Imagine que um líder comunitário (um
sacerdote de alguma religião) se compadeça de uma família pobre que passava e,
atrasado para os seus compromissos, deixa dinheiro com um jovem membro da
comunidade pedindo a ele que vá até uma pizzaria para comprar-lhes uma pizza
grande. O jovem pega o dinheiro e vai. Ao retirar a pizza no balcão, o cheiro
está maravilhoso. Então ele, que passou o dia todo em serviços voluntários,
pensa que não seria errado comer um pedaço da pizza. Abre a embalagem e devora
o pedaço com gosto. No caminho, pensa que a mãe, o pai e a irmã mais nova
tinham que provar daquela pizza. Então ele desvia o caminho, passa em sua casa
e tira três pedaços da embalagem de pizza. Pensa melhor e resolve que comerá
mais um. São cinco os pedaços subtraídos da pizza destinada à família pobre,
formada pelo casal e duas crianças. Ele pensa que, para quem está com fome, um
pedaço de pizza para cada adulto e meio pedaço para cada criança é mais do que
justo. Ainda mais assim, de graça, inesperado...
O jovem entrega a embalagem com os três pedaços de pizza e a família, alheia à missão confiada por outrem ao jovem, agradece-o efusivamente. Ele sai satisfeito com a gratidão da família e, ao virar-se, vê os pais dando um pedaço para cada criança e, cada qual abrindo mão de seu pedaço em prol do outro. Ele não espera o desfecho e sai apressado sem querer pensar na cena que viu...
Eu, autor, bem que poderia dar um desfecho trágico a este canalha! Pensei em narrar sua ida até em casa e, percebendo que ninguém notara os pedaços de pizza, comeria tudo sozinho e morreria engasgado! Poderia dar um desfecho moral, fazendo sua consciência de culpa aflorar até fazer ele enlouquecer ou, melhor, reparar seu ato prestando alguma caridade ainda maior que a do sacerdote àquela família. Poderia também dar um desfecho de indiferença, comum aos espíritos mais canalhas que vagam por aí... Não darei desfecho nenhum! Aliás, tu tens minha autorização para fazer o que bem entender deste personagem abusador!
O jovem entrega a embalagem com os três pedaços de pizza e a família, alheia à missão confiada por outrem ao jovem, agradece-o efusivamente. Ele sai satisfeito com a gratidão da família e, ao virar-se, vê os pais dando um pedaço para cada criança e, cada qual abrindo mão de seu pedaço em prol do outro. Ele não espera o desfecho e sai apressado sem querer pensar na cena que viu...
Eu, autor, bem que poderia dar um desfecho trágico a este canalha! Pensei em narrar sua ida até em casa e, percebendo que ninguém notara os pedaços de pizza, comeria tudo sozinho e morreria engasgado! Poderia dar um desfecho moral, fazendo sua consciência de culpa aflorar até fazer ele enlouquecer ou, melhor, reparar seu ato prestando alguma caridade ainda maior que a do sacerdote àquela família. Poderia também dar um desfecho de indiferença, comum aos espíritos mais canalhas que vagam por aí... Não darei desfecho nenhum! Aliás, tu tens minha autorização para fazer o que bem entender deste personagem abusador!
De minha parte, o interesse é apenas relatar uma
situação de abuso! O jovem abusou da boa vontade e da confiança do sacerdote.
Abusou da tutela do dinheiro alheio e descumpriu a missão que lhe fora
delegada. Contou com a ignorância dos destinatários da benfeitoria e a sensação
de impunidade pela tomada de sua decisão. Assim agem os abusadores. Logo que se
deparam com uma situação de poder e de controle dos eventos, vão além daquilo
que era necessário e cometem um abuso.
Se os praticantes de abusos se sentem culpados ou
não; se estão condenados ou praticando ouros abusos; se tiram alguma lição
que cesse ou aumente sua tendência à esta prática, não sei. O que sei é que as
ações abusivas andam à solta por aí. E nem os maiores canalhas abusadores estão
imunes à onda de gestos abusivos! Tomas Hobbes sorri no túmulo! Sua voz se faz
ecoar séculos depois com ainda mais nitidez e gravidade: “O Homem é o Lobo do
Homem”.
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