segunda-feira, 2 de abril de 2012

Conceitos de Segunda #09

Ela era bonita?

Me perguntou a pouco a garota que sofre comigo momentos muito difíceis nos últimos meses...

Sim! Muito mais que isso! Ela era linda! Mais ainda, ela era minha amiga... Há exatos nove anos fui até a casa dela em torno das 15 hs. Depois de conversar por um tempo, com uma cumplicidade que tínhamos descoberto ainda no ultimo ano do século passado, ela me provocou. Deitou-se no meu colo, na área dos fundos da casa dela, e disse que estava com sono. Perguntou então o que eu iria fazer pra mantê-la acordada... Disse com os olhos fixos nos seus lábios entreabertos que não sabia... O sorriso largo e os olhos verdes que me traziam aquele olhar encantador estavam fechados. Eu sabia o que deveria fazer...

No dia anterior o papo aconteceu no meu quintal. Ela já tinha me recusado um beijo antes por alegar que nossos corações estavam desafinados um com o outro. Depois do “fora”, e de toda a minha frustração com aquilo tudo, ela voltou. Agora parecia evidente o som harmonioso que parecia se desenhar em cada vez que nos encontrávamos.

Meu tio Milton, vendo a gente ali pertinho um do outro, sem que ela percebesse, me fazia gestos pra que eu a beijasse. Pensava mesmo em tentar beija-la ali, mas lembrei num estalo que era dia primeiro de abril. Eu nunca “fiquei” com ninguém, como era comum aos de minha idade na época. Se eu a beijasse, seria pra começar a namorar (sou um cara das antigas). Achei que não era legal comemorar um namoro começado no "dia da mentira".

Voltando ao dia 2/4/2003, eu realmente sabia o que fazer. Eu e ela esperávamos o mágico toque dos lábios, que eu já tinha “sentido” num sonho incrível. Demorei pra beijá-la, pois estava “traumatizado” ainda com a sua recusa inicial. Afinal eu poderia estar enganado quanto a vontade que ela agora demonstrava. E se eu a beijasse e ela virasse um tapa na minha cara? Seria muito pior... Olhei então pra ela de olhos fechados, boca entreaberta e lábios projetados em minha direção e conclui que havia reciprocidade. Aproximei-me devagar e...

Não vou correr o risco de descrever aquele primeiro beijo com palavras. Se isso fosse realmente possível, poderíamos trocar beijos apaixonados por palavras sempre que quiséssemos. Definitivamente acho que não dá pra fazer isso. Só quem vive um beijo apaixonado, pode saber da sensação e da importância do mesmo. Posso dizer que ali a nossa amizade ganhou novos contornos, trouxe novos sentimentos pra se juntar aos que já haviam antes nos aproximado. Sentimentos que podem mudar e até construir vidas...

Construímos juntos duas novas vidas pra este mundo. Ambos nasceram no dia 31/03, um em 2006 e a outra em 2011. Entre as datas do aniversário de nossos filhos e o aniversário do início do nosso namoro está o dia da mentira. Em meio a tantas aflições e tristezas, a mentira parece não ser mais algo tão nocivo... Zaratustra falou assim “...admitamos que alguém tenha dito, com toda a sinceridade, que os poetas mentem demais: ele tem razão – nós mentimos demais...” (NIETZSCHE, 1998, pg. 159). Essa poesia, que minta todas as nossas aflições pode segurar vivas as nossas forças pra encarar os desafios que a vida nos apresenta e vencê-los. Colocar a “mentira” da arte (se opondo a fragilidade da verdade calculista) entre datas importantes conferem a poesia que essa trilogia de dias merece... Hoje é o dia que fecha a trilogia...

Nesses nove anos vivemos momentos de intensa felicidade. Tivemos problemas, discussões, momentos difíceis também. Mas nada que apague tudo o que aconteceu até hoje. A turbulência que começou com os problemas que a Clara teve ao nascer, retornou forte com o problema de saúde que quase nos tirou o Luiz Miguel em dezembro ultimo.

Nova fase pra essa nossa amizade: Manter o foco e a prioridade na luta pela sobrevivência de um, dos dois maiores tesouros produzidos por nosso amor. Não é fácil... Não sei que efeitos essa situação produzirá no futuro. Tirando o imenso desejo de que o Luiz Miguel e a Clara tenham a oportunidade de crescer, envelhecer, viver... pouco importa o resto. Um dia de cada vez... De choros a sorrisos, de tristezas a alegrias, vamos vivendo cada momento, cada dia...

Não sei o que será de nós amanhã, só sei que tudo o que passou até hoje, me deixa muito orgulhoso. Nada me inspira arrependimento, e se me fosse possível, viveria tudo de novo e de novo e de novo... “Nada vai conseguir mudar o que ficou...” (Renato Russo)

Posso não ter certeza de quase nada, mas ao menos é certo que Te Amo Ligia!



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