segunda-feira, 16 de abril de 2012

Conceitos de Segunda #11

Entre todas as ações estúpidas que praticamos a sombra de nossa “cultura”, nada me parece mais ridículo do que o consumismo. Campanhas publicitárias vivem buscando um meio de fazer com que creiamos ser necessário algo inútil. “mira a laiser, miragem de consumo, latas e litros de paz teleguiada” (Humberto Gessinger).

No caso das datas comemorativas nem é necessário o apelo. Como pode um chocolate em formato oval, oco por dentro, com o mesmo peso de uma barra de chocolates (do mesmo chocolate) custar 500% a mais? Ah, mas o ovo é um dos símbolos da vida... bla, bla, bla... Vida bizarra essa: Ovos de chocolate chocados por um mamífero... Ah, o coelho simboliza fertilidade... bla... bla... bla... As pessoas estão “cagando” pra essa simbologia. O que importa a todos é que é assim que funciona! Páscoa é momento de pagar caro por um monte de papel com um pouco de chocolate dentro, e às vezes um brinquedinho pras crianças. Quem me conhece, sabe que meu pai trabalha com produção de chocolates em Bauru, e que com ele e sua esposa aprendi a produzir também trufas e ovos de páscoa artesanais. Não quero parecer hipócrita. Nas pascoas anteriores, tirei vantagem dessa mentalidade (embora sem os preços abusivos do mercado), e se preciso fosse tiraria novamente. Mas minha opinião pessoal permanece. Acho tudo isso ridículo.

Trabalhar num supermercado na adolescência, e ter acesso aos preços de custo, e de venda de todas as mercadorias, me fizeram aprender muita coisa. Existem coisas, como bebidas alcoólicas, que possuem muitos impostos. Sob o pretexto de desestimular o vício, o governo enche os bolsos em cima dos cachaceiros. Quem paga 20 reais em uma garrafa de vodca, leva pra casa um produto que custou cerca de 4 reais. Esse valor já tem embutido o lucro do fabricante, que deve ter gastado uns 2 reais pra produzir a bebida e engarrafa-la. Até entendo um pouco esse argumento dos impostos nas bebidas. Mas e nos instrumentos musicais? Querem difundir cultura pelo país, mas só os que foram educados pela erudição da “bosta nova” podem tocar violão?

Putz... já viajei na onda dos impostos... Deixa isso pra lá. Ontem ganhei um ovo de páscoa e uma colomba (panetone inventado em outro formato) de minha mãe. Ele trabalha em uma das “Lojas Americanas”, e pagou na colomba um terço do valor que ela possuía na semana anterior, e um real no ovo que antes custava 15. Liquidação? Valor abaixo do custo? Acho que não! Quando algo estava pra vencer onde eu trabalhava, nós colocávamos no preço de custo, que era sempre quase (ou mais que) a metade do valor habitual. As pessoas compravam rapidinho e sem pensar muito. Provavelmente é depois da data festiva que os Panetones, Ovos de pascoa e afins assumem seu preço justo. Eles nunca perdem... O ovo vendido a 1 real, provavelmente foi comprado por este preço (ou até menos) pela loja...

Minha mãe, quase sempre sem grana, me ensinou, às vezes, a esperar a páscoa passar pra que eu pudesse ganhar meu Laka de cada ano. Se sobrassem ovos quebrados, ficavam ainda mais baratos e eu nem ligava... Assim eu comia mais chocolates. Esse ano fui na loja vê-la, antes da páscoa, e ela me perguntou qual ovo eu queria ganhar. Lembrei que uma vez presenteei alguém com 10 barras de chocolate (1kg), e escrevi no cartão que minha amizade não era oca por dentro, e nem feita de aparências (papéis enfeitados) por fora... Era simples, porém maciça, plural (vários tipos de chocolate) e bem mais duradoura.

Assim, após essa lembrança, apontei pra ela o ovo que misturava os meus preferidos: Branco e meio-amargo. Mas disse a ela que com a grana que ela gastaria no ovo, ela poderia me comprar várias barras. Assim ela fez... Uma cestinha com as barras que eu queria e mais alguns bombons.

Não levo minha opinião às ultimas consequências, de modo a deixar o Luiz Miguel (e futuramente a Clara) com vontade das coisas que todas as outras crianças ganham. Ele ganhou seus ovos, e imaginou o coelhinho, que até carta deixou pra ele esse ano com as tradicionais pegadas azuis. Ele vive a magia do momento... Nem precisa de muito. O chocolate (um deles, azul e branco, que eu mesmo fiz), ele nem comeu. Mas o sorriso se desenhou largo e bonito. Não quero formata-lo com a minha maneira de ver as coisas. Só quero que ele entenda meus valores, pra poder criar os dele.

Aqui em casa já é uma tradição comer os meus panetones preferidos em janeiro, quando eles deixam de custar 15 pra custar 5 reais. Tradição também é ver o Luiz Miguel, que não gosta de panetone, sorrir ao ver a caixa que logo se transformará em um capacete de soldado.

Segunda-feira que vem vamos pra Curitiba pra que o Luiz Miguel faça a primeira consulta no Hospital das Clinicas da UFPR, onde ele fará o tratamento pra Anemia de Fanconi. Se tudo der certo, deixo o próximo texto nas primeiras horas da próxima segunda...

Um beijo do soldadinho do panetone:

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