quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Meus Quintais, meu Universo

“O que é que eu sou, de onde eu sou, pra onde eu vou”, pergunta a voz que um dia foi do Tonho Costa, no momento em que gravou a primeira música de CD “Universo Quintal”. Já não é mais o Tonho de agora falando... Entretanto, tenho como certo ao colocar o CD, que aquela voz se dirige (agora) a mim e aos que comigo ouvem a canção, que faz apenas um pedido: “licença, essa casa é de vocês, e eu vim pra cantar. Sem a sua permissão, não posso ficar...” Seja bem-vindo amigo! Tem minha benção...

Peço licença também agora aos que tiveram paciência de chegar até aqui (afinal, hoje em dia é difícil alguém ler pacientemente mais que 140 caracteres...) pra falar do meu universo e seus quintais...

Foi num quintal, da minha primeira casa que ouvia meu pai tocando a seu modo as canções do Raul Seixas... No quintal da vó Dalva, eu, meu irmão e primos, pulávamos ouvindo o som do toca discos do tio Milton, de onde ele gravou e me presenteou certa vez, com minha primeira fita K7 contendo seleções das músicas do Raul...

No quintal de casa, li pela primeira vez “O Pequeno Príncipe”, livro de um principezinho apaixonante e apaixonado, que mora em um planeta do tamanho de um quintal...

Tenho bem vivo na memória o dia em que minha mãe entrou no quintal de casa, onde eu e meu irmão, sem brigar, a esperávamos desde o início do dia... Ela realmente cumprira a promessa, e trouxe o nosso tão sonhado vídeo-game, como presente do dia das crianças e prêmio por nosso "bom" comportamento aquele mês.

Várias vezes o quintal de casa abrigou churrascos, aniversários, brincadeiras, longas conversas e até as orações das mulheres calejadas da própria fé, pois também “fui criado em ramo bom”...

No quintal de casa confidenciei a um amigo, que estava apaixonado pela guria que passava por ali de vez enquanto... Foi esse amigo, que me deu as dicas (na teoria é claro – hahahaha) para meu primeiro beijo. Me falou das diferenças entre um abraço despretencioso e um abraço de beijo... Obviamente menti pra ela antes, dizendo ser “experiente” no assunto...

Vieram outros primeiros beijos, sempre melhores. E era no quintal que pensava neles, e nas que naquele momento, eram protagonistas daquela suprema arte de se comunicar sem dizer palavra... “Aquilo eu senti, um sei lá o que...”. Essas sensações mágicas, que inspiram os poetas, e confere brilho e vida às cores do mundo, vão se esvaindo com o tempo... Vão se calejando, perdendo o sentido... Não só essa dos instantes, prazerosos e dolorosos (a um só tempo) que antecedem o primeiro beijo...

A sensação de ter um CD novo nas mãos, colocá-lo no aparelho, e do meu quintal ouvir histórias de um universo que se parece tanto com o meu, me garantiram a gostosa sensação de quem vê o mundo como poesia... O menino que “reza pro tempo parar” antes de apanhar, não é mais o Tonho, sou eu... A nostalgia pelo sabor das comidas simples, guardadas na lata cheia de gordura, sem os fantasmas nutricionais que nos assombram pelos meios de comunicação, torna-se minha... Um frangão caipira é tão mais saboroso que esses que vivem um mês e são servidos até com “creme-dental” por aí...

Nas andanças de Jesus temos a resposta muito bem pensada, pros incessantes serviços das "donas-de-casa" e a inesgotável fonte das pingas pros "pinguços"... Nem Santo Agostinho, nem Lutero, nem Leonardo Boff, só o nosso quintal como filósofo, que inspira a olhar com mais leveza e individualidade, aquelas nobres andanças...

Foi num quintal que começou um namoro que já me rendeu dois lindos filhos...

Eu poderia escrever um livro extenso falando de todos os meus quintais, e meu universo inteiro preso neles, mas quero falar de apenas mais um.

Os quintais do campus universitário onde estudo desde 2004 se tornaram parte de mim... Lá resgatei pelos quintais, através dos violões dos estudantes, as canções do Raul Seixas, que tinha ouvido no meu primeiro quintal... Lá fiz grandes amigos, que hoje são grandes irmãos... Lá, já vi por diversas vezes o pôr-do-sol, de maneira melancólica, mas também vi a lua, cheia da luz que vinha do sol, que eu pensava ter desaparecido de vez, mas estava sempre ali, de algum modo... Vi uma linda estrela cadente, e fiz um pedido... Sou mais feliz depois que a estrela, mesmo atrasada, concedeu minha vontade... Lá transformei texto acadêmico em poesia, transgredindo a história dos grandes... Devolvendo a história, entregue antes a nobres e pobres, a mim mesmo, ao meu quintal... Quando falo do passado, falo de mim... Da mesma maneira que quando ouço o Tonho, ouço a mim também...

As perguntas profundas do início, não precisam dos pensadores, gregos, alemães ou franceses, pois a resposta está logo ali: No nosso quintal... Nosso “Universo Quintal”.

Parabéns Tonho Costa! Terça-feira, 09, a explosão da bomba atômica de Nagasaki, fez aniversário de 66 anos, na Quarta-feira, 10, corri pra ter em mãos seu CD, que caiu como uma bomba, mexendo no meu “universo”, deixando um efeito radioativo de boa inspiração em mim... E Hoje, Quinta-feira, dia 11 de agosto, seu aniversário, tenho a oportunidade de dizer que esse texto acima, embora fale muito de mim, é uma simples homenagem a alguém que desde a dupla de Rock “Óculos Escuro” que fazia com meu pai, se tornou uma influência musical pra mim tão, ou mais especial, que os midiáticos Raul Seixas, a Legião Urbana, Engenheiros, Os Beatles, O Chico Buarque, entre outros... O meu Quintal bem o sabe... Tonho Costa é, no meu Universo, um dos maiores compositores da história...

É pouca hora... E “não sou formiga, sou tocador e a lira que me alforria, no mundo adentro, sertão afora...” Serás sempre bem vindo em minha casa... Se acaso não estiver aqui, é porque aprendi a voar, estarei então perto de onde habitas, afinal “quem tem asas, pra que casa?” Parabéns pelo seu vôo mestre Kaderbeck!!!


O CD do Tonho Costa, Homenageado aqui, está a venda no site Azakyi. Lá tem um "aperitivo" das canções no final da página...


Um comentário:

  1. Muito legal!!! Também vivi muito do que o Tonho canta em suas música... "e o muleque sabia através do belisco discreto que quando a visita se fosse o bicho iria pegar...", quando isso acontecia, eu parava até de brincar, com medo, hahaha

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