguel,
o goleiro Danilo apareceria em um ensaio da banda Medula Óssea, daria uma
camisa pra ele e ele entraria em campo com seu ídolo. Que dia feliz!
Mas o Londrina perdeu. A arbitragem
jogou contra a gente. Mas a grande lição veio da torcida – 30 mil pessoas
gritando “É Tubarão”, mesmo depois da derrota. A vida é assim, Luiz Miguel –
não podemos desanimar com as derrotas. Aquele ano guardaria uma outra derrota
amarga, em Caxias do Sul, pela série D do brasileirão.
No final do ano gravamos uma
outra versão de hino do Londrina, desta vez um Blues pra “Bandeira do Meu Coração”.
O Luiz Miguel foi o mascote-torcedor no clipe que gravamos no litoral norte de
São Paulo:
O nosso time continuava sendo
motivo de inspiração pro pequeno garoto. Mas vencer um campeonato estadual,
depois de 22 anos, contra times da capital que tem muito mais dinheiro e estrutura
era uma missão quase impossível. Mas o nosso hino já diz que o clube, pra nós,
é maior que títulos “o que importa é o ideal de vitória, pois para nós tu serás
sempre campeão”. Mas esta coisa do ideal era complicado quando se pensava na
doença dele. Um “ideal de cura” não o devolverá a possibilidade de poder jogar
bola e fazer educação física normalmente na escola. E por isso torci... O
Londrina ser campeão, seria a motivação que estamparia a máxima da música do
Charlie Brow Jr. Que diz que “o impossível é só questão de opinião. E disso os
loucos sabem, só os loucos sabem...”! Na verdade, antes mesmo do título, no
jogo dos 4 a 1 contra o Atlético-PR, o impossível já se oferecia para nós...
Um pouco de loucura, muito de
determinação e um grito que explodia em Maringá. Ele viu da TV, pois era um
espaço muito perigoso pra ele. Mas nos fomos, empurramos e levamos a bandeira
da “Medula Óssea”.
Este ano começou difícil. Em
Curitiba os médicos, que testavam (até hoje) uma medicação alternativa para
poder adiar o transplante, diziam que não haveria um doador pra ele. O transplante
deveria ser feito com uma medula metade compatível com a dele, a minha...
Caraca! Agora era eu o portador
do liquido que poderá salvar sua vida. Ainda que seja um tratamento bem mais difícil
do que seria com um doador 100% compatível, era um caminho, uma hipótese para a
cura. Decidi que iria me cuidar. Passei a pedalar todos os dias. Os aplicativos
de bicicleta pra celular me faziam sempre desafiar a mim mesmo. Foi em um tour
de bike até o pedágio de Jataizinho com os amigos Juliano Casonatto e Márcio
Silveira que, ainda em abril, fiz a promessa: “Se o Londrina subir pra série B
do brasileirão, eu vou pra Bauru de bike”.
Os loucos sabem... Os loucos
me entenderão... Quando Luizão (um Luiz – quem diria?), camisa 3, fez o gol do
acesso, a minha viagem estava marcada. As pessoas ao meu redor, sobretudo o
Luiz Miguel, ao fim daquele memorável jogo contra o Confiança-SE gritavam “Vai
pra Bauru... Vai pra Bauru...”.
Amem!
(foto/reprodução - RPC TV)
Decidi que partiria logo
depois de completar 33 anos (foi ontem). Em um ano que superamos a terceira
divisão nacional, um ano em que voltei aos blogs e à poesia em um “clã de 3
pessoas”, um ano de 3 mil motivos pra lembrar que a vida é curta e que, “tudo
vale a pena quando a alma não é pequena”... São tantos “3”, que decidi partir
às 3:33 desta madrugada...
Não vou pensando nos riscos. Vou
porque estou vivo! Vou porque quero superar a mim mesmo! Vou pra agradecer pelo
time de futebol da nossa cidade, do nosso bairro, que vive nos dando motivos
pra nunca desistir, vive nos mostrando que, pra nós, os loucos, não existe o
impossível!
Obrigado Londrina Esporte
Clube!
Obrigado Luiz Miguel e Clara
(a irmã que canta todas as musicas da Falange Azul), vocês são a maior lição de
vida e alegria que eu poderia ter!
Obrigado a todos vocês que
chegaram ao fim deste longo texto e agora torcem por nós também!
Quanto a promessa, não garanto que eu a conclua (como sempre diz o Tencati, não dá pra prometer vitória, mas sim vontade) neste fim de semana. Mas será a primeira tentativa! Até o início da série B 2016, certamente conseguirei! Mas estou confiante... O universo (e até a grama do VGD) parece conspirar a favor...
Vamos pra Cima Tubarão!!!