Quais são os ingredientes para uma tarde
recheada de alegria?
Ontem, depois de um churrasco agradável
com velhos amigos, veio a ideia de irmos até a praça que fica na cabeceira da
pista do aeroporto. Estacionamos os carros em uma sombra na grama, jogamos a
toalha e colocamos as guloseimas e bebidas... Poucos minutos passados aterrissou um avião dos grandes na pista. O pássaro metálico passa pouquíssimos metros acima de nós pra chegar na pista logo a frente. O Luiz Miguel, a criança no nosso meio, já ficou feliz
instantaneamente... Claro, ele é criança e se impressiona com aviões. Nós - marmanjos - jamais pularíamos, ou acenaríamos pra aeronave, Certo?
Errado! Ficávamos todos
alegres a cada avião que chegava. Depois subimos num banco da praça (um doido subiu numa árvore) bem em
frente ao local onde o avião faz a curva pra ligar as turbinas e pegar
velocidade pro voo... O som aumenta, o avião entra em movimento e é possível
ver a grama no barranco próximo a pista se agitar. Logo a força do vento
agitado pelas turbinas chega até nós... Fantástico... Quando eu nasci, meus pais moravam ali no jardim Califórnia. Passei minha infância por
ali, nos arredores do aeroporto de Londrina. Assim, a cada avião que pousava, pude sentir os sabores sentidos na minha infância novamente.
-Tchau avião!
Era o que eu e meu irmão dizíamos entre pulos e acenos do quintal da casa em
que morávamos. Foi a frase que repeti ontem mais de vinte anos depois... De casa víamos e ouvíamos os aviões que pareciam quase se chocar com as casas a cada pouso, além de sempre provocar protestos dos mais velhos que assistiam o programa Silvio Santos aos domingos.
Não desprezo grandes eventos (como o
Show do Paul McCartney que assisti em 2010 em São Paulo) como fonte pra sentir
alegria. Mas devo admitir que, de coisas pequenas e simples, pode-se tirar grandiosos proveitos.
Mas o nosso domingo ia se acabando aos poucos. Apesar da incurável melancolia do Pôr-do-sol, lembrei que é possível amar, tal qual o Pequeno Príncipe, este momento mágico do dia.
A Lígia e o por-do-sol.
O sol foi timidamente se escondendo no seu horizonte, pintando pouco a pouco a noite no céu. O passar do tempo não tira a alegria vivida naquela tarde junto com pessoas que, além dos avós, tios e alguns outros poucos amigos, estiveram presentes na vida do Luiz Miguel nos momentos em que ele e nós mais precisamos.
Estas pessoas conseguiram driblar todo o
grave problema de saúde do menino e fazer deste o mais legal dos anos de sua frágil vida. Se o Luiz Miguel não está na foto abaixo é porque ele, com seus olhinhos alegres, fotografou
as pessoas que fazem parte do mágico mundo em que ele vive.
Fotógrafo Luiz Miguel em ação
Estas pessoas conferem a ele um tesouro que nem todas as pessoas saudáveis tem... O tesouro
da amizade, de quem se coloca a disposição sempre que é preciso, abrindo mão de suas preocupações afim de empenhar tempo e criatividade para vê-lo sorrir...
No fim daquela mesma noite, antes de dormir, a mágica tarde não pode escapar da memória do pequeno:
-Pai, desenha um avião pra mim?
Não lembra algum trecho do Pequeno
Príncipe? Por sorte não precisei desenhar uma caixa pra ele ver um avião lá
dentro... Desenhar um avião é muito complexo! Com a ajuda do “google imagens” e da impressora, fez-se o avião pra
ele pintar:
Ele ainda não terminou, mas antes de dormir fez esta "baianada". hahaha.
Os rabiscos são por conta da Clara, mas ele disse que não tem problema...
"[...]
- Ah! disse eu ao principezinho, são bem
bonitas as tuas lembranças, mas eu não consertei ainda meu avião, não tenho
mais nada para beber, e eu seria feliz, também, se pudesse ir caminhando
passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte! [...]
- O que torna belo o deserto, disse o
principezinho, é que ele esconde um poço nalgum lugar. [...]
- Tenho sede dessa água, disse o
principezinho. Dá-me de beber ...
E eu compreendi o que ele havia buscado!
Levantei-lhe o balde até a boca. Ele
bebeu, de olhos fechados. Era doce como uma festa. Essa água era muito mais que
um alimento. Nascera da caminhada sob as estrelas, do canto da roldana, do
esforço do meu braço. Era boa para o coração, como um presente. [...]
- Os homens do teu planeta, disse o
principezinho, cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim... e não encontram o
que procuram ...
- Não encontram, respondi...
E no entanto o que eles buscam poderia
ser achado numa só rosa, ou num pouquinho d'água..." (Antoine de Saint-Exupéry - O Pequeno Príncipe)