quarta-feira, 11 de julho de 2012

Véspera

Ontem, véspera de hoje, levei meu filho pra espiar pela primeira vez o momento exato em que a luz inaugura um novo dia.
O céu avermelhado, às vésperas do sol, trazia muitas nuvens granuladas, formando o aspecto de escamas.
Estacionei o carro diante da figura da morte, que trajando o azul celeste do nosso time de futebol, trazia a foice em punho, sem assustar...
A presença da morte na parede do estádio, diante do horizonte leste, para além do terminal rodoviário abaixo, é antes uma aliada, que ajuda a melhor aproveitar todos estes instantes únicos que possuímos às vésperas da chegada dela...
O garoto já tinha observado o dia se deitando melancólico no horizonte oeste em um outro ponto da cidade meses antes.
Melancolia é um preconceito meu, pois ao ver o sol apontando timidamente no horizonte, e ganhando força aos poucos, ele me disse que era tão legal quanto o poente.
Antes do sol surgir, contudo, a véspera era só incerteza... Seria legal pra ele? O momento que pra mim é a mais pura representação de beleza arrancou-lhe enfim um sorriso alegre.
Assim ficou marcada a fantástica véspera de hoje. Mas hoje é véspera do aniversário de um ano do "Trágica Mente Falando"...
Incerteza...
Não me lembro se eu pretendia ser poeta, filósofo, músico, cronista, historiador, comentador referenciado... (Existe isso?)
Fui tudo isso, e mais um pouco. Não posso atestar a qualidade dos meus escritos, mas ao menos experimentei, e muita diversidade aconteceu...
Entre poemas trágicos e futebol, rolou de tudo um pouco aqui...
Meu escarnio secreto, de onde tiro vantagem de ser um pesquisador pós-moderno de ofício, é poder ser até positivista, quando me é necessário...
Longe de mim ser incoerente!
Se é pra ser algo, que seja o indivíduo de Heráclito, que passa junto com o rio... A metamorfose ambulante raulseana que morre todos os dias de si e para si.
Sem luto, pois enquanto houver ar entrando pelas narinas, somos apenas organismos raríssimos, vivendo este milagre às vésperas da morte...
...incerteza...
Completar um ano de Blog com um novo texto? Ou nem sobreviver pra ver o sol nascer novamente e ficar por aqui nesta véspera?
Comemorar nostalgicamente todo um longo ciclo de 52 semanas ou projetar novas semanas intercalando silêncio e agitação?
Só incerteza.
Por hora é certo que, também o aniversário do blog amanhã, será uma véspera. A véspera do instituído (pra mim é todo dia) dia mundial do Rock...
Talvez esta véspera seja apenas o número um da trilogia de uma tragédia rock.
As duas ultimas palavras do verso à véspera deste, são tão confusas e passíveis de tantas interpretações, que prefiro não entrar no mérito delas.
Fiquemos com a beleza trágica pós-moderna da incerteza... Tão linda quanto os polos solares do início e do final do dia...
Nesta véspera do ultimo verso, agradeço de antemão as mais de 3100 visualizações que o blog teve neste período. Eu realmente não esperava esta média de 260 visualizações por mês.
A véspera de um momento importante é o melhor momento pra projetar um momento de recordação, mas sem nostalgia - Um momento da morte aliada (como a da falange azul) que nos renova a vida enquanto estamos nesta eterna véspera...

A vida é uma viagem, bebida sem gelo, engolida às pressas, às vésperas da sede.” (Engenheiros do Hawaii – Curta Metragem)
Luiz Miguel e o Pôr-do-Sol

Um comentário:

  1. Santa inspiração, Jeff! De Heráclito a Raul, passando pelo honorável Luiz Miguel! Parabéns!

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