Há exatamente uma década eu lia Nietzsche em um leito no hospital. Aguardava o momento de olhar pela prmeria vez para a minha filha. Ela chegava bem no dia do quinto aniversário do irmão.
Um erro de
digitação em um documento havia me tirado de forma cruel a possibilidade de dar
aulas como professor substituto. Fazia mestrado na UEL e concorria à uma bolsa
da Capes. Por isso lia Nietzsche. Eu era pai de dois filhos. E desempregado.
Mas o filósofo me dizia "amor fati". E assim seria, pensava...
A menina nasceu
e logo foi possível vê-la na encubadora. Mas ela não sairia de lá naquele dia.
Nasceu com atresia de esofago e foi transferida para o Hospital infantil, onde
deveria fazer uma cirurgia como única chance de sobreviver. Deu certo. Mas
foram duas semanas de UTI. Nesse meio tempo veio a minha bolsa e, graças ao SUS
e seus profissionais, o LM também pôde receber a irmã em casa.
Amor fati!
A morte próxima
de minha filha motivou-me. Aquele outono de 2011 seria o mais intenso de minha
vida. E a curva apontava para cima. Não sei que tipo de energia me tomou, mas o
inverno de 2011 fez eu sentir-me um Zaratustra chegando ao grande meio-dia da
existência. Prosas, futebol, poesia, rock and roll... Era do mestrado para o
doutorado. Dali para a docência e carreira acadêmica.
Mas no dia do
meu aniversário, ao final da primavera, o @lmcabran vomitava sangue. Ardendo em
febre no meu colo, precisou ser transferido do hospital infantil (onde tudo
começou) para uma UTI no Evangélico.
Há dez anos
refaço mentalmente outono, inverno e primavera. Há dez anos tento escapar
àquele ciclo trágico. Dor-prazer-dor...
Li outro dia
que a psicologia chama esse ciclo mental de retorno aos eventos de
"trauma".
"(...) Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de retornar, e tudo na mesma ordem e sequência’ [...]" – Nietzsche, A Gaia Ciência, §341
Um retorno à
Londrina depois de consulta e exames em Curitiba - 2019
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