terça-feira, 15 de agosto de 2017

Dias secos e olhos úmidos

É tanto pó que me sinto Arturo Bandini, o autor de "O Cachorrinho Riu".
Logo eu, autor de muitas coisas e de coisa alguma...
Tanto pó na Pequena Londres deste inverno seco,
Que parece estar ao alcance das mãos, desenhando meus rastros!
"Pergunte ao pó por onde andei".
Talvez o pó dos caminhos por onde deixei pegadas
Ou até, mais ainda, meus rastros de pneu de bicicleta,
Falem mais de mim que estas poeirentas palavras...
O céu anuncia aos olhos o fim da estiagem,
Os olhos que, umedecidos, travaram dura guerra contra a secura dos dias.
O cheiro de chuva que me chega às narinas anuncia a água do céu.
As narinas que se defenderam do pó com coriza,
que se escorria nojenta em meu bigode e barba.
O vento que sopra no rosto, agora sem barba,
Traz o toque fresco a uma pele que se escondeu como pôde da secura.
O deserto invernal finalmente vai-se embora...
Os ouvidos escutam tal qual um rock progressivo o som de um trovão!
Bendito deserto freezer!
Que me faz cultuar agora a chuva como um milagre!
Bendita chuva que chega, neste baixo inverno,
Para começar a preparar os caminhos floridos da primavera!
Não me sinto mais o trágico escritor da poeirenta Los Angeles dos anos 1930!
Sou agora eu mesmo!
Ainda que não saiba ao certo o que ou quem sou eu agora!
Será que importa mesmo saber?
Não sei...
Só sei que a chuva que sinto caindo devagar em minha pele
Muda a estação de meus sentidos!
Já não é mais tempo de me desaprender!
Já não é mais tempo de me deixar de fora, nas margens de mim.
É tempo de me apreender!
É tempo de ser Jeferson Sabran, autor da obra mais legal
Só por ser legal pra mim, que a construo e acompanho como primeiro leitor...
Sou agora um trágico autor de mim mesmo.
Autor sem rastros de pó, mas cheio de respingos d'água,
Que rapidamente se dissolvem e se devolvem ao cosmos
Pela força da energia dos raios de sol que enchem de vida
O cenário que se enxerga daqui da linha tropical do Sul do Mundo.
Mas não agora!
Pois agora chove!
Agora não há mais rastros de pó,
Apenas água que escorre e flui
Assim como eu, que já não sou mais o autor do primeiro verso.
E que não serei mais o autor deste poema sem rima, assim que escrever o ponto final.



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