É tanto pó
que me sinto Arturo Bandini, o autor de "O Cachorrinho Riu".
Logo eu,
autor de muitas coisas e de coisa alguma...
Tanto pó na
Pequena Londres deste inverno seco,
Que parece
estar ao alcance das mãos, desenhando meus rastros!
"Pergunte
ao pó por onde andei".
Talvez o pó
dos caminhos por onde deixei pegadas
Ou até, mais
ainda, meus rastros de pneu de bicicleta,
Falem mais
de mim que estas poeirentas palavras...
O céu
anuncia aos olhos o fim da estiagem,
Os olhos
que, umedecidos, travaram dura guerra contra a secura dos dias.
O cheiro de
chuva que me chega às narinas anuncia a água do céu.
As narinas
que se defenderam do pó com coriza,
que se
escorria nojenta em meu bigode e barba.
O vento que
sopra no rosto, agora sem barba,
Traz o toque
fresco a uma pele que se escondeu como pôde da secura.
O deserto
invernal finalmente vai-se embora...
Os ouvidos
escutam tal qual um rock progressivo o som de um trovão!
Bendito
deserto freezer!
Que me faz
cultuar agora a chuva como um milagre!
Bendita
chuva que chega, neste baixo inverno,
Para começar
a preparar os caminhos floridos da primavera!
Não me sinto
mais o trágico escritor da poeirenta Los Angeles dos anos 1930!
Sou agora eu
mesmo!
Ainda que
não saiba ao certo o que ou quem sou eu agora!
Será que
importa mesmo saber?
Não sei...
Só sei que a
chuva que sinto caindo devagar em minha pele
Muda a
estação de meus sentidos!
Já não é
mais tempo de me desaprender!
Já não é
mais tempo de me deixar de fora, nas margens de mim.
É tempo de
me apreender!
É tempo de
ser Jeferson Sabran, autor da obra mais legal
Só por ser
legal pra mim, que a construo e acompanho como primeiro leitor...
Sou agora um
trágico autor de mim mesmo.
Autor sem
rastros de pó, mas cheio de respingos d'água,
Que
rapidamente se dissolvem e se devolvem ao cosmos
Pela força
da energia dos raios de sol que enchem de vida
O cenário
que se enxerga daqui da linha tropical do Sul do Mundo.
Mas não
agora!
Pois agora
chove!
Agora não há
mais rastros de pó,
Apenas água
que escorre e flui
Assim como
eu, que já não sou mais o autor do primeiro verso.
E que não
serei mais o autor deste poema sem rima, assim que escrever o ponto final.