segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Não Essencial

 (a Daniel Vitor)

 

Nunca escrevi um verso essencial

Pois essa minha natureza de poeta

É inútil, a nada serve e é maioral

Sem servir, há liberdade, nunca meta

 

Interromper um soneto rimado na primeira estrofe

Já́ não é novidade em meus poemas experimentais

Deixar o verso livre e prosear, tal qual Caeiro, é sublime

E é inútil, insisto, e não essencial...

 

Mas por que escrever um poema que não serve para nada?

Serve em si mesmo, por isso é soberano e livre

Traduz a poesia das horas que nunca me abandona,

Me devolve ao vômito de versos de que abdiquei para...

 

Por que mesmo abdiquei de meus poemas?

Não sei...

Para que dedicar os instantes finais de um domingo,

Em meio a uma pandemia, para traduzir-me em poema?

 

Estou aqui tecendo esses versos soltos por causa de um amigo

Que me lembrou que sou poeta, como um enfermo dos olhos

Que teima em ver o mundo/poesia sabendo-se inútil e não essencial,

Tendo nessas premissas a justificativa de todo o seu universo

 

Este poema inútil e não essencial se encerra

Tornando à rima como volta a primavera

Olhando versos meus em outra terra

Novos agora após longa espera.

Nenhum comentário:

Postar um comentário