segunda-feira, 9 de abril de 2012

Conceitos de Segunda #10

Amor...

Palavra que apesar de muito “gasta”, (sobretudo pela musica de massa que é consumida no Brasil), não deixa de ter seu valor incomensurável como conceito que melhor exprime o sentimento que une seres humanos, conferindo a estes alegrias, forças e sentido para viver e “amar” a sua condição de vivente.

Muito se fala na “semana santa” a respeito do amor incondicional de Jesus pelos seus. Um amor capaz de morrer e até superar a morte em favor dos homens. O cristianismo apropriou-se do conceito grego do amor “ágape” para definir o amor de Cristo.

Não pretendo iniciar uma discussão teológica ou etimológica aqui, mas ouvir tanto nessa semana sobre o amor incondicional de Jesus, me fez pensar também nos outros dois conceitos gregos para categorizar o amor: Eros e Philos.

Grosso modo podemos dizer (sem platonismos) que o Amor Eros está relacionado a atração que estimula a aproximação irresistível de duas pessoas apaixonadas uma pela outra. Eros é a energia química que despe os corpos numa entrega mutua, numa união empírica incontestável. Platão tentou conceituar e “redimir” Eros, retirando deste a sensualidade. Se liga seu Platão, somos todos (ou quase, pois hoje há inseminações artificiais) filhos de Eros. Entramos na corrida pela vida com milhões de outros espermatozoides após uma junção humana de inspiração “Erótica”.

Depois de Platão, veio o cristianismo (platonismo para o povo, segundo Nietzsche) atribuir ao Amor Eros uma natureza fugaz, pouco racional e às vezes algo a se ter vergonha. É um “pecado original”, que apesar de necessário à nossa existência, merece culpa e pedido de perdão à Deus. Desde a catequese (formação católica que tive), acho isso muito estranho e contraditório. Que seja! Não podemos compreender tudo, e isso nem é tão importante. “Descobrir o verdadeiro sentido das coisas, é querer saber demais...” (O Teatro Mágico).

Assim acredita-se que o Amor Philos, relacionado ao sentimento fraternal, de amizade sincera, ou ao sentimento entre pais e filhos... É muito mais nobre, por ser desapaixonado, racional, constante... Não quero fazer comparações valorativas, mas embora eu entenda a beleza e importância fundamental do Amor Philos, não consigo concordar que seja menor, ou menos importante que Eros.

É comum atribuir a Philos o sentimento que permanece em um par de amantes quando inevitavelmente a paixão acaba. Eros com toda a sua força de atração, junta duas pessoas, mas logo passa e deixa Philos, menos intenso, porem mais duradouro e sensato em seu lugar. Não vivi uma experiência de amor nesta ordem. Pra mim Eros foi um resultado de Philos, e não o contrário. Não estou insinuando que este seja o caminho correto, ou ideal, mas pra mim foi extremamente proveitoso fazer o caminho inverso ao convencional. “O que eu como a prato pleno, bem pode ser o seu veneno. Mas como vai você saber sem tentar?” (Raul Seixas).

Ágape é ainda mais nobre que Philos no ponto de vista cristão. Amor divino que devora tudo ao seu redor e tem sua felicidade na felicidade (salvação) daquele(s) que ama. Pra muitos esse é um amor reservado somente a Deus (ou aos deuses). Nenhum ser humano poderia alcançar tal sentimento. Mas também não é dito que somos semelhantes ao criador? Poruqe não poderiamos repetir a forma do amor a imagem e semelhança deste criador?

Os três conceitos gregos do amor parecem estar distantes um do outro. Ao criar estas categorias para o amor, criou-se uma divisão onde cada um destes é sentido separadamente, e não podem estar juntos. De minha parte, acredito que mesmo amando-a em Eros, não deixei em nenhum momento de amá-la Philos também. Sentimento pra poucos. Sinto-me privilegiado por isso. Claro que não posso provar o que digo. Nem sei se conceitos são realmente úteis pra falar de sentimentos indescritíveis. Será possível deixar algum rastro do que se sente, ou do que se pretende dizer com um “Eu te Amo”? Só sei que sinto algo. Os conceitos me dão uma ideia que parece se afinar, de certo modo, ao que acontece aqui dentro de mim.

Não seria sensato dizer que é possível amar Ágape, Philos e Eros a um só tempo. E se alguém ousar dizer ou imaginar sentir isso poderá ser taxado de louco. Se algum ser humano algum dia chegou nessa plenitude (reconciliando os amores outrora sepárados), certamente não nos diria, afinal, a este, nada mais além do amor importa... Ganhou asas, se desmaterializou e tornou-se um “espírito livre”. Eternizou-se, igualou-se aos deuses e prendeu-se eternamente naquele instante onde encontrou a perfeição...

Será este o sentimento que prendeu (prende) Jesus por séculos naquela cruz centralizada acima dos altares das igrejas? Teria o personagem central de nossa cultura extrapolado o Amor Ágape que lhe cabia? Será esse o sentimento que nos leva a repetir, ler encenar aquele gesto a cada sexta-feira da Paixão? ...paixão... Isso seria uma blasfêmia, a menos que entendamos Eros a maneira platônica. É isso! A Paixão de Cristo deve conter em si além de Ágape e Philos, o Eros “puro”, livre da sensualidade...

Será?

Beijo na bunda (com Eros platônico, claro) e até segunda!

Eu (e meu irmão ao fundo) encenando a Paixão de Cristo em 2008.


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