Nem
sei há quanto tempo tenho este hábito, mas basta sair da região de chão
vermelho e chegar a outra cidade para sentir a urgência em entrar num
supermercado e checar um item especifico: erva mate. Tostado não me interessa, procuro
o chimarrão. Minha memória mais profunda desta busca remete a Bauru-SP. Embora
relativamente perto, só havia uma opção de erva. Justamente a pior de
todas, a mais barata e ruim que se já provei. Uma Erva produzida no Paraná, mas
que leva o nome de adjetivo gentílico de outro estado... Uma bosta (será que é
mesmo? De cavalo ou boi?). Naquela ocasião, preferi tomar chá tostado do que
comprar aquela erva.
Tudo
bem que em Londrina não há aquele arsenal de opções, mas a variedade é boa. Se
não dá para dizer que é um hábito comum aos londrinenses (como quase nada é
nesta cidade cosmopolita), também não dá pra negar que há uma boa procura. Não
é incomum encontrar as gondolas vazias ou reviradas. Procura que me parece ser
proporcional a procura pelo terere. Sendo gelado ou quente, a erva mate com água, dentro de um recipiente, sorvido por uma bomba, não é uma cena rara de se
ver.
Um
panorama bem diferente do Rio de Janeiro, onde ouvi na praia gritos
efusivos: “OLHA O MATE, OLHA O MATE, OLHA O MATXIIIIEEE”. Os gritos que me
levaram a esperança de matear à beira-mar, próximo das ruas por onde outrora
caminhava Machado de Assis, levaram a uma decepção. Era chá mate de erva
tostada (gelado). Em Curitiba não encontrei ervas muito diferentes das que encontro
aqui, mas em Santa Catarina sim. Primeiro experimentei uma erva catarinense que
se tornou minha preferida. Já pedi para um amigo que foi para o litoral de lá
“traficar” esta erva pra mim. Também já fui pessoalmente buscá-la. Hoje em dia
essa erva é vendida em uma das redes de supermercado daqui...
De
volta ao litoral catarinense, viajei com cuia e bomba, mas sem erva. Queria provar
outras marcas. No supermercado, fiquei lendo os rótulos para saber a origem de
cada uma das marcas. Desta vez estava decidido a encontrar uma erva produzida
no estado que tem um ramo de erva-mate na bandeira, o nosso. Achei uma, de General
Carneiro: Paraíso. Embalagem simples, diferente daquelas brilhosas metálicas à
vácuo. Peguei um pacote. No caixa, o rapaz que atendia pegou a erva, olhou por alguns
instantes e pareceu ter um leve devaneio. Então disse:
—
Muito boa essa erva!
—
Ah, é? Essa não tem na minha cidade, estou levando para experimentar.
—
Essa é de lá da minha terra!
—
General Carneiro?
—
Não, sou de União da Vitória, bem perto!
—
Legal! Tenho um amigo de lá, fez mestrado comigo em Londrina.
—
Qual o nome dele?
—
Carlos Almir Matias.
—
Não conheço...
—
Mas a erva é boa mesmo?
—
Muito boa! Região da erva-mate no Paraná!
—
Aqui em Santa Catarina são famosas as ervas de Canoinhas, certo?
—
Sim! É no caminho: Tu pega a estrada aqui, passa por Jaraguá, Rio Negrinho aí é
Canoinhas. Depois tu passa em Porto União e chega no Paraná, em União da Vitória, que é
colado.
Ele
fez todo o gestual de quem ensina o caminho para alguém que está perdido e
querendo chegar até o local em questão. Não era o caso! Naquele momento,
bastava saborear a erva Paraíso em frente ao mar. Agradeci o papo e as
indicações do caixa/guia-turístico paranaense e voltei caminhando na direção
oposta ao interior produtor de mate. Preparei a erva, peguei a cadeira de praia
e fui saborear o paraíso e a brisa fresca do alto Outono. Não sei ensinar a
ninguém caminhos que levem a um paraíso, mas naquele momento, mateando com
filhos e amigos em frente ao oceano atlântico, senti estar no melhor lugar de
todo o universo. E assim, com este endosso cósmico, posso recomendar: a
erva-mate Paraíso, produzida no sul do Paraná, é realmente muito boa! Mas qualquer
erva de qualidade serviria para aquecer o coração, no Outono quente e
movimentado aqui do Sul do Mundo, ou na Primavera gelada do Reino
Unido, onde minha conterrânea Cinthia está a matear e a falar do nosso “chá” para
os gringos neste momento...
Antes
de voltar pra Londrina, voltei ao supermercado e comprei mais pacotes da erva...
Sem maiores problemas de tráfego na Rodovia do Café, cheguei à "cidade do café" (que vende nos supermercados cafés mineiros e paulistas) com meu estoque de
erva-mate abastecido.
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