sexta-feira, 3 de abril de 2015

Sexta da Paixão

Do alto da cruz, todo lambuzado de um líquido vermelho que não era meu sangue,
Vi um povo piedoso fingindo acreditar que eu sangrava.
A minha voz repetia frases repetidas por mais de dois mil anos
em igrejas, lares, bares e outros teatros como aquele...
Do alto da cruz eu, muito vivo, fingia morrer!
E as pessoas que fingiam crer na minha morte,
queriam me ver vivo novamente.
Então eu, morto de cansaço,
dolorido pelos parafusos que agarrei com os dedos na cruz,
ferido pelas pancadas que levei
quando os que deveriam fingir me bater me bateram de verdade...
Assim eu, morto, fingia estar vivo...
Todo de branco, braços erguidos e uma mensagem de fé e paz...
Todos me vendo, não me viam!
Alegres voltavam pra casa pensando ter visto,
mesmo sem ver, toda a paixão de Cristo...
E se de devoção não sou assim tão adepto,
ao menos de paixão eu sou...
E assim, apaixonado, entregava minha pesquisa,
minhas escolhas no roteiro,
meus acréscimos interpretaríeis em uma história clássica...
E com ajuda de muitos em cena,
o ciclo por várias vezes se repetiu:
vivo fingindo estar morto e morto fingindo estar vivo...
Por mais de três vezes morri!
Nas mortes, a parte tudo que perdi, sempre eu ressuscitei!
Agora a minha voz, que antes imitava as palavras de deus,

é ela própria a voz de um deus...

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