Do alto
da cruz, todo lambuzado de um líquido vermelho que não era meu sangue,
Vi um
povo piedoso fingindo acreditar que eu sangrava.
A minha
voz repetia frases repetidas por mais de dois mil anos
em
igrejas, lares, bares e outros teatros como aquele...
Do alto
da cruz eu, muito vivo, fingia morrer!
E as
pessoas que fingiam crer na minha morte,
queriam
me ver vivo novamente.
Então eu,
morto de cansaço,
dolorido
pelos parafusos que agarrei com os dedos na cruz,
ferido
pelas pancadas que levei
quando os
que deveriam fingir me bater me bateram de verdade...
Assim eu,
morto, fingia estar vivo...
Todo de
branco, braços erguidos e uma mensagem de fé e paz...
Todos me
vendo, não me viam!
Alegres
voltavam pra casa pensando ter visto,
mesmo sem
ver, toda a paixão de Cristo...
E se de
devoção não sou assim tão adepto,
ao menos
de paixão eu sou...
E assim,
apaixonado, entregava minha pesquisa,
minhas
escolhas no roteiro,
meus
acréscimos interpretaríeis em uma história clássica...
E com
ajuda de muitos em cena,
o ciclo
por várias vezes se repetiu:
vivo
fingindo estar morto e morto fingindo estar vivo...
Por mais
de três vezes morri!
Nas
mortes, a parte tudo que perdi, sempre eu ressuscitei!
Agora a
minha voz, que antes imitava as palavras de deus,
é ela
própria a voz de um deus...
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